Silêncio ensurdecedor no arranque da Governação Local em Aveiro
"sinopse":
Não faltaram avisos.
Do ilusionismo demagogo eleitoral ao silêncio governativo local.
Aveiro, mais uma vez (e não é só agora), tende a perder… e os aveirenses e a Região a perderem com ela. "Salvou-se" uma motosserra (as portagens), finalmente!
É falta de peso… político (entenda-se). Mas não só.
Há silêncios que dizem mais do que discursos inflamados. E, em Aveiro, o silêncio político parece querer transformar-se na marca da governação autárquica. Luís Souto, que na campanha eleitoral prometia energia, ambição, proximidade e “porta aberta em São Bento”, parece ter preferido fechar a porta ao futuro de Aveiro e dos Aveirenses assim que o poder lhe caiu no colo. Um silêncio pesado, desconfortável e difícil de justificar.
Bem sabemos que, pela tradição “Rooseveltiana”, os 100 primeiros dias de qualquer mandato são de consolidação, adaptação e de planeamento. Simbolicamente é um período de “estado de graça”… convém é não começar em “desgraça”.
A ampliação do Hospital de Aveiro: uma promessa que nunca passou disso mesmo.
Comecemos pelo elefante na sala: o Hospital de Aveiro.
Durante a campanha eleitoral, o Primeiro-ministro Luís Montenegro, em plena apresentação da candidatura de Luís Souto, atirava para o ar um anúncio prodigioso (mesmo que temporalmente impossível de concretizar, nem com um milagre de azinheira): a ampliação do Hospital de Aveiro estaria concluída aquando da tomada de posse dos novos órgãos autárquicos. Uma promessa espetacular, não fosse rapidamente desmentida por Ribau Esteves, que apontava o ano de 2027 (na melhor das hipóteses).
Mas eis a realidade nua e crua: não existe sequer projeto, não existe financiamento para além do previsto ainda pelo ex-Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o OE2026 simplesmente ignora o Hospital de Aveiro. Continuamos a ver outras regiões avançar com o Hospital Lisboa Oriental ou o Hospital do Oeste (Bombarral), enquanto Aveiro assiste, impotente, à sua irrelevância política ou ao “alcatroamento” do espaço para estacionamento (valha-nos isso porque estacionar em Aveiro começa a ser uma miragem).
Sobre isto, depois de tanto embandeirar em arco e iludir os aveirenses... o silêncio de Luís Souto.
O mesmo candidato que durante meses fez bandeira desta suposta prioridade agora parece resignado à insignificância. Porque quando chega a hora de cobrar, denunciar ou exigir não se lhe vislumbra um “fiambrinho”.
As portagens não serão esquecidas: levam é um voto contra
Segundo episódio criticável e lamentável: as três portagens na A25, no troço Ponte da Barra (Ílhavo) – Angeja (Albergaria-a-Velha).
Também aqui o Primeiro-ministro foi claro, público e enfático: “as portagens são um assunto que não está esquecido”. Disse-o diretamente a Luís Souto, perante eleitores, câmaras e microfones. Mas o assunto, mesmo não esquecido, estava enterrado. Já o fazia prever as várias intervenções públicas do Ministro das Finanças a propósito das portagens, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado para 2026.
De tal forma que o “assunto não esquecido” quando chegou ao Parlamento, a história foi outra. Tal como em 2024, o PSD votou contra a proposta do PS que previa a eliminação das portagens, aprovada por toda a esquerda e o Chega, com abstenção da IL e do Pan (voto contra do PSD e CDS).
Mais deprimente ainda: os deputados do PSD eleitos por Aveiro, alguns deles com responsabilidades na Concelhia e na Distrital do PSD Aveiro, optaram deliberadamente por sacrificar os aveirenses e a Região em nome do seguidismo partidário. Aveiro em segundo… primeiro o partido e o líder.
E desta vez nem a desculpa da “coerência” serve, porque nem a posição limitada e criticável do PS em 2024 - que excluiu estes 3 pórticos - foi suficiente para abalar a “disciplina acrítica” no PSD.
Sobre isto, depois de tanto embandeirar em arco e iludir os aveirenses... o silêncio de Luís Souto.
Cais do Paraíso: adiar o inevitável não é saber governar
Sobre o Plano de Pormenor do Cais do Paraíso, objeto de investigação do Ministério Público por “alegadas” irregularidades, Luís Souto mostrou uma coragem peculiar: a coragem de… não decidir.
Depois de o defender efusivamente em campanha, limita-se agora a “empurrar com a barriga” a sua discussão. Era o mínimo que se podia esperar? Talvez. Mas mesmo o mínimo exige que se cumpra a lei. E a lei é clara: o Presidente da Câmara é obrigado a incluir na ordem de trabalhos as propostas dos vereadores da oposição. Não cabe ao Presidente decidir se as propostas estão suficientemente documentadas (isso é da responsabilidade, e respetivas consequências políticas, de quem propõe). Ao Presidente da Câmara Municipal cabe-lhe, por imposição legal, agendá-las.
Atrasar ou protelar este agendamento não é prudência: é incumprimento. E uma autarquia que começa por incumprir nas regras mais elementares e básicas do funcionamento democrático começa mal. Muito mal.
O eixo Aveiro–Águeda: perdido no PRR, perdido na governação, perdido no financiamento
Já ninguém se lembra de que o eixo estruturante Aveiro-Águeda foi assinado e tinha financiamento garantido pelo Programa de Resiliência.
Pois é. “Saltou” do PRR e ficou… em nada. Uma obra que agora custará o triplo aos contribuintes, sem que haja qualquer programa de financiamento identificado ou referenciado para o suportar. Fantasmagórico será o termo certo.
E onde está o Presidente da Câmara? Prometera “acampar em Lisboa” se fosse necessário. Bem, talvez esteja na fase da escolha de um local mais quente e acolhedor para a tenda, mas, até agora, o acampamento parece ter sido cancelado.
Mais uma vez: depois de prometer e iludir muito, Luís Souto dá aos aveirenses o silêncio.
E a lista continua: CERCIAV, Conservatório, Pavilhão Oficina, Parque Desportivo, antiga Lota, … .
A lista de dossiers parados, adiados ou esquecidos não é pequena. E o denominador comum é demasiado evidente: Aveiro foi seduzida por uma narrativa populista e demagógica, centrada na proximidade ao poder nacional, na amizade ao Primeiro-ministro e na facilidade em “bater à porta de São Bento”. Só que, tal como várias vezes referi na altura da campanha eleitoral, a realidade demonstrou o contrário: Aveiro não tem peso político nacional. E Luís Souto, pelos vistos, muito menos.
Aveiro merecia mais do que propaganda
A história do poder local em Aveiro é, infelizmente, uma história repetida de desilusões. Não é, de facto, só de agora. Diga-se em abono da verdade.
A cidade paga caro a troca de convicções por prudência, assertividade por subserviência, visão estratégica por propaganda demagoga.
Luís Souto prometeu ser diferente.
Até agora, prometeu muito e não se vislumbra a concretização de coisa alguma. Porque “vendeu” esperança, iludiu os aveirenses e agora distribui silêncio e apatia.
Mais uma vez, como tantas vezes ao longo do tempo, Aveiro tende a perder (salvaram-se, ao menos, as Portagens... finalmente!). E os aveirenses e a Região tendem a perder com ela.
Mesmo assim, talvez valha a pena ir guardando a T-Shirt da Maratona da Europa de 2026 (que, aparentemente, riscou Ílhavo da vizinhança parceira... é só mais uma) para oferecer ao “amigo Luís”… o ídolo.