Ordem dos Médicos considera que o país não tem um problema de falta de médicos, mas é preciso ter a capacidade de os fixar em Portugal.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considera que o país não tem um problema de falta de médicos, estando mesmo a “exportar cérebros” por falta de condições para os fixar. “Neste momento, já estamos a formar médicos acima das necessidades do país e o que é preciso é ter a capacidade de os fixar em Portugal. Os médicos estão a emigrar às centenas por ano e se não fizermos o que for necessário para os fixar, é uma grande perda, tanto em termos de investimento como de conhecimento científico. Estamos a exportar cérebros”.
O Bastonário da Ordem dos Médicos falava em Avanca, esta quinta-feira, na assinatura do Protocolo de atribuição do 'Prémio Egas Moniz em Neurorradiologia', o único português laureado com um Prémio Nobel na área científica.
José Manuel Silva salientou que o país “investiu na formação de técnicos altamente diferenciados, que demoram 12 anos a formar-se e que depois continuam a subir no seu conhecimento científico e experiência”, os quais estão a sair, sobretudo para países europeus, pela dificuldade de os fixar, em particular no Sistema Nacional de Saúde. “Neste momento o investimento público em saúde no nosso país é apenas de 6% do produto interno bruto (PIB), enquanto a média da OCDE é de 6,5%, pelo que temos um défice de investimento anual no mínimo de 10 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde e isso tem consequências”.
Sobre o prémio instituído, o bastonário afirmou que “a Ordem não podia deixar de dar o seu patrocínio científico ao prémio, porque Egas Moniz merece o conhecimento e reconhecimento nacionais, sendo uma figura excecional de que o país se deve orgulhar e recordar o ecletismo da sua personalidade”. “Egas Moniz fez flores sem terra. Se recuarmos no tempo percebemos que Portugal não tinha nem meios, nem cultura de investigação científica e, mesmo assim, foi o nosso único Nobel da área científica”, finalizou.
Pedro Freitas, da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia, considerou Egas Moniz “o pai da Neurorradiologia, através da angiografia, que em 2017 vai fazer 90 anos que apresentou à comunidade científica mundial”. Considerando-o “um vulto emblemático que trouxe reconhecimento à medicina nacional”, justificou o prémio com o seu nome como forma de “projetar nas gerações futuras o gosto pelas neurociências e estímulo à motivação dos melhores”.
O Presidente da Câmara de Estarreja, Diamantino Sabina, salientou o esforço financeiro da autarquia em preservar a Casa-Museu Egas Moniz, em Avanca, onde “faria sentido criar um polo de estudos de neurociências”, um “sonho” para o qual a autarquia não dispõe de verbas. O prémio será atribuído de dois em dois anos a individualidades ou instituições que se destaquem por trabalho científico relevante na área da neurorradiologia. (com áudio)
Texto: LUSA