Os ortopedistas Arminda Malheiro e Filipe Malheiro inovaram no tratamento cirúrgico dos chamados “pés de lagosta” e a sua técnica bem-sucedida, desenvolvida no Hospital Dr. Francisco Zagalo – Ovar, acaba de ser divulgada em artigo científico.
Os “pés de lagosta” são uma malformação congénita rara caracterizada por um defeito que se estende desde o antepé até ao tarso, podendo afetar um ou mais dos raios centrais do pé. A correção cirúrgica deve ser tentada precocemente de forma a evitar futuras adaptações patológicas compensatórias do pé.
Os autores apresentam um caso de uma mulher adulta com calosidades dolorosas nos pés e dificuldade a calçar sapatos.
Após ter sido realizado o diagnóstico, foi submetida a tratamento cirúrgico. Após um ano de “follow-up”, a doente encontra-se muito satisfeita com o resultado, e foi proposta para a correção cirúrgica do outro pé.
“Estamos a falar de um tipo de problemas tratado em crianças e, neste caso particular, em idade adulta, não havia nada escrito na literatura científica”, afirma Filipe Malheiro. “São conhecidos os fixadores externos, não muito cómodos para o doente. Por isso, tentámos arranjar uma solução que, felizmente, foi bem-sucedida”, salienta.
O caso foi dado a conhecer ao mundo numa das últimas edições do “Journal of the Foot and Ankle", uma publicação científica, que tem como objetivo divulgar trabalhos sobre temas de medicina e cirurgia do pé e tornozelo.
“Ficámos muito orgulhosos de podermos contribuir para o conhecimento. De facto, nós inovámos na forma como tratámos o pé da paciente”, realça Arminda Malheiro.
Não existe consenso no tratamento cirúrgico desta deformidade, e pela sua raridade, poucas publicações discutem o tratamento cirúrgico. Esta é apenas a segunda descrição de um tratamento cirúrgico de “pés de lagosta” – em idade adulta - e o primeiro em que foi utilizada fixação interna.
A deformidade é cientificamente denominada de ectrodactilia, uma anomalia congénita do desenvolvimento embriológico muito rara (1:90.000) que afeta, predominantemente, o sexo masculino. Pode aparecer de várias formas com uma probabilidade de 50 por cento se um dos pais tiver a patologia. Na maioria das vezes acomete ambos os pés e, eventualmente, pode afetar ambas as mãos.