"Seria possível através da investigação científica e de um inquérito pioneiro prever, na primeira vaga da pandemia em 2020, a evolução que ocorreu no último trimestre desse ano e início do ano seguinte?
Os autores de um estudo realizado em vários países, com participação de uma investigadora da Universidade de Aveiro (UA), mostram que usando ferramentas inovadoras surgem pistas muito úteis".
As conclusões do estudo realizado em 23 países, incluindo Portugal, mostram que com a conjugação de analíticas avançadas com ferramentas de neuromarketing que permitem o conhecimento de comportamento humano e de seus verdadeiros sentimentos, foi possível prever a evolução da pandemia.
A Terra Nova tinha adiantado há uma semana o surgimento desta iniciativa que usa ferramentas de neuromarketing.
As conclusões ainda não estão disponíveis para todos os 23 países, mas já são conhecidas no caso de Portugal.
Já em maio do ano passado, afirma Valentina Chkoniya, investigadora e professora da UA, “as respostas ao inquérito apontavam para um agravamento no outono”.
“O nível de medo dos portugueses participantes era relativamente baixo, sendo este o motivo que explicava um número também relativamente baixo de pessoas que interiorizaram o conhecimento sobre como evitar a infeção”, explica a investigadora.
“Maioritariamente, acreditavam que não contrairiam o vírus: apenas 8% verdadeiramente acreditava que a possibilidade de serem infetados seria alta. Por outro lado, muitos não se sentiam responsáveis por incentivar outros a seguir as restrições.”
Embora seja natural que alguns medos sejam revelados num contexto destes, esse medo estava num nível abaixo do observado noutros países, compara Valentina Chkoniya.
Assim, “apesar de ninguém no mundo poder vaticinar a duração exata da pandemia, os portugueses acreditavam que venceriam o coronavírus em breve. Portanto, os bons resultados na primavera e o sentimento ‘de vitória’ sobre a pandemia iria trair os portugueses”, comenta a professora e membro da unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP).
Não é a primeira vez que a humanidade enfrenta desafios como este.
“A chave para o combate bem-sucedido esteve sempre nas atitudes e comportamentos; hoje, com o avanço da ciência, há ferramentas que permitem entender melhor o comportamento das pessoas - daí o enfoque nesta abordagem inovadora”, justifica Valentina Chkoniya.
Numa explicação mais pormenorizada e técnica, a investigadora refere que foi usada a ferramenta iCode Smart Test, com ferramentas de neuromarketing, tecnologia exclusiva que mede o grau de certeza na resposta (uma atitude consciente versus inconsciente, uma atitude bem estabelecida versus interiorizada).
O iCode Smart Test tem a forma de uma pequena pesquisa on-line, são feitas perguntas simples e o algoritmo mede o que os participantes respondem e como respondem, gravando a velocidade e ritmo com que as pessoas tocaram no ecrã. Os algoritmos estimam o quanto se hesita quando se expressa a sua opinião. Quanto maior a confiança na resposta, mais relevante é a questão para quem responde ou mais provável é que ajam de acordo com a resposta.
Em Portugal o estudo foi realizado entre 18 de abril e 3 de maio de 2020, com a participação de pessoas com idade compreendida entre 18 e 65 anos residentes em Portugal Continental. A análise dos resultados é baseada em 300 inquéritos completos e validados pelo sistema.
O estudo foi originalmente divulgado na conferência ICMarkTech 2020 (http://www.icmarktech.org/index.php/pt/ ) Na conferência foi selecionado um conjunto de estudos para uma edição da prestigiada editora cientifica Springer Nature Switzerland AG https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-981-33-4183-8_23 . É aí que se encontra publicado “What do portuguese really feel about te COVID-19 pandemic, consumer neuroscience and advanced analitics – discovering new perspetctives”, assinado por Valentina Chkoniya, Dorota Reykowska e Rafal Ohme.