Usar produtos de cortiça, para além de estar na moda e de servir a economia nacional, contribui para remover da atmosfera gases com efeito de estufa. O resultado do estudo coordenado pela Universidade de Aveiro (UA), o primeiro no país a quantificar a pegada de carbono do setor da cortiça, não deixa dúvidas quanto aos poderes ecológicos do sobreiro e do ecossistema que o envolve: por cada tonelada de cortiça produzida, o montado sequestra mais de 73 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente às emissões daquele gás libertadas para percorrer cerca de 450 mil quilómetros de automóvel.
Na Herdade da Machuqueira do Grou, em Coruche, o Instituto Superior de Agronomia, parceiro neste estudo, registou ao longo dos últimos sete anos a quantidade de dióxido de carbono retirada da atmosfera por um ecossistema de montado (sobreiros, solo e toda a restante vegetação característica dos montados) com uma média de 177 árvores por hectare. No âmbito do estudo, foi também avaliada a quantidade de gases com efeito de estufa emitida pelo setor nacional da cortiça, desde a floresta até ao destino final dos produtos feitos à base de cortiça, incluindo o respetivo processamento industrial. O saldo é extremamente positivo para o meio ambiente.
“O setor de cortiça é um sumidouro efetivo de gases com efeito de estufa uma vez que o sequestro de dióxido de carbono da atmosfera é bastante superior às emissões desses gases emitidos ao longo do setor, desde a floresta até ao destino final dos produtos de cortiça”, garante Ana Cláudia Dias, investigadora do Departamento de Ambiente e Ordenamento e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA e coordenadora do estudo que pretendeu avaliar a pegada de carbono do setor da cortiça em Portugal.
A capacidade da própria cortiça de reter o carbono absorvido durante o crescimento do sobreiro, permite que constitua um reservatório de carbono ao longo do seu ciclo de vida, garantindo que por cada tonelada de cortiça duas de dióxido de carbono sejam sequestradas da atmosfera. “Os produtos produzidos a partir de cortiça nacional constituem reservatórios crescentes de carbono, quer durante a sua utilização, quer quando são depositados em aterro, tendo acumulado entre 150 e 250 mil toneladas de dióxido de carbono por ano nos últimos 15 anos”, afirma Ana Cláudia Dias. Os números sugerem que “a utilização de produtos de cortiça contribui para a mitigação das alterações climáticas, quer pela sua capacidade de acumular carbono quer pelo facto de substituírem produtos alternativos mais intensivos do ponto de vista energético”.
Financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional através do Compete, o projeto desenvolveu um modelo de cálculo que permite que os produtos de cortiça passem a ser incluídos nos inventários nacionais de gases com efeito de estufa, tal como já sucede com os produtos de madeira.
“Este trabalho dotou o setor da cortiça de informação e ferramentas que permitem apoiar a tomada de decisão no que respeita a práticas que possam otimizar a pegada de carbono do setor e reforçar o papel do setor como elemento importante na mitigação das alterações climáticas”, aponta Ana Cláudia Dias.