Um projeto autárquico “frouxo” e “fanfarrão” (na atual narrativa mediática)

(Entre o primeiro e o segundo (a ordem não é arbitrária), semelhanças só mesmo no apelido e nos laços familiares… De resto, é um colossal abismo de diferenças. Dos fantasmas políticos às utopias eleitorais e, de novo, o bengalismo partidário… o que sobra na candidatura da AD aveirense.)
Pelo silêncio e ambiguidade do que foram os primeiros tempos públicos da candidatura do PSD, não são, de todo, surpresa os tempos mais recentes, agora que o processo eleitoral ganhou outros contornos de exposição pública e mediática.
A necessidade de marcar posições públicas, nomeadamente para “mostrar serviço” na apresentação das candidaturas às Freguesias, e de apresentar substância política e eleitoral, têm refletido, não apenas a insegurança no projeto e no resultado eleitoral, mas, recordando as próprias palavras do ainda presidente da autarquia, Eng. Ribau Esteves, a impreparação e inexperiência políticas da candidatura de Luís Souto à gestão do Município.
Aqui sim, como quem se olha num espelho, encontramos fantasmas, ilusões e ausência de visão e ambição.
Não vou entrar nas questões (infelizmente já algumas) de carácter e julgamentos pessoais. Nunca o fiz, não tenciono fazer e não vou colocar isso acima (ou em vez) do que apenas à política e campanha diz respeito. Os juízos de valor personificados já foram, legitimamente, explanados pelo Alberto Souto, que não precisa de favores nenhuns, nem de “advogados de defesa”. O saber e a experiência são-lhe mais que suficientes para contrapor e se defender (e quando não chega, há, garantidamente, outros processos e instâncias).
Importa o foco (e já para sossegar alguns “rasgar de vestes”, com a exclusiva liberdade de expressão, opinião, de cidadania e de, mero e simples, apoiante – declarado – da candidatura do PS Aveiro e de Alberto Souto… só para desfazer, da minha parte, alguns “qui ças” que, às vezes, pululam por aí)… importa o foco nos silêncios (sobre o que importa e não se sabe), no agitar fantasmas, no “bengalismo partidário”, no “plágio eleitoral”, nas incoerências e na declarada falta de rigor (apesar de ser uma das bandeiras, mal desfraldadas, dos cartazes de campanha do Luís Souto) mais que demonstrativos da necessidade de estar permanentemente a olhar para a candidatura “da frente” (ou “à frente”), para quem melhor se posiciona para gerir (novamente) a Autarquia. Tudo porque falta ambição, visão, estratégia, experiência, aptidão autárquica e política.
Dos fantasmas…
À falta de tudo (e mais um par de botas), à incapacidade de superar o projeto e a visão de Alberto Souto para o Município, resta o fantasma (com mais de 20 anos) da dívida, já mais que assumida a responsabilidade e o valor, já mais que explicada as suas origens (não é só o velho estigma do Estádio – aprovado por TODOS) e os investimentos.
Mas o que não se ouviu, até agora, foi uma única palavra sobre o serviço da dívida bancária (dos empréstimos) que foram sucessivamente assumidos recentemente ou sobre o valor, impacto e prioridade estratégica de algumas das políticas públicas realizadas ou planeadas (250 milhões de euros no Rossio para a “cereja em cima do bolo” do Festival dos Canais apresentada na Fonte Nova). Lembrar apenas a informação divulgada no JN de 17 de maio último: Aveiro é o sexto município (capital e distrito) com o passivo mais elevado, em 2024 (com base nas contas municipais apresentadas em abril de 2025, sem auditorias).
O outro “fantasma” é a mentira sobre Alberto Souto querer destruir tudo ou deitar abaixo. Mudanças de ciclo governativo, seja a nível local, seja a nível nacional (veja-se o que o Governo de Montenegro já rasgou das excelentes políticas públicas de António Costa: saúde, habitação, educação, …) implicam também mudanças de políticas, de investimentos e de visão estratégica. Mas só pela inexperiência política é que se ache que uma vez erguido ou implementado é fácil reverter. Coisa diferente é ainda ir a tempo de evitar erros de gestão, de visão e de prioridades, de aplicação de investimentos, ou, até de alterar espaços públicos já desenhados. É o caso de relançar as relações com a Universidade, o tecido Associativo, o universo escolar, a participação democrática dos cidadãos, corrigir o Rossio, a Avenida, ou evitar desastres como o Pavilhão Oficina, o Cais do Paraíso, a antiga sede da CERCIAV, o antigo Centro de Saúde Mental de São Bernardo, a reformulação da reabilitação da antiga Lota, devolver o Museu de Aveiro à esfera/tutela nacional, entre outros.
Isto sem falar nos esquecimentos de 2 décadas do Parque Urbano junto à Avenida da Europa, a casa do avô de Eça de Queiroz, as piscinas do Carocho, o Parque das Barrocas, as Piscinas e o Mercado em Cacia, a ligação de Santa Joana à cidade, a nova centralidade em São Bernardo, etc., etc. Isto não é deitar abaixo, é erguer, renovar, inovar e desenvolver. E, ao contrário do que o Luís Souto afirma (mal e erradamente) na recente entrevista ao JN, uma nova política pública local de habitação que não existiu nestes últimos 20 anos (não colhe a confusão entre manutenção/conservação e construção pública), por manifesta, e legitima, opção ideológica e política (basta lembrar o que o Eng. Ribau Esteves sempre afirmou em relação ao mercado imobiliário e à responsabilidade do Estado/Governo, assim como a aprovação, apenas na passada semana, da Estratégia Local de Habitação, invalidando o recurso e candidatura ao PRR nesta vertente habitacional). Acima de tudo é estratégia e visão para o Município que Alberto Souto tem, desde há vários meses, trabalhado e apresentado aos aveirenses (com eles e sempre com eles) e que à falta delas na candidatura de Luís Souto resta-lhe o “plágio eleitoral”, numa manifesta falta de honestidade e ética políticas. Porque uma coisa é reconhecer o mérito das propostas alheias ou dos outros (por exemplo, reconheço como extremamente valiosa e interessante o projeto do BE para o antigo edifício da Caixa Geral de Depósitos e o seu programa para a mobilidade), outra bem diferente é, perante esse mérito, a apropriação das ideias, o “copy paste” ilegítimo, enganando e iludindo os eleitores.
