Artigo de Opinião

O "bengalismo" partidário

15.04.202509:39
Apresentação de candidatura PSD Aveiro

Percebe-se (e percebeu-se, nitidamente) toda a necessidade de mobilização da máquina nacional e distrital do PSD para a apresentação da candidatura do PSD/CDS/PPM à presidência da Câmara Municipal de Aveiro (realizada neste domingo, ao final da tarde).
A escolha do local, o mesmo espaço que Alberto Souto encheu e transbordou na apresentação do seu livro “Um futuro para Aveiro”, que é mais do que o elencar das 101 propostas que apresenta, correria o risco de ficar aquém das expetativas de “assistência”. Solução?! O recurso ao aparelho distrital e nacional, à “bengala” partidária da liderança em plena agenda eleitoral legislativa, para compor o espaço. Cheio, é certo, sem ultrapassar a sua limitação, mas diga-se, em abono da verdade, com uma larga presença de não eleitores ou de personalidades “estrangeiras” ao universo do eleitorado local.
Um contexto que só comprova, independentemente da presença, sofrível e sofrida, do atual presidente da Câmara Municipal de Aveiro, a falta de empatia, de suporte e apoio que esta candidatura tem a nível local. E que é esta a realidade e os contornos que interessam em setembro/outubro de 2025, e não o que se projetará e resultará do processo eleitoral de maio próximo.

Olha-se para as imagens da assistência, excluindo os aparelhos distrital e nacional desta trilogia partidária de suporte desta candidatura (que neste day after já esqueceram Aveiro (para rumarem a outras paragens e a outros objetivos políticos) e percebe-se o impacto que esta escolha, da exclusiva responsabilidade de Luís Montenegro e da Comissão Política Nacional do partido, teve no PSD Local. Realidade ampliada com a recente elaboração da lista de deputados às legislativas, entradas e saídas, amuos e estupefações, até inacreditáveis “facadas” políticas tornadas públicas, por vingança, amuos, inveja ou despeito pessoais.
Tal como já aqui referi, os problemas internos do PSD (Aveiro e Nacional) e os seus impactos na candidatura, o partido que os resolva, se souber ou se quiser. A questão é que todas estas envolvências (a que os outros partidos não estarão imunes), impacta fortemente na imagem que os cidadãos constroem dos políticos, do exercício da política e da própria democracia.
Pelo que esta candidatura representa no panorama político local, a adjetivação e os juízos de valor que parte do PSD Aveiro já formulou (que se subscrevem e se notam, claramente, no dia-a-dia) sobre a ausência de competência, a falta de aptidão (e de ambição, já agora) governativa, a impreparação para o cargo e exigente função autárquica, o evento deste domingo teria passado entre os pingos da chuva, ter-se-ia tornado indiferente e inócuo. Não fora o facto do nome mais falado, o tema mais abordado e referenciado, ter sido o de Alberto Souto de Miranda. Curiosamente, o candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Aveiro.
Não se encontrou uma referência programática, um compromisso com as necessidades e o bem-estar dos aveirenses ou de um projeto/programa para o desenvolvimento do Município. Não se ouviu nada. Nem mesmo o que seria óbvio: a apresentação de uma equipa, pelo menos no que respeita a candidaturas nas Freguesias. Aliás, nem nas freguesias se ouviu falar.

O que se ouviu foi apenas a “sombra” da oposição, do candidato Alberto Souto que, ao contrário do que tanto propela o PSD Aveiro (ou o que resta dele), afinal incomoda esta coligação tripartidária (mais do que toda as outras conhecidas candidaturas juntas), porque sabemos que é sinónimo de valor acrescentado, representa visão e competência de gestão e governação local, significa que tem um caminho e um projeto construídos com todos, partilhado e auscultado por todos (algo que já está a ser feito há mais de 2 meses), e não um vazio completo ou um insignificante elencar de meras banalidades circunstanciais.
As mesmas banalidades (como tantas outras já por algumas vezes usadas como arremesso politiqueiro) que foram referidas quer pelo candidato do PSD/CDS/PPM, quer pela própria “bengala partidária” do líder do PSD nacional. Nomeadamente, mais uma vez sem mais nada para dizer aos aveirenses, através da referência direta a Alberto Souto, a acusação (até mais do que a crítica) de que o candidato do PS terá alguma coisa mal resolvida com o passado.

