A Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património (APRUPP), presidida pela investigadora da Universidade de Aveiro, Alice Tavares Costa, ganhou a candidatura ao programa World Heritage Volunteers 2021, da UNESCO, através do qual vai acolher no final de fevereiro, 20 voluntários de vários países das áreas da arquitetura, engenharia e conservação do património. O objetivo é promover a defesa de boas práticas de reabilitação no Centro Histórico do Porto.
Não basta lavar a cara aos edifícios. Este tipo de reabilitação urbana pode até ser um risco por pôr em causa as marcas identitárias do edificado mais antigo das cidades. É para isto mesmo que a APRUPP, liderada por Alice Tavares Costa, tem vindo a alertar desde a sua constituição em 2012. “Temos procurado alertar para a necessidade de se conjugar a renovação do edificado com a preservação dos principais elementos que o caracterizam e, no caso do Centro Histórico do Porto, justificaram a sua elevação a Património Cultural da Humanidade”, explica a investigadora de Pós-doutoramento na unidade de investigação RISCO do Departamento de Engenharia Civil da UA.
Os 20 voluntários, que com o apoio da UNESCO vão chegar em fevereiro ao Porto, terão por missão conhecer, monitorizar e avaliar, no terreno, o estado de conservação dos elementos que caracterizam a arquitetura do Centro Histórico do Porto. Alice Tavares adianta que o programa incluirá a realização de sessões formativas, abertas também a portugueses, dedicadas a algumas técnicas e materiais que estão a cair em desuso, como é o caso das paredes de tabique, tetos estucados, caixilharias em madeira, etc., e congratula-se com o facto de haver já várias entidades interessadas em apoiar a iniciativa.
A ação da APRUPP, que tem sede no Porto e conta com o apoio de outros membros da UA - do anterior Diretor do Mestrado de Reabilitação do Património da Universidade de Aveiro, Aníbal Costa, e do atual Diretor Hugo Rodrigues, - passa, de resto, pela realização de um conjunto diversificado de oficinas e ações técnicas formativas, em contexto de rua e de obra, que visam promover boas práticas nos projetos de reabilitação do edificado. O programa contempla ainda uma série de debates entre várias instituições, comunidade académica, comunidade técnica e voluntários participantes.
Os edifícios reconstruídos, em que apenas se aproveita a fachada, podem ter, na aparência, um melhor desempenho energético (pelo lado da poupança energética, ainda não comprovada a sua efetividade), mas vão ter necessidades de intervenção nos próximos anos, dada a menor durabilidade dos materiais empregues, e caso venham a ser demolidos, a pegada ecológica é significativa, alerta Alice Tavares, acrescentando ser muito difícil convencer o setor imobiliário da necessidade de preservar os elementos com valor patrimonial na reabilitação urbana em Portugal.
Revela ainda a investigadora da UA que a APRUPP tem tido igualmente a preocupação de criar mecanismos de circularidade num dos setores da economia em que menos se recicla. O Repositório de Materiais de Construção, de que a APRUPP foi entidade incubadora, considerado como um bom exemplo de Economia Circular pelo Ministério do Ambiente, tem tido dificuldade em se afirmar, como conceito a replicar, e instalar-se no território, para além de uma escala municipal. “Ter um espaço, em cada concelho, onde quem vai reabilitar uma casa sabe que pode encontrar vigas de madeira, estruturas de clarabóias, portas, janelas, peças de mármore ou de madeira antigos resultantes de outras obras é um contributo para a sociedade que seremos obrigados a construir nas décadas que aí vêm”, sublinha.