Os Artistas Unidos apresentam, esta noite, no Teatro Aveirense um clássico do Teatro dos anos 30.
O espetáculo “Vida de Artistas”, de Noël Coward (1933), é a última encenação de Jorge Silva Melo antes de falecer em 2022.
Trata-se de um espectáculo conta com a interpretação de Nuno Pardal, Rita Brütt, Pedro Caeiro, Américo Silva, Antónia Terrinha, Tiago Matias, Raquel Montenegro, Ana Amaral, Pedro Cruzeiro e Jefferson Oliveira.
Apresentou-se no Porto, no Teatro Carlos Alberto, entre 19 a 22 de Janeiro de 2023, e agora chega ao Aveirense numa tour que em 2022 passou por diversas salas do país.
Noël Coward escreve “Vida de Artistas” para cumprir um pacto celebrado 11 anos antes entre o próprio e os seus dois amigos, Alfred Lunt e Lynn Fontanne.
“Os Lunt”, como eram conhecidos, tornaram-se o mais celebrado casal do teatro na América mas, em 1921, quando Coward os visitou em Nova Iorque, estavam a começar a viver num alojamento barato para actores em dificuldades.
Coward também ainda era relativamente desconhecido, mas partilhava com Lunt e Fontanne uma fome por fama e sucesso.
A produção estreou na Broadway em 1933 e, depois, em Inglaterra, com imediato sucesso crítico e comercial, apesar das suas personagens amorais e da proclamada bissexualidade.
Uma verdadeira "pedrada no charco" para as visões da época.
A percentagem de bilheteira dos Lunt foi muito maior na América do que em Inglaterra e Coward, provavelmente, terá antecipado que a peça – com as suas personagens amorais e o subtexto da bissexualidade – poderia não passar de Lord Chamberlain, o então censor oficial do teatro na Inglaterra.
Foi um imediato sucesso crítico e comercial, levando Coward a relaxar na sua regra habitual de não representar uma peça por mais de doze semanas e a estender a carreira para um total de cinco meses.
Na última semana de carreira, a polícia teve que ser chamada para controlar as multidões que pediam bilhetes.
Apesar disto, Coward sentiu que a peça nunca teve o respeito e compreensão merecidos.
Ao falar sobre as persongens de Leo, Otto e Gilda, Coward revela os seus próprios pensamentos sobre o mecanismos da relação central da peça.
“Estas criaturas loquazes, excessivamente articuladas e amorais, forçam as suas vidas a assumir formas e problemas fantásticos porque não o conseguem evitar. Principalmente impulsionadas pelo impacto das suas personalidades uns sobre os outros, eles são como traças em torno da luz, incapazes de tolerar a solitária escuridão em redor e de partilhar a luz sem colidir constantemente, ferindo as asas uns dos outros.”
Jorge Silva Melo frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, a partir de 1969, a London Film School.
Antes de partir para Inglaterra foi um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras. Fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia (1973/79).
Foi realizador de cinema, tendo dirigido uma série de longas-metragens e documentários. Leccionou na Escola Superior de Teatro e Cinema e na Pós-graduação em Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Escreveu mais de uma dezena de peças de teatro e tem três livros em prosa e trabalhou como tradutor.
Foto: Jorge Gonçalves