Os (prévios) efeitos colaterais das legislativas 2025

Só o PSD é que ainda não percebeu que a narrativa do “passa culpas” ou da desresponsabilização pela crise política, já não surte qualquer efeito, nem motiva qualquer empatia nos portugueses.
Estrategicamente mal, arriscaram sem ponderar consequências, numa clara presunção de superioridade e desvalorização do contexto e da realidade… tomaram tarde a consciência do erro e perderam.
Não há outra dimensão na atual conjuntura: a responsabilidade da crise política instalada e das eleições antecipadas é de Luís Montenegro.
Luís Montenegro, entre esquemas, jogos, táticas comunicacionais (mesmo que muito questionáveis), estratégias políticas de poder, por sua única e exclusiva responsabilidade arrastou na lama todo um Governo, toda uma Assembleia da República, todo um país.
Esta pode ser a oportunidade que Portugal e os portugueses têm e precisam para revisitar e rever o conceito de serviço público, de cargo público e de funções públicas, para mudar uma cultura pública e política que tanto nos afasta, por exemplo, dos nórdicos.
- Já basta a constante desculpa para a ausência de ética, moral e transparência política no exercício de cargos públicos, para desculpar comportamentos condenáveis, mesmo que personificados. Como se essa ausência de valores não fosse tão preocupante como o preço do litro de leite, da gasolina ou da meia dúzia de ovos tamanho XL.
- Já basta encherem a boca e o peito com a personalidade ímpar de Francisco Sá Carneiro, mas só quando nos dá jeito e serve de arma de confronto político com a oposição. Porque quando recordamos os seus valores, como a clareza da afirmação “A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha” isso já é heresia.
- Já basta “gente que confunde o serviço ao país com o serviço dos seus próprios egos” (JMT, Público de 12 de março). A excessiva visão meramente funcional da política, sem que prevaleçam os valores, a ética, a transparência e a ‘prestação de contas’, mata, mais ainda, a democracia, destrói o regime e coloca a política nas mãos das ilegalidades, da impreparação e da incompetência.
Mas esta crise e a antecipação das eleições tem, no imediato, outro impacto: o de relegar para segundo plano, já tantas vezes tentado com a passerelle de putativos candidatos a Presidente da República, a importância das Autárquicas 2025, aquelas que mais diretamente impactam com a vida dos portugueses e do seu quotidiano. Umas eleições que, de forma muito direta e próxima, condicionam os seus espaços, as comunidades onde vivem ou trabalham, o seu bem-estar diário, as suas dinâmicas e vivências sociais.
O foco mediático, a pressão e disponibilidade a que as estruturas locais e distritais dos partidos são colocadas para que o resultado de 18 de maio seja o mais positivo possível, vai estagnar e adormecer o percurso que muitas das candidaturas autárquicas já desenvolvem e percorrem. Ganham com esta crise, os denominados Movimentos Independentes que arredados dessa pressão político-partidária podem, mais tranquilamente, ir construindo o caminho e fazendo o seu percurso eleitoral, sem grandes sobressaltos.
Já para não falar que será mais que óbvio, e natural, a projeção dos resultados eleitorais de maio para o processo eleitoral e para as campanhas locais da Eleição Autárquica de setembro/outubro próximo.
Anexo | Tamanho |
---|---|
Podcast Politicamente Insurreto (temporada #1 - episódio #20) | 7.22 MB |