Quase 2.000 cidadãos de toda a Região de Aveiro participaram num projeto de investigação da UE que identificou um conjunto de medidas políticas que os cidadãos apoiariam para reduzir a poluição do ar e as emissões de carbono, nas suas cidades e região.
Este projeto realizou-se ao longo de quatro anos, envolvendo a organização de vários workshops, a participação em vários encontros, o lançamento de um concurso de vídeos online, um jogo para dispositivos móveis e a realização de atividades nas escolas, para ouvir o maior número possível de cidadãos da Região de Aveiro.
A equipa de investigação envolvida no projeto descobriu que as medidas políticas favoritas dos cidadãos eram maioritariamente relacionadas com os meios de transporte.
Melhorar as infraestruturas de ciclovias, aumentar o uso de transporte público para o trabalho e para a escola e aumentar os passeios para peões, foram as três principais medidas.
As dez principais propostas foram ratificadas pelos decisores políticos regionais antes de o ClairCity as trabalhar e analisar os seus impactos no ambiente da região e na saúde dos seus cidadãos.
Os resultados são tidos como surpreendentes.
Estimou-se que o número de mortes prematuras pela exposição ao poluente atmosférico NO2 seria reduzido em 100%, em comparação com a manutenção da situação atual, e uma redução de 7% e 3% nas mortes prematuras por PM10 e PM2,5, respetivamente.
Identificou-se também que, depois das indústrias, o transporte rodoviário é a principal fonte de PM2,5 na Região de Aveiro.
A poluição do ar e as emissões de carbono afetam todas as cidades e regiões da Europa, e a Região de Aveiro não é exceção.
Quase metade da Região está exposta a concentrações de PM2,5 acima das recomendações da Organização Mundial da Saúde e as emissões de dióxido de carbono (CO2), um importante gás com efeito de estufa, aumentaram.
Para o CO2, não há requisitos legais ao nível local e, ao contrário de outras cidades do ClairCity, na Região de Aveiro não há nenhuma meta formal de neutralidade carbónica.
Os investigadores reconhecem que todos os municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) assinaram a iniciativa Mayors Adapt e alguns estão a participar nas ações de Clima e Energia do Pacto dos Autarcas.
Estas iniciativas contribuem para a meta de redução de 40% nas emissões de gases com efeito de estufa, até 2030.
Existem planos em curso para melhorar os transportes (por exemplo, reduzir os preços das viagens e as emissões dos transportes públicos, proibir a circulação de carros antigos a diesel e de veículos pesados nas áreas urbanas, etc.), no entanto, parece improvável que essas medidas permitam alcançar a mudança modal prevista, quer pelos cidadãos, quer pelos decisores políticos.
Em particular, faltam medidas para tornar o uso do carro particular menos atraente.
“É evidente para a investigação que os cidadãos pedem que a Região de Aveiro reduza a sua dependência no uso de carros particulares.”
Atualmente, a maioria dos cidadãos inquiridos usa "sempre" o carro para ir para o trabalho (65%), para ir às compras (67%), e para deslocações em lazer (44%).
Isso significa que, para além de mudanças políticas ambiciosas e de implementação rápida, os cidadãos precisarão de mudar os seus hábitos e cultura, usando mais o transporte público, bicicletas ou deslocarem-se a pé.
No futuro, espera-se que haja uma enorme procura do transporte público e da mobilidade ativa.
Os inquiridos que usam atualmente o carro particular nas suas deslocações vêem-se no futuro a escolher transportes públicos e mobilidade ativa nas suas viagens para o trabalho (75%), compras (56%) e lazer (68%).
As principais barreiras à mudança de comportamento prendem-se com o fraco desenvolvimento de ciclovias urbanas e a marcada conveniência do carro em comparação com o transporte público existente.
A rede, a frequência e os tempos de viagem dos transportes públicos são considerados bastante deficientes. Além disso, o estacionamento é fácil e geralmente gratuito.
Embora a combustão residencial seja uma das principais fontes de poluição do ar, os cidadãos não a entendem como tal, por isso, não foram adotadas medidas para enfrentar este setor crucial.
Apesar disso, há uma importante procura por fontes renováveis para aquecer as casas no futuro.
Cerca de 5% dos participantes já utilizam atualmente fontes renováveis; e no futuro, 52% dos inquiridos querem usá-las.
Atualmente, o custo é a principal barreira para adotar uma opção de aquecimento mais ecológica.
No entanto, existe alguma confusão entre os cidadãos sobre o que é "mais verde": alguns preferem a utilização das lareiras com queima de madeira ou pellets, pois consideram esta uma fonte de calor renovável. Esta forma de aquecimento é, na verdade, uma fonte significativa de poluição do ar.
O projeto ClairCity defende que é necessário intensificar a cooperação com empresas e instituições públicas para minimizar o uso de carros; melhorar o transporte público e as infraestruturas de mobilidade; melhorar a eficiência energética dos edifícios e aumentar a conscientização sobre os problemas de poluição atmosférica de uma forma mais ampla, destacando os impactos da queima de biomassa, promovendo alternativas ao carro particular e ao aquecimento doméstico, e integrando a qualidade do ar na educação das crianças.
“As cidades da Europa estão a comprometer-se com um futuro sem carbono e a saúde dos cidadãos, e o planeta beneficiaria também de uma estratégia para a Região de Aveiro”. A chave para isso, explica o ClairCity, é o envolvimento dos cidadãos nos processos de tomada de decisão.