Os portugueses querem esta Greve Geral… não querem é esta alteração laboral
A Greve Geral marcada para 11 de dezembro pela CGTP e pela UGT não é um capricho sindical, nem uma excentricidade da esquerda, nem uma incursão de agitadores profissionais. É, isso sim, a tradução mais clara do que o país sente: os portugueses estão descontentes. Fartos de ver direitos postos em causa. Fartos de assistir ao desmantelamento silencioso do Código do Trabalho. Fartos de um Governo que, ao invés de governar para as pessoas, governa contra quem trabalha. Infelizmente não é só no contexto laboral: saúde, educação, habitação, economia, ... .
A verdade é esta, ao contrário do que o Ministro da Presidência tenta iludir: os portugueses querem esta greve… não querem é a proposta de alteração laboral que está em cima da mesa.
Uma “reforma” que empurra o país para trás
O Governo tenta vender o pacote “Trabalho XXI” como uma modernização. Mas ninguém se deixe enganar.
Entre mais de uma centena de alterações, o que realmente se destaca é a facilitação dos despedimentos, o alargamento do banco de horas, a fragilização dos vínculos, o aumento da precariedade e uma pressão crescente sobre quem tem família, filhos, ou simplesmente uma vida para organizar.
Fala-se em “flexibilidade”, mas o que se vai criar é desigualdade social, menos coesão, mais disparidade salarial, emprego precário, menor segurança laboral para os jovens e um retrocesso evidente nos direitos das mulheres e das famílias. Fala-se em modernidade, quando na verdade se está a abrir a porta a um livre-arbítrio patronal que pulveriza décadas de conquistas laborais.
Pior: nem o Estado sai a ganhar. Um mercado de trabalho mais instável significa menos contribuições para a Segurança Social, mais rotatividade, mais desemprego e, no limite, um rombo na sustentabilidade do sistema. O Governo diz que quer proteger o futuro. Mas está, na prática, a enfraquecer o pilar que o sustenta.
Um descontentamento que atravessa sindicatos, trabalhadores, setores sociais e até o patronato
O grande equívoco do Governo tem sido imaginar que esta contestação se limita às centrais sindicais. Nada de mais errado.
A UGT, que não é exatamente conhecida por radicalismos, aprovou a greve por unanimidade, com sindicalistas ligados ao PSD e às suas estruturas nacionais a votarem a favor.
Há, até, em sede da Concertação Social, divisões no patronato. E há organizações como a JOC (Juventude Operária Católica), apartidária mas socialmente muito ativa, que publicamente demonstram preocupação com a ofensiva laboral.
Quando até estruturas moderadas, ligadas a setores conservadores, levantam bandeiras vermelhas, é porque o problema é mesmo sério.
A crítica ao Presidente da República e ao discurso que tenta desmobilizar
O Presidente da República, com o seu tom habitual de “bom senso”, disse que ainda estamos no início do processo e que seria preciso esperar, porque “a procissão ainda vai no adro”. Mas essa argumentação não tem nexo. A pressão faz-se antes, precisamente quando ainda é possível travar a aprovação de uma lei que se anuncia profundamente lesiva para o país. Depois de a procissão sair do adro já não há pressão que valha. O Presidente deveria saber isto. Aliás, sabe. Mas disse o que disse.
O populismo previsível da direita e a razão pela qual as greves gerais surgem quando a direita governa
O líder da bancada do PSD tenta, com a sua demagogia balofa, fazer crer que esta greve é política. E é, claro. Toda a greve é política… e ainda bem porque é essa uma das suas essências.
Não é por acaso que, historicamente, as greves gerais (julgo que nos 50 anos, Portugal assistiu a três) surgem sobretudo quando a direita está no Governo. A direita governa contra direitos, contra a proteção social, contra a estabilidade laboral, contra a responsabilidade social do Estado. Governa com a lógica de que o mercado resolve tudo e que o trabalhador é uma variável descartável. Quando isso acontece, a resposta do país é sempre a mesma: a rua. E desta vez não será diferente.
A mensagem de 11 de dezembro: ouçam a rua antes que seja tarde
A greve é o último recurso negocial. Surge quando as portas se fecham, quando o diálogo deixa de ser diálogo, quando a “concertação” já só serve para legitimar decisões previamente tomadas.
O Governo pode fingir que não vê, pode desvalorizar a mobilização, pode tentar dividir sindicatos ou criar discursos tranquilizadores. Mas nada disso muda a realidade: há um descontentamento consistente, transversal e impossível de ignorar.
A UGT até admite alargar a paralisação a dois dias, se necessário. A CGTP prepara mobilizações em todo o país. E cada vez mais portugueses percebem que esta greve não é, apenas, sobre um ponto técnico do Código do Trabalho: é sobre o modelo de sociedade que queremos.
A Greve, quando justa, é necessária
Portugal não precisa de reformas laborais que empobrecem o país e os portugueses.
Precisa de estabilidade, de salários dignos, de proteção no emprego, de famílias com condições para viver e trabalhadores com direitos respeitados.
É por isso que os portugueses a apoiam, porque não querem esta reforma laboral injusta, desequilibrada e profundamente perigosa para o país.