(sobre)Viver com 5,5,euros para comer

O país continua à margem, com uma significativa apatia da comunicação social, da realidade da condição e qualidade de vida dos portugueses.
A divulgação, nesta sexta-feira, do relatório intercalar “Portugal, Balanço Social 2024”, elaborado por académicos da Nova SBE (Nova School of Business & Economics), confirma esta realidade: em 2022, a taxa de risco de pobreza absoluta variou entre 8,5% e 12,6%, conforme o método de análise utilizado com base nos rendimentos familiares necessários para “garantir o acesso a um conjunto de bens e serviços considerados necessários”.
Os valores apresentados, abaixo do referencial do limiar da pobreza (16,4% em 2022), ao contrário das perceções de alguns quanto aos números estatísticos (seja na pobreza, seja na segurança), colocam-nos perante uma realidade social que nos deve preocupar (mesmo que esta tenha vindo a diminuir): 1,3 milhões de portugueses não possuem recursos para pagar uma dieta adequada. Sendo que por “dieta adequada” entende-se uma despesa em alimentação de 5,5 euros/dia. O estudo adianta ainda que os desempregados, as crianças, os estrangeiros, os idosos e as famílias numerosas (1 em cada 3) são os grupos mais afetados e os mais vulneráveis à pobreza.
Considerando as despesas de um agregado familiar, o inquérito IDEF de 2022 revela que habitação, água e energia (39,3%) e a alimentação (21,5%), às quais podemos somar os 3,8% em saúde, consomem quase 65% do rendimento mensal das famílias.
Mas há, a reforçar este contexto, um outro número que merece reflexão: cerca de 900 mil trabalhadores (8,9% da população portuguesa), que auferem um rendimento mensal, encontram-se em situação de pobreza absoluta, muitos deles sem recursos para se poderem abrigar debaixo de um teto (13 mil pessoas viviam em situação de sem-abrigo, em 2023).
Não há dignidade na pobreza. Não há qualquer dignidade no esforço de sobrevivência de mais de 1,3 milhões de portugueses. Não há coesão social que promova a paz social, o desenvolvimento das comunidades e do país, e o fortalecimento da democracia quando há mais de 1,3 milhões de portugueses que não têm 5,5 euros, por dia, para comer.
Mas vamos cantando e rindo…
Anexo | Tamanho |
---|---|
episódio #16 Politicamente Insurreto (25FEV2025) | 6.67 MB |