Artigo de Opinião

Chorar os mortos, sarar as feridas e contabilizar os danos… de novo os incêndios

22.09.202419:10
Podcast Politicamente Insurreto

Em poucas semanas, o norte e o centro do país avivaram as memórias dos trágicos incêndios de 2017. Em cerca de uma semana o “lume” devastou mais de 124 mil hectares de floresta (e mato), propriedades e bens, provocou 117 vítimas, das quais 12 feridos graves, e, lamentavelmente, 5 mortes.
E, de novo, voltámos a ouvir as mesmas análises e reflexões, os mesmos estudos, os mesmos apelos, as mesmas críticas, os mesmos diretos da comunicação social (alguns bem dispensáveis e questionáveis, como, por exemplo, a “exploração mediática” da aflição, da dor e do sofrimento), a mesma devastação, a mesma tragédia, o mesmo desespero das pessoas, dos autarcas e dos bombeiros perante os mesmos cenários dantescos.
É aqui que reside o problema dos incêndios: a falta de ação, vontade e medidas políticas que minimizem, antevejam e acautelem as tragédias, preventivamente.Portugal é dos países da União Europeia com maior despesa no combate aos incêndios e dos que menos investe na sua prevenção. Diga-se, em abono da verdade, não é uma realidade atual, nem de 2017… é de longos anos.
O que é desejável (e mais que estudado) é que o combate não seja o foco, mas sim a prevenção e a gestão do território. Sejamos pragmáticos e realistas: haverá sempre incêndios, e com as alterações climáticas cada vez mais. Mas sejamos também frontais e claros: falta responsabilidade, coragem e medidas políticas para minimizar esse fado e esse fardo. À boa maneira tuga, “deixa arder que o meu pai é bombeiro”.
O que ano após ano, tragédia após tragédia, vai permanecendo esquecido e abandonado é a decisão política e a condenável apatia e inação sobre a contiguidade e diminuição da mancha florestal no país, o tipo de floresta que é desejável, o cadastramento da propriedade florestal e a responsabilização pela sua gestão (a começar pelo próprio Estado), uma política territorial que combata o abandono e a desertificação dum país que vai muito para além do litoral, com mais ou menos interioridade, e efetivos e consistentes apoios ao desenvolvimento rural ou à ruralidade.
Já lá vão 7 anos, quase uma década, após os incêndios de 2017 e, para além de tanto e de tudo o que foi estudado, relatado, proposto, científica e objetivamente confirmado, não aprendemos nada. Nem com a tragédia, com a perda de bens e, principalmente, das vidas.
Para o ano voltamos a ter verão e calor… que a sorte nos proteja.