Uma equipa de investigadores do Departamento de Química, da Universidade de Aveiro, estudou pela primeira vez, em Portugal, a relação entre o tipo de castas, as características do solo e os fatores ambientais que as envolvem para que os produtores extraiam de cada tipo de casta as potencialidades para o vinho que querem produzir. Com a nova ferramenta ganha o produtor, que tem menos encargos com o processo tecnológico, ganha o consumidor, que bebe um vinho com menos coadjuvantes enológicos adicionados, e o ambiente, pela diminuição da necessidade do uso de químicos na vinha e no lagar.
“O estudo afirma-se como uma ferramenta destinada a fortalecer o setor vitivinícola em Portugal, criando oportunidades para alcançar mercados mais exigentes, que primam pela qualidade e diversidade em detrimento da quantidade e da homogeneidade”, aponta Sílvia Petronilho, a autora do estudo no âmbito do doutoramento em Química sob orientação científica dos professores Manuel A. Coimbra e Sílvia Rocha.
O interesse dos produtores na investigação realizada na Unidade de Investigação de Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA) do DQ cresce de dia para dia. Em curso, estão já a ser estabelecidas parcerias com produtores de várias regiões demarcadas do país para a aplicação do conceito de qualificação e valorização das castas na produção de vinhos brancos, tintos e rosés.
Primeiro o produtor pensa no vinho que quer obter, definindo-lhe o aroma, a cor ou a adstringência que deseja tendo em conta determinado mercado. Escolhidas as particularidades do vinho, a hora é de selecionar não só as castas como também a localização geográfica da vinha, cujas características do solo, da topografia e do clima permitirão aos produtores obter o néctar desejado com o mínimo de processamentos químicos.
A investigação mostra aos produtores nacionais que é importante perceber qual é o potencial enológico de cada casta, ou seja, “quais as características físico-químicas de cada casta nos diferentes locais de cultivo já que estas, ainda que sejam do mesmo tipo, podem variar consoante as características naturais do local em que são produzidas”. Assim, conforme o vinho que se quer produzir, o produtor pode decidir qual o binómio casta/local que melhor lhe interessa.
O resultado é que sai para o mercado um vinho que não só foi produzido com menos custos no processo tecnológico, como também foi obtido sem excesso de coadjuvantes enológicos. “Ganha o produtor, ganha a saúde do consumidor pois estará perante um vinho menos processado quimicamente e ganha o ambiente, pela diminuição da necessidade do uso de produtos químicos quer na vinha, quer no lagar”, aponta a investigadora.
O trabalho, que englobou o estudo de sete castas, brancas e tintas, ao longo de três anos em vários tipos de ambientes e localizações, ainda que circunscrito para já à herdade do Campolargo da Região Demarcada da Bairrada, pode ser extrapolado para qualquer zona de produção vinícola nacional. “A definição deste binómio é uma ferramenta fundamental para os produtores de qualquer zona do país”, garante Sílvia Petronilho. No entanto, aponta, “o estudo tem que atender às especificidades características da cada região, pois as condições das vinhas na Bairrada são completamente diferentes das vinhas por exemplo do Douro ou do Alentejo”.
“Para as diferentes regiões é fundamental perceber qual é o potencial enológico de cada casta, nomeadamente em termos de aroma, adstringência e cor, visto que a composição das uvas, ainda que pertencentes à mesma casta, variam consoante as características do local em que se encontram”, aponta Sílvia Petronilho.
Texto: UA