O homem que quer evangelizar os aveirenses para a religião PS

O homem que quer evangelizar os aveirenses para a religião PS
Miguel Araújo — cito: “Crente, já há alguns (bastantes) anos que perdeu a ‘fé’ na Igreja, apesar do passado seminarista, da equipa diocesana da pastoral juvenil e do progressista Movimento Católico de Estudantes” — ficou, no entanto, um fiel apóstolo e seguidor de Alberto Souto de Miranda e, simultaneamente, um profeta que avisa para os perigos que aí vêm. Cito novamente: “Aos aveirenses… não é por falta de aviso. Resta-nos, felizmente, Um Futuro Com Todos, para um Aveiro muito melhor, com Alberto Souto.”
O artigo que escreveu — “Triste atrevimento e descaramento político em Aveiro” — é, de facto, ele próprio, sem mais, um despudorado servilismo ao PS e, naturalmente, a Alberto Souto de Miranda, que — digo eu — não precisa de tais incursões, muito menos de alguém que clama: “Eu estou a avisar... depois não digam que não avisei.”
Este artigo é, esse sim, um triste atrevimento e descaramento político de um adepto do PS. Não digo militante ou simpatizante, mas prosélito, como se de uma claque de futebol se tratasse. Vale tudo, desde que defenda, supostamente, o seu clube.
Enganou-se com João Campolargo — e ainda bem que corrigiu, ele estava lá. Conseguiu, no entanto, encontrar uma falta de respeito onde ela simplesmente não pode existir. Cito:
“O que Aveiro e os aveirenses puderam assistir hoje foi a um deplorável e criticável aproveitamento político de um evento popular, de e para todos, sustentado no espírito competitivo e desportista que sustenta o atletismo e o desporto em geral. Uma falta de ética e de respeito, seja por TODOS OS OUTROS candidatos e atores políticos, seja para com os aveirenses, seja pelos participantes na prova. UMA VERGONHA, mesmo que não seja, já, novidade alguma.”
Vejamos a aberração da análise dos factos:
Luís Souto de Miranda costuma caminhar, costuma caminhar por Aveiro e costuma ir à Maratona Europa — portanto, estar lá é absolutamente normal.
Luís Montenegro, Primeiro-Ministro, ter estado presente, assim como o Secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, é um bom sinal de união entre o Primeiro-Ministro (e líder do partido) e o candidato à Câmara Municipal de Aveiro. É uma coisa natural — tal como é natural Alberto Souto não ir caminhar ou correr, e Ribau Esteves ir correr, porque sempre correu. Pedro Nuno Santos, que eu saiba, não corre, nem achou importante vir — a vida é assim.
José Sócrates corria. Marcelo, em campanha, atirou-se ao Tejo numa mensagem política. Pedro Nuno Santos vendeu bolas de Berlim nas férias. Valentim Loureiro oferecia eletrodomésticos em troca de votos. Isaltino apregoa restaurantes em Oeiras. Enfim, nestas que citei estão algumas reprováveis práticas políticas. Alberto Souto promete — não num silêncio ensurdecedor, mas num ruído que nos pode ensurdecer — aquilo que todos podem prometer, somando-lhe aquilo que só ele acha importante.
Mas onde está a falta de ética e de respeito de Luís Souto de Miranda pelos outros candidatos, pelos atores políticos, pelos aveirenses? Em lado nenhum.
Quem se pode sentir ofendido por dois “amigos” e apoiantes políticos de Luís Souto de Miranda terem vindo a Aveiro fazer a caminhada e, claro, aproveitado para confirmar o seu apoio? Ninguém no seu perfeito juízo.
É evidente que são apoiantes com outro peso. Mas, e agora — já não podemos ter amigos e apoiantes mais importantes do que outros? Teremos de impor “cotas” de amigos? Só podemos trazer apoiantes que não estejam hierarquicamente acima de nós? Este tipo de pensamento é aberrante, porque não tem substância.
Tem, isso sim, um ressentimento do PS, que, mesmo com todos os casos, casinhos, meias-verdades, omissões e com um claro "timing" falhado por parte de Luís Montenegro (LM) em esclarecer certas situações, vê os portugueses a continuarem a dar-lhe vantagem nas sondagens para ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal. E isto é coisa que o PS não consegue suportar — a sua incapacidade de, mesmo em momentos favoráveis, perder terreno.