Finalmente já perceberam que a “dívida” não é mais argumento eleitoral (alguma vez haveria de chegar, mesmo que mínimo, algum bom senso). É que ela nunca foi negada, mas antes por várias vezes explicada… impedida de ter sido “amortizada” (seja pela interrupção do ciclo governativo - a derrota eleitoral - seja pela alterações das regras orçamentais e das finanças locais à data), já por múltiplas ocasiões referenciada nos investimentos municipais (muito para além do Estádio, consensual em toda a comunidade aveirense e que durante todo o dinamismo que Aveiro acolheu em 2004 ninguém se preocupou em criticar): equipamentos desportivos  de lazer, urbanismo, centros sociais, saneamento básico (a conclusão do que Girão Pereira já tinha iniciado), equipamentos públicos nas Freguesias, habitação, navegabilidade dos canais da Ria, etc.). E tudo isto faz a grande diferença para a candidatura do PSD/CDS/PPM… é que Alberto Souto e o PS respeitam e orgulham-se desse legado, construindo Com Todos, com essa experiência, um novo compromisso com o Futuro para Aveiro e para os Aveirenses. Não precisa de se apoiar e socorrer do legado alheio como Luís Souto, que herda um trabalho realizado (sem querer qualificá-lo ou tecer algum juízo de valor), não por mérito, envolvimento e comprometimento com o mesmo, mas por total desrespeito político e partidário que a Comissão Nacional do PSD e o seu responsável máximo tiveram com os verdadeiros obreiros. Se esse legado serve politicamente para esta alimentar indevidamente candidatura, porque é que não serviria, pelo menos, também, a quem o implementou ao alongo de 12 anos? Há uma total contradição que não se percebe.
Descontextualizar os tempos, a linha temporal dos acontecimentos e da realidade autárquica, nacional e internacional (tão diferente dos tempos de hoje) é não ter a mínima noção do que foram as governações autárquicas há mais de 20 anos (basta recordar, entre tantos outros município, que Ílhavo, à data, recorreu ao PAEL - programa de recuperação financeira - para solver, também, as suas dívidas, que só “saldou” em 2019/2020), é não perceber as dinâmicas e as realidades atuais, que, obviamente, só se alcance com o conhecimento e experiência adquiridos. E não o aparecer no mundo autárquico de paraquedas ou com um “empurrãozinho” político fruto de guerrilhas internas que espelham descrédito, desconfiança, inconsistência e falta de solidez estrutural.

Se Alberto Souto tem algo a saldar com o seu passado autárquico? Tem… tem ele e têm muitos aveirenses para com ele. Tem a saldar a confiança na experiência, no saber, numa visão consistente para o desenvolvimento do Município como um todo e com todos, de forma sustentável, dinâmica, com projetos sociais inclusivos, com ordenamento e planeamento do espaço público devolvido a quem o habita, de acessibilidades, de atratividade (onde a habitação é prioridade), de melhorias nas condições de mobilidade, sem esquecer a educação, a cultura e o lazer/desporto.
É isto que incomoda o que resta do PSD/CDS/PPM. É que em contraponto com o vazio e a preocupação com a estagnação de Aveiro, há a confiança num projeto autárquico diferenciado para o Município e que tem tido o envolvimento de milhares (sem qualquer erro de cálculo) de aveirenses, e não de um homem só, de uma equipa desalinhada ou da necessidade que outros, que só nos visitam em dias de festa, para nada terem de valor a acrescentar ou a dizer, a não ser o despeito pelo legítimo direito democrático de Alberto Souto querer ser Presidente da Câmara Municipal de Aveiro.

Felizmente, Aveiro pode esperar Um Futuro Com Todos, com Alberto Souto e o PS Aveiro… com projeto, visão, proximidade, envolvimento, sem necessitar de legados de terceiros, nem bengalas políticas externas.