Anselmo Vieira, 67 anos, iniciou doutoramento no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e a dissertação defendida no mestrado foi premiada pelo SOS Azulejo. A humidade, a ação humana e o vandalismo são os três grandes fatores de degradação do património azulejar na região de Aveiro identificados na dissertação de mestrado premiada pelo SOS Azulejo.
Anselmo Vieira, o seu autor, um engenheiro civil de 67 anos que decidiu voltar a estudar na Universidade de Aveiro (UA) depois de uma longa carreira na direção de obras, recebeu o prémio, esta quarta, no Palácio Fronteira, em Lisboa.
A humidade, nomeadamente a chuva que se vai infiltrando nas juntas ou fissuras junto com a que ascende do solo, o vandalismo e a ação do homem (antropia), por exemplo, através da instalação de equipamentos no exterior dos edifícios que obriga perfurar e quebrar o revestimento, são os três grandes fatores de degradação dos revestimentos de azulejo identificados por Anselmo Vieira.
A dissertação de mestrado, intitulada “Patologia em Fachadas Azulejadas em Aveiro” sob orientação de Ana Velosa, professora do Departamento de Engenharia Civil, foi apresentada em julho de 2014, na UA, e merece agora o prémio de dissertação em Engenharia Civil do SOS Azulejo, um dos seis prémios a atribuir na edição deste ano.
Em 40 edifícios em Aveiro, S. Bernardo, Cacia e Sarrazola, Anselmo Vieira analisou o tipo e ano de aplicação dos azulejos, as anomalias nas fachadas, a orientação das mesmas, a intensidade do tráfego na rua onde está implanta a edificação, o nível freático, a existência de desvão sanitário, etc.
Nos casos onde conseguiu doação de amostras ou pedaços, analisou também os materiais constituintes dos edifícios, o tipo de argila com que esses azulejos foram fabricados determinando a composição química com ensaios laboratoriais. A argamassa de assentamento, os alicerces do edifício e as alvenarias de suporte também não foram esquecidos.
Percebeu, por exemplo, que as caraterísticas do solo têm relevância. Nomeadamente a argila designada ilite, permanentemente saturada, torna-se quase impermeável e, portanto, pouco friável, razão porque as habitações assentes sobre esse tipo de solo não padecem tanto de problemas de humidade como outras implantadas à mesma altitude mas assentes em solos de outro tipo.
O atual aluno de doutoramento no Departamento de Engenharia Civil explica que as fachadas em azulejo são menos afetadas do que se pensa pelo sal que acompanha a humidade atmosférica. A 700 metros das ondas do mar, a percentagem de sal é apenas de 50 por cento da concentração inicial e reduz-se 7 a 11 por cento por hora à medida que o ar se desloca para o interior a partir do mar. A evaporação das águas salobras da Ria – a salinidade média desta água é inferior a 3 por cento, acima do qual a água se considera salgada – contribui para dissolver ainda mais o sal transportado pela humidade que vem do mar.
Anselmo Vieira que nada percebia de azulejos quando regressou Portugal, vindo do Brasil, e decidiu inscrever-se no Mestrado em Engenharia Civil, ganhou o gosto pelo estudo do património azulejar português, muito mais por ser na sua terra natal: “De uma riqueza e valor incalculáveis”. Atualmente, aluno de doutoramento na UA na área de reabilitação, Anselmo Vieira proclama: “Quero ajudar a preservar este património”.
O Projeto “SOS Azulejo” é de iniciativa e coordenação do Museu de Polícia Judiciária (MPJ), órgão da Escola de Polícia Judiciária (EPJ), e nasceu da necessidade imperiosa de combater a grave delapidação do património azulejar português.
Texto e foto: UA