A História da Matemática na aprendizagem da Matemática
Ana Paula Aires
A importância da integração da História da Matemática na aprendizagem da Matemática tem sido apontada ao longo dos anos por vários autores que salientam inúmeras razões para a sua inclusão na aula de Matemática (Struik, 1992; Ralha, 1992; Fauvel, 1997; Fauvel & van Maanen, 2000; Fried, 2001; D’Ambrósio, 2012; Kjeldsen, Blomhøj, 2012).
E surgem as questões: A integração da História da Matemática na aprendizagem da Matemática: Porquê? Para quê? Quando? Como?
Na tentativa de responder às duas primeiras questões podemos identificar várias razões, inventariar inúmeras vantagens que, segundo autores de referência justificam, de forma incontestável, a integração da História da Matemática no ensino e na aprendizagem da Matemática. Struik (1992) considera a utilização da História da Matemática na sala de aula de grande importância pois permite conhecer como se originaram e desenvolveram os conceitos em Matemática, ajuda na compreensão da nossa herança cultural e além disso permite ilustrar o ensino de alguns conceitos matemáticos com algumas peripécias. Esta ideia também é corroborada por Ralha quando afirma que a História da Matemática permite-nos “(…) referir episódios, alguns deles anedóticos, que de algum modo desmistificam a ideia de que os matemáticos não são como as pessoas vulgares” (Ralha, 1992, p.82).
Também Fauvel reconhece a importância da História da Matemática na aprendizagem da Matemática já que a sua integração nas aulas de Matemática, entre outros benefícios:
“Humaniza a matemática; ajuda a desenvolver uma aproximação multicultural; encoraja os bons alunos a ir mais longe; ajuda a explicar o papel da matemática na sociedade; torna a matemática menos assustadora; proporciona oportunidades para realizar investigações; fornece a oportunidade de realização de trabalhos inter-curriculares com outros professores ou disciplina” (Fauvel, 1997, p. 17).
Para D’Ambrósio a História da Matemática “é um elemento fundamental para perceber como teorias e práticas matemáticas foram criadas, desenvolvidas e utilizadas num contexto de sua época” (2012, p. 27 ) e além disso, “conhecer, historicamente, pontos altos da matemática de ontem poderá, na melhor das hipóteses, e de fato faz isso, orientar no aprendizado e no desenvolvimento de hoje” (2012, p. 28 ). Segundo este autor a (D’Ambrosio, 1996) a integração da História da Matemática no ensino deve ser encarada sobretudo pelo seu valor de motivação para a Matemática.
Quanto às questões Quando? Como? Parece-nos que o recurso a tarefas matemáticas diversificadas, pensadas de modo a promover a aprendizagem de conceitos novos, o aperfeiçoamento e aprofundamento de um conceito já conhecido, ou a consolidação da aprendizagem pode constituir-se como um bom ponto de partida (Aires & Costa, 2016).
E aqui falamos de tarefas construídas com o auxílio da História da Matemática para dar a conhecer aos alunos que na matemática há conceitos mais difíceis que só ao longo do tempo foram melhor compreendidos e instituidos, o que de algum modo tranquiliza o aluno e o ajuda na sua aprendizagem. Que a matemática é uma construção humana que foi sendo desenvolvida ao longo dos tempos para dar resposta às necessidades práticas da sociedade. Que é uma ciência que vai sendo construída por homens e mulheres que a ela se dedicam (matemáticos) e que nesta construção algumas das dificuldades que agora os alunos sentem foram sentidas pelos matemáticos, há muito tempo atrás na procura de resultados novos, o que vai ao encontro de Fauvel (1997) quando defende que a História da Matemática humaniza a matemática (Aires & Costa, 2016).
Deixamos algumas ideias de como a História da Matemática pode ser integrada nas aulas de Matemática e que podem ser utilizadas em tarefas, consoante a sua tipologia e natureza:
- Introduzir conceitos novos apresentando narrativas históricas que estejam relacionadas com esses conceitos;
- Contar episódios dos matemáticos antigos;
- Propor tarefas como trabalho de casa baseadas em textos matemáticos antigos;
- Realizar projetos sobre a actividade matemática local no passado;
- Usar exemplos críticos do passado para ilustrar técnicas e métodos;
- Apresentar problemas históricos aos alunos para os quais, de alguma forma, os conceitos que estão a aprender dão a resposta;
- Explorar mal entendidos/erros/visões alternativas do passado para ajudar na compreensão e na resolução de dificuldades dos alunos atuais (Fauvel, 1997).
Pensamos que enquanto ferramenta didática a História da Matemática pode ser usada pelo professor em contexto de sala de aula com o objetivo de proporcionar aos alunos uma aprendizagem mais significativa, mais contextualizada e mais humanizada da Matemática, tornando-a assim uma ciência mais próxima, mais amigável e apelativa para os nossos alunos.
Referências Bibliográficas:
Aires, A. P., & Costa, C. (2016). A História da Matemática e a Internet: dois aliados na aprendizagem da Matemática. Revista de Ciência Elementar, 4, (4), 34-35.
D’Ambrósio, U. (1996). História da Matemática e Educação. Cadernos CEDES 40. História e Educação Matemática. 1ª ed. (pp. 7-17). Campinas, SP: Papirus.
D’Ambrósio, U. (2012). Educação Matemática: da teoria à prática. 23.ª edição. Campinas: Papirus.
Fauvel, J. (1991). Using history in mathematics education. For the Learning of Mathematics, 11(2), 3-6.
Fauvel, J., & van Maanen, J. (Eds.). (2000). History in mathematics education-The ICMI study. Dordrecht: Kluwer.
Fauvel, J. (1997). A utilização da História em Educação Matemática. In A. Vieira, E. Veloso & M. J. Lagarto. (Orgs.). Relevância da História no Ensino da matemática, Cadernos do GTHEM n.º 1. (pp. 15-20). Lisboa: GTHEM/APM.
Fried, M. N. (2001). Can mathematics education and history of mathematics coexist? Science & Education, 10, 391- 408.
Kjeldsen, T., & Blomhøj, M. (2012). Beyond motivation: history as a method for learning meta-discursive rules in mathematics. Educ Stud Math, 80, 327-349.
Struik, D. J. (1992). História Concisa da Matemática (2.ª Edição). Lisboa: Gradiva.
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