O proprietário da embarcação de 'pesca do cerco' que na passada sexta-feira esteve em "sérias dificuldades" ao largo da Vagueira, afirma-se revoltado com a forma como se processou o socorro e diz que o que o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) "não quis arriscar" foi conseguido por uma embarcação da Arte Xávega que "prestou socorro com grande coragem e humanidade".
José Miguel contou na Terra Nova que tudo começou "com redes no hélice e um agueiro" que empurrou o barco para a zona de rebentação.
Faltou, segundo este pescador, uma acção mais decidida por parte do ISN num caso que poderia ter acabado como os do 'Luz do Sameiro', na Nazaré, ou mais recentemente o do 'Olívia Ribau' na Figueira da Foz.
"Estou cansado de ouvir que não se podem chegar aos barcos de pesca por causa das hélices que ficam presas nas redes. Quem está no ISN tem de ter coragem para socorrer", vincou. (com áudio)
O problema do naufrágio do 'Luz do Sameiro' foi que "ele deu em seco". Era um barco que "aguentava com qualquer rebentação", referiu. "Os homens tinham os coletes envergados, esperaram pelas autoridades que demoraram muito tempo. Mais de meia-hora é muito tempo. A hipótermia mata um homem. Tinham colete e alguns ainda não apareceram. Caíram ao mar sem força. Eu estava com medo de 'dar em terra' como eles. Estivemos muito perto da tragédia. Não chega que os homens flutuem. O importante é tirar os pescadores da água e isso estava a ser difícil".
A autoridade marítima revelou que a "movimentação do mar libertou as redes que prendiam o hélice" mas José Miguel desmente essa tese salientando que ele próprio cortou a rede com o apoio de um barco da Arte Xávega. Atribui mérito no salvamento ao mestre da Xávega que arriscou essa ajuda. "Não foi o mar que libertou a rede como eles dizem", assegurou. "Fui eu que cortei a rede com a ajuda do barco da Arte Xávega". "O Mestre Alberto teve a coragem de ir ter comigo. Atirou um cabo para o meu barco e tirou o barco de cima da rede. Aí eu cortei as redes com a navalha, cheio de ganância. Quando vi a rede solta do barco, com o corta-cabos, usei o motor no máximo para que as lâminas do hélice cortassem a rede de vez".
O Mestre da embarcação de seis homens, que conseguiu evitar o acidente de consequências mais graves, afirmou que está a perder a confiança nos sistemas de segurança. Diz que não se compreende que não haja um helicóptero para operações de socorro mais perto da Zona Centro do país. "Eu e os meus colegas somos solidários entre nós mas, em caso de acidente, ninguém chega no tempo certo para o socorro. Somos seres humanos merecíamos mais atenção". O Mestre não compreende e diz que não confia nos actuais meios de socorro.
As queixas de uma tripulação que apanhou um susto na sexta-feira.
A capitania justificou a acção com o recurso a uma mota de água “devido à existência de redes na água”. O Capitão do Porto de Aveiro mobilizou uma embarcação salva-vidas do ISN, uma semirrígida da Polícia Marítima e uma mota de água também da ESV, operada por um agente da Polícia Marítima. Em terra, encontravam-se uma viatura da Polícia Marítima e os Bombeiros de Vagos. Pelo Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa, foram ainda acionados um Helicóptero EH-101 da Força Aérea Portuguesa estacionado no Montijo e o NRP Figueira da Foz da Marinha Portuguesa.