Uma equipa internacional de cientistas, liderada por Helena Alves, da Universidade de Aveiro (UA), descobriu uma nova técnica para incorporar elétrodos de grafeno transparentes e flexíveis em materiais têxteis. A técnica inovadora permite à indústria têxtil, a partir de agora, produzir roupas com computadores, telefones, leitores mp3, GPS, baterias de telemóvel carregadas com o calor corporal e muitos, muitos mais dispositivos eletrónicos incorporados no próprio tecido. A imaginação é mesmo o limite para as potencialidades da descoberta publicada no final da última semana na revista Scientific Reports do grupo Nature.
"O conceito de tecnologia incorporada na própria roupa está a emergir mas, até agora, tê-la como parte integrante de tecidos têxteis era impossível”, explica Helena Alves, investigadora do CICECO - Aveiro Institute of Materials da UA e líder da equipa. “Os materiais têxteis são frágeis e não toleram muitos dos processos de nanofabricação utilizados para depositar metais e que envolvem temperaturas muito elevadas ou outros processos agressivos”, lembra a cientista. Para além disso, “os tecidos são fibrosos, o que torna difícil a adesão de outros materiais”.
Assim, e até agora, aponta a investigadora, “os vários processos desenvolvidos para incluir dispositivos eletrónicos nos tecidos necessitavam que uma grande camada de material fosse depositada, de forma a ser condutor, mas à custa da transparência e flexibilidade dos tecidos”.
O problema foi contornado pela equipa de Helena Alves que usou grafeno em monocamada, com crescimento controlado, o qual foi suspenso numa solução aquosa e transferido para as fibras. Deste modo foi possível aos investigadores utilizar uma técnica à temperatura ambiente e em solventes compatíveis com fibras têxteis.
O crescimento controlado do grafeno, um material recentemente descoberto constituído por uma monocamada de grafite e que tem demonstrado grande potencial na eletrónica, também permitiu garantir aos tecidos onde os elétrodos [condutor elétrico utilizado para contactar outros elementos ativos em dispositivos eletrónicos] de grafeno foram incorporados uma elevada condutividade e uma grande mobilidade eletrónica. Graças à transparência e flexibilidade do grafeno, o toque, a maleabilidade e a cor dos tecidos permanecem inalterados.
“O desenvolvimento de uma eletrónica transparente incorporada em têxteis permitirá que as nossas roupas incorporem dispositivos como GPS, baterias que carregassem o telemóvel com o calor do nosso corpo, sensores de monitorização médica, dispositivos de segurança camuflados, etc”, aponta Helena Alves.
Na investigação publicada pela revista da Nature, para além da cientista Helena Alves do CICECO da UA, estiveram envolvidos cientistas da Universidade de Exeter (Inglaterra), do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores para os Microsistemas e as Nanotecnologias (Lisboa), da Universidade de Lisboa e do Centro Belga de Investigação Têxtil.
Texto e foto: UA