O clima de tensão no seio do PSD de Aveiro e entre fações associadas às diferentes sensibilidades no processo autárquico de 2025 faz-se notar também nos fóruns municipais.
No dia em que era confirmada a exclusão de Ângela Almeida das listas do PSD às Legislativas, novo episódio a mostrar diferentes posições entre as opções da direção nacional, liderada por Luís Montenegro, e a visão trabalhada ao longo de 12 anos pela liderança de Ribau Esteves.
Luís Souto viu a sua autoridade e a condução dos trabalhos da Assembleia Municipal de Aveiro questionada pelas bancadas da maioria.
Líderes de bancada do PSD e do PP deixaram críticas à forma como o presidente da Mesa, atual candidato autárquico, dirigiu o debate sobre a proposta de adesão do Município de Aveiro ao ICOM (International Council of Museums), maior organização internacional de museus e profissionais de museus.
As críticas do Bloco de Esquerda à gestão cultural da autarquia, a propósito da subida dos preços dos bilhetes e a degradação de serviços e edifícios, colocou Luís Souto debaixo de fogo.
Manuel Prior, do PSD, lembrava que o debate era sobre a adesão ao ICOM e não sobre política cultural.
Prior protestou com a mesa por permitir essa abordagem (com áudio)
Luís Souto de Miranda defendeu-se alegando que estando em causa um tema associado à cultura as apreciações poderiam ser feitas naquele fórum.
O responsável pela condição dos trabalhos desdramatizou a polémica em que se viu criticado pelas próprias bancadas da maioria (com áudio)
Jorge Greno, do PP, acentuou essa crítica e ironizou com o uso abusivo de chamada de temas conexos.
Disse mesmo que se era para falar das telhas do museu também poderia falar sobre o telhado da sua casa.
"O CDS subscreve o protesto do PSD. O temporal também levantou telhas na minha casa. Também é tema conexo".
Ribau Esteves fechou a ronda de críticas deixando vincado que não concordava com a forma como os trabalhos estavam a ser dirigidos.
O autarca defendeu que a proposta de adesão só era possível porque o setor cultural ganhou credibilidade nos últimos 12 anos (com áudio)
No final, depois de uma votação unânime a favor da proposta, o PSD quis incluir o protesto como declaração de voto, algo recusado pelo presidente da mesa por não enquadrar nessa declaração final a justificação para o voto favorável.
Uma noite de Assembleia Municipal em que os debates políticos sobre a ação municipal passaram para segundo plano e estiveram mais centrados na dialética entre as bancadas da maioria e o presidente da Mesa deixando claro que o processo eleitoral interno no PSD para a escolha do cabeça de lista da Aliança continua a ser tema fraturante.
O Bloco de Esquerda não gostou da secundarização do debate e reagiu.
A concelhia “condena qualquer tentativa de condicionamento da sua atividade política”.
O BE tinha criticado a “falta de apoio municipal e a priorização do turismo em detrimento da conservação do património cultural” mas a posição viria a ser contestada pelos partidos da maioria que consideram estar fora da agenda.
Em defesa da intervenção de Celme Tavares, o Bloco de Esquerda considera que os considerandos da intervenção “enquadram-se dentro do âmbito da ordem de trabalhos”.
João Moniz, candidato do Bloco à Câmara de Aveiro, diz que essa posição estava enquadrada no tema.
“Enquanto a coligação de direita se desintegra à vista de todos, continuamos a lutar por políticas públicas que realmente beneficiem a população de Aveiro. Este episódio expõe, ainda mais, a fragilidade da coligação de direita, que, à medida que se desfaz diante de todos, perde qualquer coesão e capacidade de lidar com as questões que realmente afetam a população”.