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Educação à Escuta

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Um programa da responsabilidade do CIDTFF da Universidade de Aveiro. Porque a diferença está na Educação e a Educação faz toda a diferença

Na creche e jardim de infância, é importante que as crianças explorem livremente e brinquem muito. Então, e o educador não faz nada?

1, Junho 2020

Gabriela Portugal, Investigadora do CIDTFF, assinala a comemoração do Dia Mundial da Criança, dia 1 de junho, com a rubrica Educação à Escuta sobre a importância do brincar.

 

Quando o bebé explora um objeto, confronta-se com as suas características, descobre-o e vai construindo esquemas mentais sobre a realidade que vai percebendo. Descobre objetos, descobre o que pode fazer com os objetos, descobre o que acontece quando junta objetos diferentes, e brinca com os objetos retirando prazer da ação de repetir e reinventar ações, movimentos, comportamentos, etc., abordando e lidando com a realidade de formas cada vez mais criativas e complexas. Neste processo, as crianças não fazem apenas descobertas, também se expressam, mobilizam conhecimentos, pensam e resolvem problemas, dão asas à sua imaginação, e aprendem por ensaio e erro, sem medo de falhar.

A tendência natural da criança é para o desenvolvimento e aprendizagem. Não é para a estagnação. Existe nela uma curiosidade e ímpeto exploratório que se manifestam naturalmente na exploração livre e no brincar, e que requerem um contexto estimulante, bem como relações prazerosas e securizantes com adultos de referência e outras crianças.  

Sendo algo profundamente significativo para as crianças, o brincar é um direito das crianças (direito ao desenvolvimento), devendo ser encorajado e acarinhado. Quando a iniciativa da criança é estimulada, quando a sua ação não é interrompida e a concentração é alimentada, quando a exploração acontece até se esgotar naturalmente, a criança percebe que o seu brincar é valorizado e respeitado, e o seu sentido de confiança é robustecido. Daí ser importante que qualquer contexto de educação de infância se organize no sentido de providenciar espaços e tempos, adequados e ricos, para o brincar e para a atividade livre. Quando isto é feito, está-se a atender, ainda, a outro direito da criança: o de participação. Quando se confere liberdade à criança para escolher e tomar decisões, para se envolver nos seus próprios projetos, o respeito, a confiança e a atenção ao cidadão criança ressaltam.

Num tempo em se verifica uma focalização em resultados, produtos, notas, rankings, seleção e competição, mesmo em contextos de educação de infância, que acolhem crianças entre os 0 e 6 anos, assiste-se a uma desvalorização do brincar. Apesar de uma retórica valorizadora do brincar (não há nenhum educador de infância que diga que o brincar não é importante), na prática, em demasiados contextos de infância, o tempo e lugar do brincar são desvalorizados. Frequentemente, o brincar é visto como uma atividade de recreio, que antecede ou se segue às “atividades de aprendizagem” que são programadas pelo adulto. Facilmente se interrompe o brincar da criança porque “agora vamos trabalhar, depois podes ir brincar”. No fundo, estamos perante a ideia de que as atividades propostas pelo adulto são as que, realmente, envolvem aprendizagens pertinentes e úteis. E, frequentemente, pensa-se: se as crianças têm de brincar, então, que que seja um brincar didático, com objetivos de aprendizagem definidos!

Sem desprimor de muitos jogos didáticos, o brincar “livre” é uma via privilegiada para promoção do desenvolvimento e aprendizagens, sendo a ação do educador determinante.

Cabe ao educador pensar e preparar um ambiente responsivo à vitalidade e à atitude de descoberta das crianças, assegurando diversas possibilidades de brincar e potenciando a complexificação crescente da sua atividade. Cabe ao educador sintonizar-se com as crianças, pegando nas suas manifestações de interesse e atuando no seu prolongamento, sem intrusão. Criar oportunidades de exploração e de brincar interessantes, dar espaço e tempo à criança, estar disponível e ser responsivo não é algo que surja naturalmente. Observar e controlar o ímpeto para dirigir e “ensinar” não é fácil. Trabalhar a iniciativa e a autonomia da criança envolve a capacidade do adulto reequacionar o seu papel e suspender os seus próprios planos e objetivos, para confiar e se centrar na ação da criança.

Se o cidadão criança que se deseja é alguém seguro e com uma boa autoestima, que está bem consigo próprio e com os outros; curioso e disponível para aprender e desenvolver projetos, com atenção às perspetivas e ideias dos outros, ensinar através do brincar revela-se como uma forma poderosa de se atender a essas finalidades.

Sugestão de leitura:

Bento, G., Portugal, G., Dias, G. & Oliveira, P. (2019). Serei(a) no jardim. Aveiro: UA Editora. ISBN:978-972-789-569-4. http://hdl.handle.net/10773/26228

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