Ílhavo: PS enfrenta críticas pela escolha de candidato à Câmara. Apoiantes de Campolargo defendem candidatura independente.

2021-02-12 07:45

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O Partido Socialista de Ílhavo volta a enfrentar divisões internas num processo eleitoral com um setor a contestar o que entende ser o afastamento político do autarca de São Salvador.

João Campolargo (na foto), apontado como possível candidato presidencial, viu essa possibilidade esfumar-se com a aprovação dos cabeças de lista à Câmara e Assembleia com Eduardo Conde a assumir a recandidatura depois de há quatro anos ter surgido como surpresa na liderança da lista.

Na altura, mesmo com a derrota, os resultados foram apresentados como positivos atendendo à aproximação de forças entre PSD e PS e ao facto da candidatura ter surgido poucos meses depois de Conde se desfiliar do PSD.

O debate na Comissão Política desta semana que aprovou os nomes acabou por desfazer dúvidas e fazer ressurgir um debate mantido nas eleições para a concelhia, no início de 2020, e que na altura foram tomadas como “primárias” para a candidatura autárquica.

Sérgio Lopes renovou o mandado com a vitória sobre Hugo Lacerda e ficou com caminho aberto para a gestão do processo autárquico em “linha de continuidade”.

A concelhia liderada por Sérgio Lopes manteve a linha de trabalho e negociou com Campolargo a sua integração no projeto mas sem acordo abriu-se nova discussão interna sobre o papel que deveria ter o único autarca socialista em funções de liderança executiva no concelho.

Os apoiantes de João Campolargo dizem ser o único com capacidade para discutir a liderança da Câmara com o PSD e queixam-se de “saneamento político” mas a força dos votos na comissão política reforçou as teses da concelhia na aprovação da candidatura autárquica com 16 votos a favor, 3 brancos e dois nulos.

Conde viu a recandidatura confirmada mas a cisão ficou à vista e com sequelas no espaço público onde os socialistas trocam argumentos.

A concelhia socialista já veio a público esclarecer que não se registaram convulsões na reunião da comissão política e lamenta a forma como foram filtradas informações dessa reunião.

“Não é verdade que a votação tenha decorrido em ambiente de grande contestação, polémica e votos contra. A reunião decorreu nos termos regimentais e democráticos normais na vida de um Partido. Foram debatidas as propostas apresentadas pelo Presidente da Concelhia – aliás, as únicas apresentadas – e, em ambiente de normalidade democrática, votadas e aprovadas por maioria expressiva”.

E recusa a ideia passada para o exterior de estar a excluir o autarca João Campolargo das listas autárquicas.

“Nem o que foi votado foram as listas autárquicas, foram apenas os seus cabeças-de-lista, nem o autarca João Campolargo foi afastado dessas listas: se o autarca João Campolargo não é cabeça-de-lista do PS, é porque não quis”.

Esta foi a única declaração conhecida até ao momento por parte dos socialistas, num direito de resposta a uma notícia do jornal O Ilhavense, e Campolargo mantém o silêncio.

No seio do PS são muitos os que repetem uma frase ouvida noutros ciclos eleitorais: “É o PS a ser PS”.

A dimensão desta cisão está ainda por apurar e poderá ir para além das palavras mais críticas.

Há quem avance a possibilidade de estar a ser ponderada uma candidatura independente o que iria abrir novas frentes na corrida à “Esquerda”.

Os apoiantes mais próximos de João Campolargo acreditam que o candidato tem espectro alargado de votantes e seguem firmes no apoio ao autarca de São Salvador que nem a recandidatura irá defender.

O PS aprovou o nome de Domingas Loureiro para assumir a lista à Junta de São Salvador.

A transição há muito vinha sendo falada até porque se trata de uma figura ligada à freguesia, enquanto presidente da Assembleia de Freguesia, mas sem entendimento quanto à lista para a câmara, com Campolargo fora da corrida, abriram-se definitivamente as batalhas internas no seio do PS.

Os altos quadros do partido poderão ter palavra decisiva para colocar ponto final da polémica, criando condições para "acalmar" eventuais focos de contestação, mantendo o independente Campolargo na esfera socialista,  e criando condições para a concelhia gerir o dossiê com tranquilidade até à data das eleições.