Um sistema de gestão da produção, instalado por uma empresa norte-americana há cerca de 16 anos numa fábrica de confeções em Carregal do Sal, foi remodelado em resultado de parceria com o Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro (UA). A parceria correu tão bem que, findo o desenvolvimento nesse âmbito, foram contratados um doutorando e um investigador da UA. Um exemplo para muitas outras empresas do sector que enfrentam o mesmo problema de desatualização do sistema.
Apesar de desejável, a solução é ainda muito pouco comum entre as empresas portuguesas. A EuroRalex, instalada em Carregal do Sal, que exporta cerca de 90 por cento do vestuário que produz e tem, entre outros clientes, multinacionais tão prestigiadas como a Calvin Klein ou a Tommy Hilfiger, contratou um doutorando da UA, prestes a defender a tese, e um investigador de pós-doutoramento que tinham vindo a participar nos trabalhos de remodelação do sistema de gestão da produção daquela unidade fabril.
Várias empresas do sector têxtil enfrentam os mesmos problemas de desatualização, paragens frequentes e perda de dados do sistema, causados por uma solução de gestão da produção, entretanto descontinuada, e que fora montada há mais de 10 anos por uma empresa norte-americana. A EuroRalex arriscou e investiu na mudança. Contratou uma equipa do Departamento de Engenharia Mecânica da UA, liderada pelo docente e investigador Vítor Santos, para realizar um diagnóstico da situação.
O desenvolvimento dividiu-se em três fases. Tentando manter, tanto quanto possível, a estrutura física da linha de produção existente, a primeira fase de estudo, mais do que um simples diagnóstico, já propunha algumas soluções. Para além do coordenador da equipa, participaram no trabalho: Jorge Ferreira, também docente e investigador do Departamento de Engenharia Mecânica, e Ricardo Pascoal, investigador de pós-doutoramento no mesmo departamento. Jorge Almeida, estudante de doutoramento, começou a colaborar na segunda fase, já tendo em vista a terceira fase que culminaria com a instalação de uma unidade de teste numa das três linhas de produção.
O conjunto de ferramentas informáticas desenvolvido funciona agora sobre sistemas operativos open source. Acrescenta-se a opção de se utilizar ambientes de desenvolvimento e bibliotecas aderentes ao mesmo princípio, tendo sido selecionadas aquelas que a administração entendeu oferecerem compatibilidade com desenvolvimentos proprietários. O custo de possuir o novo sistema está assim limitado ao de desenvolvimento e instalação, oferecendo atualmente a grande vantagem de permitir atualizações, melhoramentos e ampliações, e de os dados poderem ser visualizados em qualquer dispositivo com acesso à Internet, como smartphones ou tablets. Os controladores de cada posto de trabalho foram redesenhados. Aliás, os chefes de linha usam, cada um, o seu tablet, podendo aceder, em permanência, aos dados que permitem a gestão da linha que está sob sua alçada.
“Não há dúvida que houve uma grande coragem por parte da empresa ao investir na remodelação do sistema de gestão de produção”, comenta Vítor Santos. “Da nossa parte, os prazos foram cumpridos; por parte da empresa, houve sempre uma grande verticalidade”, sublinha o professor do Departamento de Engenharia Mecânica.
Jorge Almeida e Ricardo Pascoal, contratados pela empresa após o verão de 2015, têm vindo a desenvolver e ampliar as funcionalidades do sistema que ainda se encontrava num fase pré-industrial quando terminou a colaboração com a UA. “Pretende-se limar arestas, desenvolver o sistema até ao limite e aplicá-lo a todas as áreas da empresa”, afirma Eduardo Abrantes, diretor comercial e de desenvolvimento da EuroRalex.
"Temos agora melhores ferramentas para atuar no tabuleiro internacional, onde qualquer ajuda à otimização da produção, incluindo uma melhor avaliação de custos por peça, faz a diferença”, considera o responsável da empresa, satisfeito com a colaboração da UA: “Houve sempre abertura e honestidade de parte a parte, evitando perder tempo com excessiva burocracia”.
Esta parceria bem-sucedida é mais um exemplo do trabalho que o Departamento de Engenharia Mecânica e a UA, em geral, têm vindo a realizar em prol das empresas, da economia e da sociedade.
Texto e foto: UA