Parabéns Cicla Aveiro
Miguel Pedro Araújo começou bem a sua análise à iniciativa levada a cabo pela CiclaAveiro no seu blog "Debaixo dos Arcos", no âmbito do tema "Autárquicas 2025 (Aveiro): o debate e a realidade política". Até ao caractere 1150 (sem espaços), a análise manteve-se focada e bem estruturada. No entanto, a partir desse ponto, perde-se o foco e introduzem-se interpretações que não correspondem inteiramente aos factos, sendo apresentadas como verdades absolutas.
Na introdução ao evento, Miguel esteve bem ao reconhecer e agraciar a CiclaAveiro pela iniciativa, ao anunciar os candidatos, referir-se ao edifício, bem como à moderação de Sara Pires. Contudo, a sua análise subsequente levanta algumas questões. Por exemplo, afirmar, como se fosse uma surpresa, que — e cito — "PAN, BE, Livre e IL mostraram que não estão nesta campanha em Aveiro apenas para preencher espaço nos boletins de voto" — fim de citação — é, por um lado, desrespeitador, sugerindo que estes partidos seriam incapazes de expor ideias sobre mobilidade e repensar a repartição do espaço público. Por outro lado, o que efetivamente disseram foram lugares-comuns, com os quais qualquer um pode e tem de concordar. Aliás, houve unanimidade entre os candidatos, a CiclaAveiro, a moderadora, o próprio Miguel e eu. Nada disto mostra mais do que a sua presença no debate — algo que, de resto, seria expectável.
Dado o consenso sobre a necessidade de repensar a repartição do espaço público para a promoção de políticas de mobilidade ativa em Aveiro, o cerne da questão deveria estar em como concretizar essa mudança. E ficou claro, ainda que Miguel não o tenha referido, que o representante do BE limitou-se a insistir que a privatização dos transportes coletivos é a origem e o principal problema da mobilidade. Em resumo, esta foi a essência do seu discurso.
Alberto Souto de Miranda esteve mais solto, por razões compreensíveis, enquanto Luís Souto de Miranda demonstrou alguma tensão — ainda que menos do que se poderia esperar, dada a situação interna do PSD, que lhe é alheia. Muitos têm-no responsabilizado, quando, na verdade, os responsáveis foram aqueles que transformaram a sua candidatura — algo normal — numa situação extraordinariamente negativa, precipitando várias demissões.
É verdadeiramente extraordinário que membros do PSD se demitam por discordância na escolha do candidato, secundarizando os interesses de Aveiro, que teoricamente deveriam ser melhor defendidos por um candidato do partido. Se realmente acreditam que o candidato do PSD deve representar a melhor opção, por que insistem em fragilizar a candidatura após a sua confirmação? Nunca tinha visto tal coisa.
Em certos contextos, o comportamento de alguns partidos é impressionante. No caso em questão, talvez não seja propriamente o partido, mas sim um enclave dentro dele que prefere criar perturbação, minando o candidato como se ele não fosse a escolha certa para Aveiro. Importa lembrar que os demissionários representam apenas uma franja residual do eleitorado do PSD, não a totalidade dos seus eleitores.
Alberto Souto de Miranda tem mais experiência em debates, o que é natural. Aposta na esperança de que parte do seu passado em Aveiro esteja esquecido, deixando algumas boas recordações, como a ideia da BUGA e a extensão do canal da ria até ao Cais da Fonte Nova. No entanto, não me parece que seja o caso. Algumas memórias não se apagam, e uma boa ideia não significa necessariamente um bom projeto. A BUGA é um excelente exemplo: não funcionou bem nem no mandato de Alberto Souto de Miranda, nem no de Élio Maia, e pior ainda no de Ribau Esteves.
Aliás, a pior fase da BUGA aconteceu precisamente durante o mandato de Ribau Esteves, que impôs limites aos horários de utilização e manteve restrições territoriais que já vinham de Alberto Souto de Miranda. Criou uma BUGA que não é elétrica, quando poderia e deveria ser. Até hoje, nada foi feito nesse sentido, o que é uma aberração, tornando o sistema de bicicletas difícil de utilizar. Esta é uma responsabilidade de Ribau Esteves e não de Luís Souto de Miranda, que, enquanto Presidente da Câmara de Ílhavo, sempre se opôs às bicicletas partilhadas, afirmando: "Em Ílhavo, cada um monta a sua."
Luís Souto de Miranda demonstrou alguma tensão, o que é compreensível e humano. Se não estivesse tenso, seria irresponsável. O seu desafio é apresentar ideias para o território sem cair na dicotomia fácil de que tudo o que Ribau Esteves fez está certo ou errado. Não está tudo bem, nem tudo mal. O que existe precisa de reajustes, pequenos ou grandes, como em qualquer governança.
Quanto à Avenida Lourenço Peixinho, a solução mais simples e necessária passa por retirar o separador central, que é perigoso e impede a inversão de marcha dos meios de socorro. Criar uma faixa pedonal e BUS suficientemente larga, desde as pontes até à estação, e manter uma única faixa para automóveis, com retorno via ruas paralelas, seria a solução mais equilibrada, exequível e eficaz, com custos reduzidos.
Alberto Souto de Miranda mencionou ainda o TGV, sugerindo que Aveiro está fora da alta velocidade, o que não corresponde à verdade. Ademais, Luís Souto de Miranda nada tem a ver com essa questão.
Em suma, o debate trouxe ataques desnecessários, quando o objetivo deveria ter sido conhecer a visão dos candidatos para o futuro. Não houve vencedores nem vencidos, mas sim um confronto entre pragmatismo e aventureirismo, entre prudência orçamental e decisões de custo incerto.