Investigadores da UA participam na criação da mais longa nanofita de grafeno.

Investigadores da UA participam na criação da mais longa nanofita de grafeno.

Dois membros da Universidade de Aveiro (UA), o investigador auxiliar Manuel Melle-Franco, do CICECO-Instituto de Materiais de Aveiro, e Karol Strutynski, bolseiro de pós-doutoramento, integram equipa internacional que sintetizou quimicamente uma nanofita de grafeno com 7,7 nanómetros de comprimento, a maior reportada até ao momento com precisão atómica.

Um nanómetro é uma parte que se obtém dividindo 1 mm um milhão de vezes. O trabalho foi publicado na prestigiada revista Angewandte Chemie.

A equipa, liderada por Aurelio Mateo-Alonso da Universidade do País Basco, e que integra investigadores do CICECO e da Universidade de Osaka, Japão, desenvolveu uma nova metodologia para a criação de nanofitas de grafeno com quase 8 nm de comprimento.

As nanofitas de grafeno são estruturas quase unidimensionais de carbono, com elevado potencial de aplicação nos domínios da eletrónica, fotónica e conversão de energia, entre outros, graças às propriedades eletrónicas, óticas e mecânicas que apresentam.

Estas propriedades dependem fortemente das nanodimensões destes fragmentos de grafeno, nomeadamente da largura e do comprimento. Por isso, é fundamental um elevado controlo da sua síntese e uma adequada caracterização das suas propriedades. Isto é conseguido com métodos de síntese orgânica que conseguem atingir precisão atómica, mas que até agora permitiam desenvolver cadeias mais pequenas.

Neste estudo, foi desenvolvida uma nova abordagem para a síntese de nanofitas de grafeno através de uma série de reações iterativas de desproteção e condensação.

Este processo foi demonstrado através da síntese e caracterização de três nanofitas constituídas por 10, 20 e 30 anéis benzénicos, com até 7,7 nanómetros de comprimento, as maiores reportadas até ao momento com precisão atómica.

A caracterização foi efetuada através de espetroscopia por ressonância magnética nuclear e com recurso a modelos computacionais desenvolvidos em Aveiro no grupo liderado por Manuel Melle-Franco, o que permitiu também racionalizar as propriedades eletrónicas e óticas.

A investigação realizada, para além de ter permitido sintetizar a nanofita mais comprida até ao momento, abre o caminho para a síntese de cadeias ainda maiores, para a validação das propriedades previstas teoricamente e para a exploração destas propriedades em aplicações como transístores de efeito de campo, fotodetetores, células solares e fios moleculares.

O trabalho foi publicado na prestigiada revista Angewandte Chemie [1] e é fruto do projeto 2D-INK (“tintas-2D”), financiado pela União Europeia com 3 milhões de euros, na área das “Tecnologias Futuras e Emergentes”.

O 2D-INK visa criar as bases para uma nova tecnologia de circuitos flexíveis e imprimíveis, com nanotintas baseadas em nanofitas, ou com materiais como o “grafeno esburacado”, fruto deste mesmo projeto e apresentado recentemente na Angewandte Chemie [2].

Ao serem destinados para circuitos imprimíveis, tanto as nanofitas como os grafenos esburacados foram desenhados de raiz para serem solúveis e terem propriedades eletrónicas adequadas a este fim.

De facto, a presença dos buracos ou a reduzida largura das nanofitas permite transformar as propriedades do grafeno, tornando-o semicondutor, uma propriedade fundamental para poder funcionar num circuito.

O estudo e a síntese destes materiais são muito complexos, sendo fundamental o uso de modelos computacionais, como os desenvolvidos no CICECO, já que permitem estudar virtualmente qualquer material e racionalizar ou prever as suas propriedades antes de entrar no laboratório.  

 

Texto e foto: UA