Artigo de Opinião

A hipocrisia política e governativa: uma ofensa à mulher

06.08.202514:50
Amamentação - Campanha SNS

A hipocrisia política é uma das piores imagens do atual Governo.
Depois do ataque às mulheres, nomeadamente às mulheres mães (e, consequentemente, um ataque à família), com a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, em várias entrevistas, a levantar suspeitas sobre o direito ao período de amamentação, sem qualquer fundamentação ou argumentação concreta (apenas com base em perceções e no seu pseudo conhecimento pediátrico)...
Depois da Ministra questionar, só por retórica ou demagogia, embora propositadamente, a amamentação após os 2 anos de idade da criança, sem o mínimo de preocupação pelas dificuldades que atravessa um número significativo de mulheres mães para poderem amamentar os seus filhos, desde que nascem...
Depois da proposta de revisão da Lei Laboral que pretende restringir o período de aleitamento materno, entre muitos (cerca de 100) outros ataques aos trabalhadores e às famílias (curiosamente, "salvam-se" as empresas)...
O SNS e o Ministério da Saúde exercem o pior spin e marketing político com esta campanha pública. E isto só tem uma adjetivação: uma ofensa às mulheres mães (já para não falarmos num falhanço de implementação de políticas públicas que promovam a reversão do "inverno demográfico" a que assistimos).
Nem vale como campanha e sensibilização pública... isto é completamente ofensivo.
Mais do que cuidar (o que só por si bastaria como valor), está em causa a dignidade da mulher e a sua difícil e consciente decisão/opção de assumir a maternidade.
Se há abusos (conhecidos, relatados, investigados e não um "eu acho que..." ou "disseram-me que...") é para essas situações que existe fiscalização e ação judicial. O resto... é conversa populista programática e com dois propósitos mais que óbvios: cedência à pressão do empregador e ao radicalismo conservador da direita (homem trabalha - mulher fica em casa).

E não foi assim tão distante a apresentação polémica do livro "Identidade e Família", em abril de 2024, e pouco menos de duas décadas (18 anos) quando, em 2007, 41% dos inquiridos no programa da RTP "Os Grandes Portugueses" escolheu Salazar como a principal personalidade portuguesa mais marcante da nossa história. Já na altura, entre alguma (ligeira) indignação, houve quem se risse e quem assobiasse para o lado. Curiosamente, a mesma reação quando, no presente espaço público digital, têm surgido, de forma inédita, inúmeras manifestações de registo do 55.º aniversário do falecimento do ditador ou a celebração anual, cíclica, do seu nascimento.
A conjuntura política atual, à qual o Primeiro-ministro teve o descaramento e o desplante de adjetivar de "madura", como crescente maturidade e responsabilidade democrática, apenas tem promovido e facilitado este retrocesso civilizacional, democrático e político.
Perante uma nova "Mocidade Portuguesa" (travestida de partido político), não faltará muito para o regresso aos perigosos, dolorosos e trágicos tempos de "Deus, Pátria e Família" ("tudo pela Nação, nada contra a Nação).