O desenvolvimento de novas plataformas à base de proteínas humanas para cultura de células em 3D e desenvolvimento de microtecidos para descoberta e validação de fármacos foi distinguido com o Prémio Inovação Bluepharma | Universidade de Coimbra. O estudo decorre sob coordenação dos investigadores João Mano e Catarina Custódio, do CICECO-Instituto de Materiais de Aveiro, laboratório associado da Universidade de Aveiro (UA).
O projeto foca-se no desenvolvimento de microambientes in vitro, que fornecem às células sinais bioquímicos e mecânicos que fazem parte de seu ambiente natural.
Isto é conseguido através da manipulação de proteínas isoladas do plasma sanguíneo ou de tecidos perinatais para preparar uma nova geração de hidrogéis com propriedades mecânicas controladas capazes de encapsular praticamente qualquer tipo de célula. As matérias-primas, usadas neste projeto, derivadas de dadores humanos são facilmente acessíveis sem causar morbidade no local doador.
A equipa deste projeto, que inclui também Sara Santos, Cátia Monteiro e Inês Deus, pretende desenvolver plataformas eficazes como modelos 3D de doenças e para avaliar a toxicidade durante a descoberta e validação de fármacos, tendo ainda o potencial de reduzir o número de animais usados neste tipo de ensaios.
Esta tecnologia inovadora de microtecidos 3D humanizados abre uma série de possibilidades para o estudo de doenças e medicina personalizada e, portanto, abordagens terapêuticas direcionadas com alto potencial clínico e de translação.
O projeto agora distinguido por este prémio de grande prestígio na área das ciências da saúde, está incluído num outro mais abrangente designado por ATLAS, uma bolsa de investigação avançada do Conselho Europeu de Investigação (ERC). Este pretende, de uma forma geral, desenvolver sistemas sofisticados para o encapsulamento de células, muito focado em terapias para a regeneração de osso. Estes produtos, pela sua complexidade e por ter de ultrapassar uma série de barreiras do ponto de vista regulatório, vão ainda demorar um tempo apreciável para poderem vir a ser utilizados clinicamente. Por isso, do projeto ATLAS resultou ainda um enfoque mais específico, pelo projeto Microbone, em soluções mais simples de encapsulamento e também na aplicação: neste caso em modelos de doença em vez de terapias. O projeto Microbone mereceu uma bolsa Prova de Conceito, também do Conselho Europeu de Investigação, e deu origem a uma spin-off.
O projeto premiado foi o único escolhido de entre 26 projetos candidatos e, na nota de comunicação ao vencedor, refere-se que a proposta se distinguiu pela originalidade, inovação e potencial criação de valor para a sociedade.
O júri do Prémio Inovação Bluepharma | Universidade de Coimbra 2019, foi formado pelos investigadores Carlos Faro (Biocant), Luís Almeida (BlueClinical), Miguel Botto (Portugal Ventures), Sérgio Simões (Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e Bluepharma) e Fernando Seabra Santos (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra), enquanto Presidente do Júri.
O prémio tem o valor de 20 mil euros para ser utilizado em atividades de investigação e validação comercial, podendo vir a ser estendido até aos 50 mil euros, dependendo da apreciação do seu potencial. Com periodicidade bienal, o Prémio Inovação Bluepharma | Universidade de Coimbra visa distinguir projetos científicos de excelência ao nível internacional na área das Ciências da Saúde, que apresentem elevado potencial de transformação em produtos ou serviços, com real interesse para a sociedade.
A cerimónia de entrega do Prémio Inovação Bluepharma | Universidade de Coimbra 2019 realizou-se esta terça-feira, 7 de julho, na Sala do Senado da Reitoria da Universidade de Coimbra (UC).
João F. Mano, também professor do Departamento de Química da UA, foi eleito recentemente membro da Academia Europeia de Ciências, por unanimidade de todos os membros do seu Conselho Geral.