Diz-nos também que os portugueses distinguem bem o bem do mal, quem governou bem e quem poderá vir a governar pior.
As questões que ainda não foram decididas por quem de direito sobre LM não são, pelos vistos, relevantes para os portugueses, mas para o PS. Em contrapartida, os portugueses ou não apoiam Pedro Nuno Santos (PNS), ou não apoiam o PS.
Terceira hipótese: se o PS mudar de candidato, o PS pode até ter alguma hipótese.
Resumo:
PNS fala menos do que LM e não chega lá.
Luís Montenegro enerva-se mais do que devia nos debates — e não perde.
Alberto Souto tem falado mais do que Luís Souto, mas isso não significa, como diz Miguel — cito:
“não consegue, por si só e com os seus pares, marcar a diferença, marcar um posicionamento, ter condição e capacidade de liderar uma autarquia, porque continua o vazio político e estratégico gritante e silenciosamente ensurdecedor (uma total falta de projeto e ideias), apenas sustentado por estas tristes e reprováveis subserviências partidárias. Sabemos ao que vem e como vem… fica apresentado.”
Miguel Araújo está obcecado com LM — porque Luís Souto de Miranda (LSM) tinha lá os seus pares e, mais um: LM.
E considerar que, porque ainda não apresentou o seu programa (depois de LSM já ter dito que o fará a seu tempo), existe um “vazio político e estratégico” é não perceber as diferentes formas de combate político: há quem queira disparar todas as munições no início e quem as vá gerindo.
Isto chama-se liberdade, estratégia, estilo.
Miguel Araújo faz de arauto da desgraça de uns e da vitória de outros — sem outro argumento senão a sua fé. Fé que já perdeu na Igreja e que agora transfere para a análise política, de forma que sinceramente me faz pensar que talvez também deva abandonar a fé que diz ter na sua própria leitura política — porque não a faz de forma séria, seja por descuido ou intenção. É igual: apresenta-se como erudito, com conclusões agudas e supostamente assertivas, sobre o que nem num cenário onírico se pode concluir.
Confunde o seu desejo de que Luís Souto de Miranda não tenha ideias para Aveiro com uma realidade que não confirma esse desejo — antes, desmente-o.
Quer impor-lhe um ritmo de comunicação e apresentação de ideias igual ao de Alberto Souto, para que fique igualmente exposto — e, quem sabe, esgotado — a cinco meses das eleições.
Alberto tem a vantagem (e desvantagem) de ter já um guião com 101 ideias. Vantagem: estão organizadas. Desvantagem: estão todas expostas a escrutínio, uma a uma.
Luís escolheu outro caminho — e esse caminho não é o da facilidade. Não é o de criticar as ideias do adversário, é o de apresentar as suas no tempo certo.
Miguel considera um “triste atrevimento e descaramento político” vir o Primeiro-Ministro a Aveiro participar num evento que consistia… em caminhar e correr.
Ora vejamos:
- O evento era oficial, anual e da autarquia;
- A inscrição era aberta a todos os cidadãos, independentemente da filiação partidária;
- Não houve bandeiras, slogans, camisolas de campanha ou propaganda explícita;
- Tanto o candidato como o Primeiro-Ministro participaram como cidadãos inscritos, usando a mesma camisola do evento que os demais;
Portanto, mesmo que o Primeiro-Ministro tenha feito — e fez — declarações de apoio político quando questionado pela imprensa, isso não constitui nenhuma ilegalidade nem abuso de poder. É, no máximo, uma jogada política inteligente e bem calculada, que aproveita um evento de grande visibilidade para reforçar apoios — algo perfeitamente habitual em períodos pré-eleitorais.
Não esquecer que em 2021, no Município Vizinho, João Campolargo, o candidato independente, com poucos meios comparativamente aos outros partidos (PS e PSD), numa caminhada silenciosa e discreta, ganhou a Câmara Municipal. E isto foi uma lição para todos: não menosprezes nunca o teu adversário, nunca confundas poucas palavras com ausência de ideias, não critiques os timings dos outros e não penses que muito verbo em grandes ajuntamentos vale mais que muito verbo em pequenos grupos.