Jorge Neves disse hoje que o seu afastamento, definitivo, de treinador do Beira-Mar foi precedido de outras tentativas. "Cheguei a estar despedido três ou quatro vezes. Até quando estávamos no quarto lugar, a melhor classificação", afirmou hoje num encontro destinado a clarificar algumas circunstâncias da saída.
O técnico desvalorizou o pretexto dos maus resultados.
"O Presidente reconheceu que é possível lutar pela súbida. Acho que fizémos algo de fantástico no Beira-Mar", disse.
Jorge Neves denunciou interferências do Diretor Geral do futebol profissional, Kal Baiano, ao nível da escolha da equipa e jogadores, relacionando-o com pressões para evitar a entrada de Nuno Frechaut para Diretor Desportivo.
O treinador disse ainda que a SAD pediu até segunda-feira para resolver a rescisão da equipa técnica afastada a 16 de dezembro.
“Não fiquei com um sentimento de ingratidão mas, num cenário destes, com tantas dificuldades vividas desde o inicio da época, ficámos com um sentimento de profunda injustiça. Despediram-nos pelo telefone. Nunca reclamámos os ordenados em atraso (seis meses). Não queremos ser vítimas, não assumimos esse papel”, disse. “Garantiram-nos que até à próxima segunda-feira resolviam a nossa situação, acredito no que me disseram, vou esperar para ver se há acordo para a rescisão”, vincou.
Jorge Neves refere que não levou a sério o telefonema feito por Omar Scafuro, para o despedir. “Não levei muito a sério o telefonema de Omar Scafuro, já me tinham 'despedido' três ou quatro vezes este ano. Sempre disseram que a equipa estava bem mas, queriam mudar, gostavam muito de mim mas queriam mudar. Uma vez chamaram-me para uma reunião, fui lá muito tranquilo. Até pensei que ia ser premiado pelo comportamento da equipa mas, disseram-me que queriam mudar, sem mais justificação”.
“Estou preocupado em resolver esta situação de vez. Tudo tenho feito para que tudo se resolva com justiça. O trabalho realizado foi sério e profissional. O contexto era de dificuldades enormes”.
Sobre a substituição, no cargo, pelo técnico Paulo Alves, adiantou que espera que “tenha a vida mais facilitada do que eu, que vivi com problemas permanentes”. Crítico, sublinhou que o processo de substituição não foi correcto. “Estranhei o facto do Paulo Alves ter entrado sem a minha situação estar resolvida. Levantam-se questões de ética e respeito profissional. Eu estava lá e cruzava-me nos corredores com ele. Andava a ver o Beira-Mar há seis jogos. Não houve conversa entre nós”.
“Tivemos problemas financeiros a toda a linha. Nunca reclamei os seis meses de salários em atraso”.
“Tive oportunidade para sair do Beira-Mar quando a equipa estava numa fase ascendente na Classificação. Deixei de lado a racionalidade e reagi com emoção”.
Sobre Kal Baiano “nem sei o nome dele. Dificultou a nossa tarefa imenso, foi surreal. A nossa missão era quase impossível com tantos problemas de gestão difícil enfrentados”. “A escolha dos jogadores incidiu no mercado brasileiro. Eu só consegui contratar o Vinha, André Sousa e Fábio Santos. Ninguém me obrigou a 'meter a jogo' jogadores mas, basta ver a equipa que jogou com o Atlético para perceber se houve influencias no onze que ia a jogo”, acusando Kal Baiano de interferência nas suas funções.