UA estreia exposição sobre mestre dos organistas portugueses.

A Sala Hélène de Beauvoir, na biblioteca da Universidade de Aveiro, acolhe a exposição “Antoine Sibertin-Blanc, um Mestre dos Organistas Portugueses”-.

Trata-se da homenagem a uma figura incontornável da cultura organística em Portugal na segunda metade do século XX, cujo espólio foi doado em 2014 à Universidade de Aveiro.

Mostra tem inauguração às 15h e a mostra fica patente ao público até final do próximo mês de janeiro.

 

Texto do Curador da Exposição

O nome de Sibertin-Blanc, ou ‘Professor Sibertin’ ecoa ainda na memória das pessoas da larga maioria das localidades onde existe um órgão (de tubos, claro) a funcionar.

Na verdade, ele calcorreou todos esses caminhos, revelando a beleza das vozes do ‘rei dos instrumentos’, a beleza da nossa música e dos instrumentos onde ela soava pelas suas mãos de Mestre ‘verdadeiramente apaixonado pela sua arte’. Também os organizadores de grandes festivais de órgão em Portugal e no estrangeiro recordam este embaixador da música portuguesa.

Mas ele permanece, sobretudo, na memória e no coração dos seus antigos alunos, sejam eles docentes, acompanhadores da liturgia, diretores de coro, ou reputados concertistas, bem como de colegas, músicos e amigos, que tão lapidarmente plasmaram a personalidade do Mestre nos testemunhos registados em Ad memoriam Antoine Sibertin-Blanc[1].

Em mais de 50 anos de laboriosa dedicação à sua profissão, o pedagogo e intérprete, e também o improvisador e compositor, tinha que deixar marcas indeléveis na nossa cultura organística.

Umas são visíveis nas mudanças operadas na segunda metade do século XX, graças à vinda para Portugal deste organista excecional, num contexto não menos excecional: a aposta de Júlia d’Almendra na formação de organistas e um determinante investimento da Fundação Gulbenkian na promoção da vida organística entre nós, com destaque para a construção do grande órgão da Sé Patriarcal – verdadeira estrela durante décadas – cuja titularidade foi confiada a Sibertin-Blanc.

Mas outras marcas há, que têm que ser procuradas por entre partituras e gravações, programas de concertos, correspondência, textos didáticos, notas, apontamentos e papéis diversos que nos deixou, atualmente à guarda dos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da Universidade de Aveiro (SBIDM-UA).

Quem foi esse homem e o que o fez rumar a Portugal? Qual a filosofia da sua ação pedagógica e qual a chave do seu sucesso? Que ideias moveram a sua carreira de intérprete? Que opções e critérios moldaram as obras que escreveu ou transcreveu? O que era o projeto (inacabado) ‘L’Ange de Saint-Maur’? Qual o papel desta personalidade na nossa cultura?

Com exceção de notas de programa e de um parco número de artigos, o Professor pouco publicou.

Mas para estas e outras questões haverá certamente respostas nas veredas da investigação.

Em boa hora os SBIDM-UA decidiram patentear esta exposição/homenagem, não somente para perpetuar a memória de um Mestre dos organistas portugueses e do seu legado, mas também para que os documentos que nos deixou se não eternizem no silêncio dos arquivos e, ao contrário, sirvam de estímulo a um estudo e investigação que os transforme em fonte de conhecimento. Aqui fica o desafio.

 

Domingos Peixoto (curador da exposição)