O Reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, revela que a Universidade de Aveiro trabalhou em 2019 com saldos negativos algo que classifica como inédito mas com a capacidade de não mostrar instabilidade por esse facto.
Recado dirigido ao Governo a poucos dias do final do ano e ainda sem contas saldadas.
A celebração do 46.º aniversário ficou marcada pela homenagem a Sophia de Mello Breyner Andersen mas a mensagem "política" foi dedicada às finanças.
Atrasos de reembolsos financeiros “inéditos e ainda não resolvidos” preocupam o responsável. A UA mantém saldos negativos na gestão corrente. (com áudio)
A sessão comemorativa teve como convidado o filósofo e ensaísta Daniel Innerarity, um dos pensadores mais influentes a nível mundial.
Paulo Jorge Ferreira aproveitou a intervenção para relembrar “momentos que deixaram marcas na nossa história, na nossa memória institucional, também eles associados a aniversários”.
O responsável lembrou o PmatE, nascido há 30 anos, um “projeto que veio desafiar os jovens a jogar à matemática” e de onde foi projetada a ideia de conceber um sistema informático para apoiar a realização e correção de testes. Hoje, disse Paulo Jorge Ferreira, “no âmbito do PmatE gere-se uma plataforma de ensino assistido, que envolve estudantes, pais, professores e escolas, desenvolvem-se conteúdos e organizam-se eventos para a promoção do sucesso escolar e da cultura científica, atuando em várias frentes, na intervenção escolar, na comunicação e divulgação de ciência e na cooperação”.
Com o PmatE nasceram também as Competições Nacionais de Ciência, que trouxeram à UA muitos milhares de alunos dos vários níveis de ensino. Hoje, “a sua área de atuação inclui português, biologia, geologia, física, química, inglês e literacia financeira, assumindo-se como um ousado e criativo projeto interdisciplinar”.
Ainda neste percurso pelo passado, o Reitor convidou a audiência a regressar a 1998, o ano em que a UA comemorou os seus 25 anos. No dia de aniversário, a UA atribuiu o título de Doutor Honoris Causa a Sophia de Mello Breyner Andresen, “uma das mais notáveis figuras da literatura portuguesa”.
Nesse dia, sublinhou Paulo Jorge Ferreira, a atribuição do título de Doutor Honoris Causa a Sophia e à Poesia contribuiu para “afirmarmos o valor da língua como expressão livre do pensamento e do sentir das mulheres e dos homens deste país” e para “homenagear uma das expressões mais genuínas da nossa tradição cultural”.
Por isso, na cerimónia do 46º aniversário, “a UA não podia deixar de recordar e renovar o tributo a esta figura que engrandece o país”.
A homenagem a Sophia de Mello Breyner Andersen revisitou a vida e obra da poeta e relembrou os argumentos que sustentaram a outorga do título de Doutor Honoris Causa.
A homenagem esteve a cargo de Isabel Cristina Mateus, docente no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho e investigadora do Centro de Estudos Humanísticos da mesma Universidade, profunda conhecedora da Literatura Portuguesa dos séculos XIX, XX e XXI.
Paulo Jorge Ferreira aproveitou a intervenção para falar sobre este ano que fecha e o novo ano que começará em breve e deixou mensagem de confiança sobre a investigação produzida na UA.
“A Universidade Europeia ECIU e muito recentemente as duas bolsas ERC obtidas por investigadores da UA, Luís Mafra e Nuno Silva, de um total de apenas quatro em Portugal, são exemplos a reter e impulsos motivadores para 2020”, disse Paulo Jorge Ferreira.
Mas, lembrou, "estes sucessos não teriam sido possíveis se primeiro não tivessem sido lançados os alicerces necessários para os tornar realidade: os consórcios, que no caso do ECIU remontam a 1998; as equipas, os equipamentos, o apoio, a mentoria e, claro, a ousadia de acreditar”.
“A UA não foge dos desafios nem se deslumbra com os sucessos. Como disse no início, sabemos bem que se hoje podemos construir, é porque outros nos deixaram fundações sólidas; porque traçaram um rumo a olhar o futuro. Hoje, em dia de aniversário, estamos unidos em torno de uma instituição que quer saber, que ousa saber, e que tem sabido ousar”, apontou Paulo Jorge Ferreira.
A UA, que se assume desde a sua fundação como “farol de ciência e cultura” e que defende “uma educação universitária verdadeiramente humanista”, como disse Vitor Gil, antigo Reitor da UA, para continuar associada a “atos de cultura de excelso mérito” deve criar espaços e oportunidades para inspirar, refletir, errar e encontrar novas abordagens e soluções para os problemas”.
"E que papel terão o conhecimento e a inteligência nesse contexto? Que esperar da inteligência artificial? O que é que diferencia a inteligência humana da inteligência artificial? Será necessário humanizar a inteligência artificial para que ocorra uma verdadeira mudança de paradigma? Ou será a inteligência humana, como defendem alguns autores, um mero caso particular da inteligência artificial?"
Paulo Ferreira lembrou que as universidades refletem sobre os desafios e a tecnologia é, em si, um dos mais desafiantes (com áudio)
Durante a cerimónia, Daniel Innerarity convidou a audiência a refletir sobre estas questões, a partir da sua comunicação “La inteligencia de la inteligencia artificial”.
Professor catedrático de filosofia política e social e investigador Ikerbasque na Universidade do País Basco, diretor do Instituto de Governação Democrática e docente convidado do Instituto Europeu de Florença, Daniel Innerarity é um especialista internacionalmente reconhecido nos domínios da teoria da democracia e governo das sociedades complexas. Colaborador do jornal El País, é considerado um dos 25 grandes pensadores do mundo pela revista francesa Le Nouvel Observateur.
António Alves, presidente da Associação Académica da UA, garantiu que “o futuro já chegou” e que “os estudantes são esse futuro”. “Contem connosco”, disse António Alves que esta terça é reeleito e que na sessão de aniversário pediu reformas no modelo de ensino (com áudio).