UA: Estudo sinaliza que jovens continuam sem assento no parlamento português.

A tendência de envelhecimento dos deputados no parlamento português tem-se acentuado. Em 2013, a idade média dos deputados era de 45,9 anos. Em 2022, subiu para 49, segundo o estudo realizado na Universidade de Aveiro (UA) intitulado Jovens com asas cortadas: Colmatar o fosso entre o recrutamento e a representação jovem nas listas de candidatos.

Apesar de serem o elo formal entre os partidos e as novas gerações, as juventudes partidárias não têm conseguido garantir uma presença significativa de jovens na Assembleia da República. 

No início da legislatura de 2024, apenas nove deputados com menos de 30 anos foram eleitos, menos três do que na legislatura anterior. 

Isto representa apenas 3,91 por cento dos parlamentares, um número muito aquém dos 15,69 por cento de jovens (entre os 15 e os 29 anos) que compõem a população residente em Portugal, segundo dados da Pordata.

“As taxas de representação jovem têm vindo a cair. Com menos de 35 anos já são poucos, com menos de 30 são mesmo muito poucos”, salienta Patrícia Silva, docente e investigadora no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da UA, que, a par com o Carlos Jalali, investigador no mesmo departamento, assina o estudo. 

Edna Costa, da Universidade do Minho, é outras das autoras do estudo.

Apesar de muitos jovens integrarem as estruturas internas dos partidos – “a parte invisível do iceberg”, como descreve o estudo –, continuam a ser preteridos nas listas eleitorais em lugares elegíveis.

Juventudes partidárias: ponte ou barreira?

Em teoria, as juventudes partidárias deveriam ser a principal via de entrada dos jovens na política. 

Contudo, a própria definição de “juventude” já impõe limites: aos 30 anos, cessa, por norma, a possibilidade de integrar estas estruturas. 

Além disso, como destaca Patrícia Silva, a maioria dos jovens que nelas participa tem um perfil social específico: tendem a ser jovens urbanos, com ensino superior, com disponibilidade de tempo e, muitas vezes, com ligação familiar à política.

Estes jovens, apesar de ativos dentro das juventudes partidárias, raramente conseguem romper o “gargalo” do processo de seleção de candidatos. 

“Os jovens não desaparecem do processo, mas tendem a ser colocados em posições das listas candidatas que dificilmente garantem a sua eleição”, explica Patrícia Silva. 

O estudo sublinha que são sobretudo os mecanismos informais, como as redes pessoais e o apoio da liderança partidária, que determinam o sucesso de uma candidatura jovem – e não o mérito ou a presença numa ‘jota’.

Sistema eleitoral fecha portas

A estrutura do sistema eleitoral português também contribui para este afastamento. 

Portugal é um dos poucos países da UE com listas fechadas em eleições legislativas. 

Este modelo dá total controlo às direções partidárias sobre quem entra nas listas e em que posição – fator crucial, já que, nestas listas, o lugar determina quase diretamente a eleição. 

Num sistema de listas abertas, por oposição, os eleitores poderiam alterar essa hierarquia.

Sem alterações no sistema, resta aos partidos o esforço de se aproximarem dos jovens – ou, por outro lado, que os jovens se aproximem dos partidos. 

Mas há obstáculos sérios. Por um lado, existe uma perceção generalizada de corrupção associada aos partidos, o que afasta os jovens. 

Por outro, muitos jovens sentem-se utilizados como meros transmissores da mensagem partidária, e não como participantes plenos. 

“É uma ponte com sentido único”, resume Patrícia Silva.

Reinventar a participação

Apesar do desinteresse pelas formas tradicionais de militância, a participação política jovem não está em declínio – está a reinventar-se. 

“Os jovens continuam ativos, mas noutros formatos: manifestações, petições, participação digital”, destaca a investigadora. Estes novos modos aproximam os padrões portugueses dos verificados noutros países europeus.

Ainda assim, o afastamento dos jovens das listas e da representação institucional impede uma verdadeira representatividade. “Se os partidos não falam para pessoas como nós, porque haveríamos de participar?”, questiona Patrícia Silva.

Texto e foto: UA