Do “bengalismo partidário” (mais uma vez)…
Quando não se tem um rumo, não se define uma estratégia (ao qual não será alheia a saída do meu amigo Jorge Ratola para Espinho) que traga uma visão para o Município, que inove e desenvolva o território, a crítica fácil e banal ao adversário, ou a necessidade de nos socorrermos e agarrarmos aos outros é sinónimo de desespero e urgente sobrevivência.
Sustentar tudo o que o ainda atual Executivo protagonizou para Aveiro e projetou para o futuro é uma total incoerência política e partidária. Se era para isso, não faz qualquer sentido, nem tem fundamento, a candidatura que incorpora, assim como (tal como referi à data) é, ainda, mais lamentável todo o contexto que envolveu a candidatura de Luís Souto, o PSD nacional e a Concelhia de Aveiro. Luís Souto, por mais que queira transmitir o contrário (não o vai conseguir), ainda não percebeu que a sua “predestinada escolha” para candidato não é mais do que o resultado de um confronto político, dentro do PSD, entre Ribau Esteves e Luís Montenegro, aos quais se juntaram as cúpulas apoiantes de um e de outro (seja por dedicação, seja por gratidão, seja por conveniência ou por “águas passadas”). Não fosse essa conjuntura (que ainda deixa vincados resquícios) e nem em sonhos Luís Souto seria candidato à liderança da Câmara de Aveiro. Apesar disso, era interessante ouvir Luís Souto referir-se à casa dos Vilas Boas (antiga sede da Cerciav), à reversão da municipalização do Museu de Aveiro (que tanto criticou), ao desprezo com que o “seu” Governo nacional tratou (e tem tratado) o caso das urgências do Hospital de Aveiro, às portagens da A25 (sendo que a nova proposta foi entregue pelo PS na Assembleia da República), sobre a polémica com o novo Pavilhão da Universidade de Aveiro, sobre educação, sobre habitação acessível a todos, sobre os efeitos no território da concessão dos Transportes Públicos, sobre a falta de arborização urbana, sobre Planeamento e Ordenamento urbano e territorial, sobre Alterações Climáticas, … .
Mas mais surreal é este “idolatrar” de Luís Montenegro e do atual Governo. Ora (lá está) diz-nos a história e a experiência/vivência política que nada impacta resultados eleitorais da governação nacional com a local. Aliás, é, quer do ponto de vista eleitoral, quer na própria gestão municipal, contraproducente e, às vezes, um obstáculo a semelhança ou afinidade partidária. São milhares os exemplos no país e nos tempos. Mas a nível local, basta-nos recordar o desmentido de Ribau Esteves a Luís Montenegro em relação ao Hospital de Aveiro, o vazio e a indefinição da estratégia da ligação Aveiro-Salamanca apresentado pelo Ministro Miguel Pinto Luz ou o impacto para Aveiro (ou a falta dele) no projeto da ligação de Alta Velocidade Porto-Lisboa. Considerando (vale o que vale) a mais recente sondagem que aproxima o PS da AD, assim como a instabilidade do quadro parlamentar e da conjuntura política nacional, Luís Souto arrisca a ver cair por terra este ilusório argumento do “deixem os dois ‘Luises’ trabalharem”, sendo manifestamente preferível, por todo o contexto e razões, que seja Alberto Souto a trabalhar o futuro de Aveiro.
Do rigor…
Sobre esta vertente, não é fácil esquecer a forma lamentável como Luís Souto, na apresentação oficial da candidatura, desvalorizou e desrespeitou o papel e o trabalho da ex-Reitora da UA, Maria Helena Nazaré, atribuindo, indevidamente (e com falta de rigor) ao ex-Reitor Manuel Assunção o papel no desenvolvimento do PCI e da Fábrica da Ciência Viva. Serve como (mau) exemplo.
Quando os CTT entram na campanha…
Aqui nada há de surreal… é mesmo o ridículo da demagogia populista. Quando Luís Souto referiu, há dias, a importância de nascer e viver em Aveiro, deu mais um tiro nos pés. A incoerência é tanta que se esqueceu onde mora a candidata à Junta da Glória e Vera Cruz, onde mora (e de onde veio) a sua referência autárquica, Eng. Ribau Esteves (aliás, não me lembro - posso estar enganado - de ter visto ou ouvido Luís Souto, em 2013, na controvérsia interna do PSD nas eleições de então e na escolha entre Élio Maia e Ribau Esteves) ou até mesmo a candidatura às últimas legislativas de Luís Montenegro pelo círculo eleitoral de Aveiro, morando em Lisboa. Enfim… esta nem o diabo se lembraria.
Concluindo…
O Jornal de Notícias de hoje dá à estampa uma entrevista com Luís Souto. Seria repetitiva a abordagem e o esmiuçar de uma quantidade considerável de inverdades e falta de rigor. Nem faz sentido. Mas há uma expressão que se retém: o título. É do mais preciso e rigoroso, neste caso. Registe-se.
De facto, “Sou o pior adversário que [Alberto Souto] poderia ter".
É verdade… só que, infelizmente, não é pelas razões eleitorais, políticas ou partidárias… Infelizmente.