Uma jovem licenciada, com formação de formadora, acusa a Escola Profissional de Aveiro (EPA) de "incentivar o trabalho voluntário a troco de comida", o que foi negado nesta quinta-feira à Lusa pelo director da escola.
Odete Costa, licenciada em Química, com frequência de mestrado em Biologia Molecular, enviou à Associação para a Educação e Valorização da Região de Aveiro (AEVA), que tutela a escola profissional, uma candidatura espontânea para dar formação na EPA.
No respectivo currículo, enviado à AEVA, indicava, entre outras, possuir formação de formadores e experiência em actividades de divulgação científica com jovens, defendendo por isso enquadrar-se na oferta formativa da escola, mas a resposta que recebeu deixou-a indignada.
"Fui confrontada com uma situação que considero grave e deve ser denunciada: a resposta foi no sentido de incentivar ao trabalho voluntário, com acesso à cantina, o que considero um caso de exploração. Segundo os directores da AEVA, os "voluntários" são os primeiros a ser contactados, no caso de necessitarem de contratar novos trabalhadores", relata Odete Costa, que afirma ter já feito uma exposição à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT).
Confrontado pela Lusa, Jorge Castro, director da AEVA, considera "descabida" a acusação e esclarece que se trata de uma resposta automática, em que é dada a oportunidade, a quem o desejar, de ocupar o tempo em acções de voluntariado.
"Temos sempre o cuidado de responder a todos os currículos que nos chegam e é a primeira vez em vários anos que somos confrontados com uma reacção dessas. Desde quando é que o voluntariado é exploração?", interroga.
Segundo Jorge Castro, a AEVA tem, entre outras, a marca SERVIR, com voluntariado nacional e internacional, "aproveitando gente que, de forma claramente voluntária, faz uma acção extraordinária, em prol dos outros".
"Temos neste momento seis voluntários estrangeiros que fazem parte do programa "ERASMUS +". Damos oportunidade para que as pessoas que estão sem fazer nada ocupem o tempo, em diversas áreas, e damos algumas condições como alimentação, mas nem tínhamos de o fazer. Por exemplo, em colaboração com um clube local, na natação adaptada para as competições, conseguimos encontrar uma solução para o seu transporte e acompanhamento precisamente através do nosso voluntariado, que os levam à piscina, os ajudam e depois almoçam com eles", exemplifica.
O responsável da AEVA assume que a participação no voluntariado pode ser factor de preferência no caso de abrirem vagas profissionais: Ficam com um pé cá dentro? Sem dúvida. Temos tido situações muito interessantes de pessoas que aderem e que demonstram, quando estão a fazer voluntariado, determinadas qualidade e depois, quando temos necessidades de recrutamento, são escolhidas porque demonstraram ter as capacidades que nos interessam".
Quanto à queixa à ACT, Jorge Castro diz aguardar com tranquilidade a eventual averiguação daquela entidade que perceberá o que está em causa, sendo difícil de aceitar tal ilação de uma carta de amabilidade, em resposta aos inúmeros currículos enviados.
texto: Lusa