Estudo da UA apela a mais apoios no financiamento do turismo social.

Fazer turismo em família promove não só o bem-estar dos indivíduos como, no geral, das próprias famílias, já que contribui para o reforço dos laços familiares e, por essa via, para o aumento da coesão social. E são precisamente as famílias economicamente carenciadas as que sentem os benefícios do turismo com maior intensidade. Estas são algumas das principais conclusões da investigação de Joana Lima, que procurou, pela primeira vez em Portugal, perceber a importância do turismo para famílias e, particularmente, para as famílias economicamente carenciadas. Face aos resultados, que apontam que quase 30 por cento das famílias da região centro não fizeram turismo nos últimos quatro anos por questões económicas, o trabalho apela à responsabilidade social das empresas, nomeadamente das ligadas ao Turismo, para que ajudem a financiar programas de turismo social.

“A prática de atividades turísticas, apesar de considerada um direito básico de qualquer ser humano, na atualidade ainda não é uma prática acessível a todos os elementos da sociedade”, aponta Joana Lima, autora da tese do doutoramento em Turismo, que entrevistou 1165 famílias com filhos menores de idade dos concelhos de Aveiro, Covilhã, Fundão e Ílhavo. Os resultados obtidos junto destas famílias revelam que “existe uma percentagem significativa [29 por cento] de famílias com filhos dependentes que não realizaram viagens turísticas nos últimos quatro anos”. Os motivos apontados pelas famílias, descreve a autora que foi orientada pelas investigadoras Celeste Eusébio e Celeste Amorim Varum, estão diretamente ligados aos “constrangimentos financeiros” que colocam um stop na hora da aquisição de produtos turísticos.

E são precisamente as famílias sem meios económicos para fazerem as malas e saírem de casa durante as férias, aquelas que mais sentem que esses momentos constituem oportunidades de reforço dos laços familiares, “oportunidades que, só por serem diferentes do habitual, promovem também o relaxamento e alívio do stress quotidiano”.

Mas para que as famílias economicamente carenciadas possam ter acesso ao turismo, “é fundamental apostar em iniciativas, como por exemplo, programas de turismo social, que diminuam as barreiras existentes a essa prática”. No entanto, reconhece Joana Lima, “as limitações orçamentais nacionais atuais indiciam que a orientação de fundos públicos para este domínio poderá não ser viável no curto prazo, apesar de estes períodos de maior austeridade económica, se associarem a um aumento da exclusão social e, consequentemente, a um aumento da necessidade destes programas”. Uma realidade, defende o estudo, que “torna imperativo encontrar novas fontes de financiamento deste tipo de Programas, estimulando a inovação social, por exemplo, apelando à responsabilidade social das empresas da área do turismo e de outros setores para participarem nesta forma de promoção da inovação social no combate à exclusão social”.

“Acreditamos que o turismo em família tem um potencial extraordinário enquanto promotor de benefícios para os indivíduos e para as famílias, particularmente para as famílias economicamente carenciadas com filhos”, afirma Joana Lima. “Acreditamos igualmente que a dinamização de Programas de Turismo Social contribuirá para a democratização da atividade turística e proporcionará retorno para a sociedade sob a forma de aumento da coesão social e valorização da função da Família na prossecução desse objetivo”.

No sentido de combater as desigualdades de acesso ao turismo, “a integração de programas de turismo direcionados para os grupos sociais desfavorecidos em políticas sociais é uma medida que, apesar de já despertar o interesse de várias entidades, ainda não tem merecido reconhecimento e investimento generalizado e efetivo”.

 

 

Texto: UA