O encerramento do Café Tako e o fim de um bairro

Sobre o fim do Café Tako. Para quem nasceu ou cresceu e viveu na “Praceta” as memórias transportam-nos para recordações coletivas do que foram os símbolos e as referências e, principalmente, as pessoas (e já foram algumas que nos deixaram) que há cerca de 70 anos iniciaram a construção social do bairro da Praceta (embora a zona já existisse há muitos mais anos), dos quais, há mais de cinco décadas, fazem parte o ti Artur Teixeira, a D. Isilda, o Paulo (deixaste-nos demasiado cedo) o Vítor (resistência) e, naturalmente, o Armando (dedicação). Mas também nos transporta para uma outra realidade e leitura.
O território, neste caso específico o bairro (a Praceta) difere de um qualquer espaço geograficamente delimitado pela incorporação, entre outras, de dinâmicas e vivências sociais que resultam da interferência coletiva das pessoas: as suas relações, as suas partilhas, o sentido de comunidade e a construção de uma identidade e sentimento de pertença (espacial e social). E é para esta realidade que o encerramento do Tako nos leva.
A sociedade cria as suas dinâmicas (política, social, económica e cultural) que resultam em processos de mutação, evolutivos ou não, que transformam o contexto e a realidade. Os territórios, as cidades ou os bairros, sentem essas pressões da sociedade que exigem respostas de adaptação.
Ora, a Praceta (como outros bairros ou outras zonas da cidade… tal como muitas outras cidades no país e no globo) tem sofrido e experienciado, desde algumas anos a esta parte, várias dinâmicas que a transformaram: o abandono geracional do bairro, a mobilidade humana, a fixação de novas pessoas que foram ocupando (e ainda bem) os espaços deixados vazios (por quem faleceu ou por quem saiu), a atratividade social (concorrencial) gerada noutros pontos da cidade ou a atratividade de outras áreas funcionais da sociedade que o bairro não comporta/contempla, e, obviamente, a alteração ou o desaparecimento das referências simbólicas que construíram o bairro ou a sua vizinhança mais próxima (basta recordar a perda do papel comunitário e social do Parque da “Macaca” – o Parque da Cidade, Infante D. Pedro, a saída dos Bombeiros Velhos, a deslocação da PSP, a Brigada Técnica da Zona Agrária (Sub-região de Aveiro / Direção Regional de Agricultura), entre outros serviços e atividades comerciais).
Em resumo, a Praceta foi perdendo a identidade que construiu e que acompanhou o seu percurso temporal, o seu sentimento de pertença coletiva e social, o seu sentido de vizinhança, a sua particularidade como bairro. Passou a mero dormitório e repositório de estacionamento automóvel.
E se é verdade que vamos guardando as memórias (e são, felizmente, muitas), não é menos verdade que fomos perdendo as vivências e desvanecendo o sentido de pertença (ao bairro e ao Tako).
Anexo | Tamanho |
---|---|
episódio #11 Politicamente Insurreto (08DEZ2024) | 5.81 MB |