Uma Aliança é sempre mais que Unir

O Movimento Unir para Fazer, mandatado pelo seu Presidente — candidato à Presidência do Município e ainda atual Presidente — resolveu mudar a cor do logotipo do Município nos cartazes para verde, quando todos sabem que é azul, e assim permanecerá até que a quem de direito sugira alterá-lo. O gesto pode parecer superficial, mas não é: é levar ao limite o que não se pode fazer em campanha e, mais ainda, na vida pública. Não é apenas um capricho de marketing; é um sintoma de como se entende o poder e a gestão pública.
Ter um Presidente que, durante quatro anos, não fez tudo o que podia e devia, vir agora, em manobras de último recurso, tentar associar a cor do Município à sua própria cor política, é, no mínimo, pouco sério. É um gesto de deslealdade para com todos os ilhavenses, incluindo aqueles que lhe confiaram o voto e a confiança. Rui Dias (AD) nunca o faria. Só alguém que não compreende o valor da identidade, da história e da pertença poderia agir assim, com ou sem leveza, confundindo o público com o pessoal.
O atual Presidente esteve apenas quatro anos à frente dos destinos do Município — quatro anos que resultaram de um momento inusitado de distração coletiva, de um acaso político que lhe deu uma vitória que nem ele próprio esperava. Confundir o acaso com um mandato divino, a sorte com mérito, é um erro que custa caro à seriedade da vida pública. Durante esses quatro anos, houve oportunidades perdidas, ideias deixadas por implementar, projetos que poderiam ter transformado a vida dos ilhavenses e que ficaram na promessa. Não se trata de condenar quem apoiou mudanças — novas abordagens podem ser legítimas e até necessárias. Mas quando essa mudança, após quatro anos de oportunidades desperdiçadas, se reduz a um gesto simbólico que insulta todos, incluindo os que lhe deram apoio e confiança, torna-se impossível ignorar a gravidade da situação.
Vêmo-lo agir como quem se julga dono do que apenas lhe foi confiado temporariamente. “Eu quero, posso e mando” tornou-se o seu lema. Um contraste gritante com a postura que teve enquanto Presidente da Junta de São Salvador, onde a liderança exigia proximidade, humildade e diálogo. O poder da Presidência da Câmara seduziu-o: a ética dobra-se, a estética torce-se. A administração pública deixa de ser serviço e transforma-se em palco de vaidade e domínio.
A sua forma de estar lembra o ladrão de O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela: um homem sem valores, cujo único critério era mandar e ser dono, humilhando todos à sua volta enquanto se convencia de que o restaurante, o seu espaço, lhe pertencia. Também aqui, o que devia ser um espaço público, comum e de todos, transforma-se em propriedade pessoal, palco de ego e de imposição. O Município, que deveria ser um símbolo de identidade coletiva, passa a servir interesses individuais e estratégias eleitorais.
O azul institucional, símbolo de continuidade e pertença, foi substituído por um verde de conveniência eleitoral. Mas esta mudança de cor não é apenas cosmética: é a tentativa de fundir o Município com uma candidatura, o público com o pessoal, o dever com a ambição. É a apropriação simbólica do que é comum, a transformação do espaço público em instrumento de promoção pessoal.
Os ilhavenses merecem respeito, não encenação. Mudar a cor de um logotipo pode parecer um detalhe, mas é, na verdade, o reflexo de uma forma de estar na política — onde tudo é instrumental, tudo é imagem, e nada é substância. Quando se começa a mudar cores para disfarçar falhas, para criar um efeito visual de renovação sem ação concreta, é sinal de que já não há confiança nas obras feitas nem coragem para admitir o que ficou por fazer.
O que está em causa não é apenas estética, é ética, é responsabilidade, é política. Os ilhavenses sabem distinguir serviço de domínio, humildade de arrogância, liderança de posse. E quando um Presidente começa a alterar cores, símbolos e identidades para afirmar o seu poder, esquece o essencial: o poder não é para se exibir, não é para se apropriar, não é para deixar uma marca pessoal; o poder é para servir.
É tempo de lembrar que um Município não é propriedade de um indivíduo, mas de todos os que nele vivem. A política não pode reduzir-se a truques de imagem, conveniências eleitorais ou apropriação simbólica. A política é responsabilidade, é legado, é construção coletiva. E quem não entende isto — ou escolhe ignorá-lo em favor do seu ego — revela, de forma clara e inequívoca, que confundiu o serviço público com domínio pessoal, e que confundiu confiança com posse.