O trilema das eleições e o desafio da mobilidade entre Aveiro e Ílhavo

Podemos pensar sempre que teremos que decidir e escolher entre a hipótese menos má de todas aquelas que nos são apresentadas.
É uma visão pessimista do mundo, onde não me revejo, mas vejo muitos que passam a vida a queixarem-se do que têm, do que existe, de quem governa, de quem deveria governar, de como o mundo deveria ser, a democracia com muitos limites quando ela não nos é conveniente.
Até a inteligência dos eleitores é posta em causa quando os resultados desviam da linha que alguns entendem ser a coisa certa, ao invés de questionar a eficácia, a afirmação clara de posições dos que foram, se ainda são, governo — mas por pouco. O PSD em 11 meses percebeu que havia problemas e começou a resolve-los. Outros hiperbolizaram um episódio menor com objetivos claros, e claro foi o desastre.
O poder às vezes perde-se — normal é —, mas perdê-lo por manifesta falta de clareza nas ideias, de coragem e sapiência para dizer o que tem que ser dito, nos momentos certos e de forma assertiva, mais ainda para quem não apresenta nenhuma ideia nova, nenhuma novidade, a não ser dizer o que todos, ou quase todos, pensam, mas de forma radical.
Percebe-se hoje, mais do que nunca, que na política o que gera mais votos são perceções e não boas ideias; que vale mais berrar contra todos os imigrantes por atacado e depois filtrar — fica bem ser moderado depois da radicalização ter dado resultados positivos —, do que tentar, de forma suave, resolvê-lo.
Dá mais votos gerar convulsões sociais imediatas à bruta, do que tentar resolvê-las de forma urbana, justa e equilibrada, o que demora o seu tempo.
Percebemos também hoje que, depois de toda a brutalidade da radicalização, os mais moderados já se vergaram à realidade; para combater discursos radicais que resultam, só há um caminho: evitar que haja razões que permitam o discurso, ou seja, fazer o que tem que ser feito, porque simplesmente ele é necessário — e em tempo útil.
Não há, muitas vezes, grandes vitórias, como vimos nas últimas legislativas, mas grandes perdedores e derrotados por culpa própria.
Alguns são pecados capitais, como ir a jogo por vontade própria, como fez o PS (embora diga que não), sem ter jogo e sem equipa — que tem que começar pelo líder.
Fazer de um pequeno caso um rodízio de carnes, onde há sempre mais um prato e algo de novo, até que a fome ou o enjoo não nos permitam continuar. Com uma ajuda inexcedível da comunicação social — coisa que tem que ser revista e analisada no curto prazo —, porque, embora sem sucesso, tudo foi feito para prejudicar dois partidos que não necessito de enumerar, porque foi evidente.
Por Aveiro e Ílhavo — gosto sempre de referir estes dois municípios em conjunto —, porque efetivamente, embora com uma matriz cultural e histórica muito diferentes, eles são dois irmãos que não se podem separar e tratar sem os pensar de forma integrada.
Porque, para além da continuidade espacial entre os dois, há problemas e soluções do território e das pessoas que é impensável não os tratar de forma conjunta.
Passaram-se décadas onde não foi percecionada esta necessidade de perceber as pessoas, o território, a ponte, a Costa Nova e a Barra.
Um clássico exemplo foi considerar como um mal necessário, uma inevitabilidade, durante todo o verão, toda a gente dos dois municípios ficar horas na autoestrada e às voltas depois nas praias, para poder estacionar — ou desistir do verão no seu próprio território.
A ideia mais básica e simples de uma ciclovia que una Aveiro à Gafanha da Nazaré e termine nas praias nunca foi conseguida, porque não foi considerada relevante.
A lógica incrustada no pensamento vigente até hoje é que os carros são para levar para as praias — ponto final.
Em 2017, quando fui candidato à Presidência da Câmara Municipal de Ílhavo, a grande mensagem era essa, englobada na mobilidade suave e nas cidades para os munícipes.
A mensagem não foi percebida na altura, como se verificou, e, entre inúmeras razões, foi a descoordenação entre Ílhavo e Aveiro como parceiros estratégicos na solução.
Hoje, se os dois candidatos da AD, Luís Souto de Miranda e Rui Dias, perceberem a urgência de tratar os problemas, pelo menos da mobilidade, de forma conjunta, todos teremos a ganhar — e muito.
Não é possível para nenhum aveirense ou ilhavense ir para a praia sem atravessar pelo menos uma ponte, mas o problema não se resolve criando mais pontes, como alguns preconizam.
Há um problema que Luís e Rui já identificaram: o território é exíguo nas praias para poder acomodar tantos carros, e esse escoamento, para os poder estacionar, entope as pontes.
Solução simples — em teoria: uma forma alternativa de chegar às praias com transportes coletivos em constante movimento, com paragens em locais adequados, e que consigam transportar bicicletas.
E um local do lado de cá da laguna onde se larguem os carros, e alguém que leve as pessoas para a Barra ou Costa Nova, por terra ou por água.