Sónia Cruz e Paulo Cartaxana, do CESAM e do Departamento de Biologia da UA, e Jorge Marques da Silva, da Universidade de Lisboa, avançam com "importantes conclusões" acerca do peculiar metabolismo do carbono em diatomáceas bênticas. Os investigadores concluem que a disponibilidade de carbono nestas microalgas limita a sua fotossíntese, apesar destas conterem mecanismos que aumentam a concentração de carbono numa enzima chave da atividade fotossintética, e determina complexos comportamentos migratórios verticais destas células.
As diatomáceas são microalgas unicelulares responsáveis por cerca de 45% da produtividade dos oceanos e ocorrem na coluna de água e em zonas de sedimentos pouco profundos e intertidais. Ao contrário da maior parte dos organismos que fazem fotossíntese, as diatomáceas bênticas (dos sedimentos) são capazes de se moverem. Isto permite-lhes procurar as zonas que são mais favoráveis em termos de inúmeros fatores como disponibilidade de luz e nutrientes. A luz está mais disponível à superfície do sedimento e diminui exponencialmente com a profundidade, mas o mesmo não se passa com outros fatores, nomeadamente a disponibilidade de carbono inorgânico. Esta adaptação (motilidade) constitui uma vantagem evolutiva que permitiu às diatomáceas dominarem os sistemas bênticos.
As zonas intertidais, zonas de sedimentos que estão descobertas durante a baixa-mar e cobertas durante a preia-mar, constituem uma fração muito relevante da Ria de Aveiro e são muito produtivas, estando na base da cadeia alimentar do ecossistema.
Este estudo ganha particular relevância no sentido em que a principal fonte de carbono inorgânico para plantas e algas – o CO2 – é produzido e libertado por inúmeras atividades humanas e conduz às alterações climáticas.
Os investigadores referem, no entanto, que estas conclusões exigem outros estudos para avaliar a resposta destas comunidades fundamentais em ecossistemas como a Ria de Aveiro ao aumento do CO2 e à acidificação dos oceanos relacionados com as alterações climáticas.