A Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) concedeu, esta segunda-feira, autorização "para uso de emergência" para a vacina contra a covid-19, desenvolvida pela Pfizer-BioNTech.
"As notícias positivas de hoje [segunda-feira] são um passo importante na nossa luta contra esta pandemia, que causou sofrimento e privações para tantos", afirmou Emer Cooke, directora-executiva da EMA. "Alcançamos este marco graças à dedicação de cientistas, médicos, distribuidores e voluntários de ensaios, bem como de muitos especialistas de todos os Estados-membros da UE", acrescentou.
"A nossa avaliação completa significa que podemos assegurar aos cidadãos da UE a segurança e eficácia desta vacina e que ela atende aos padrões de qualidade necessários. No entanto, o nosso trabalho não fica por aqui. Continuaremos a recolher e analisar dados sobre a segurança e eficácia desta vacina para proteger as pessoas que tomam a vacina na UE", disse ainda Emer Cooke.
A farmacêutica que está a produzir a vacina em solo europeu formalizou o pedido a 1 de dezembro, depois de meses de testes em contra relógio, em que a então candidata a vacina "provou uma eficácia de 95%" na imunização contra o novo coronavírus.
Durante a fase de investigação e desenvolvimento, a Agencia Europeia do Medicamento foi acompanhando as várias etapas. E, em outubro, a unidade instalada na cidade belga de Puurs iniciou a produção de milhares de doses da vacina, embora condicionada à aprovação, que agora é confirmada.
Ainda este ano, entre 27 e 29 de dezembro, "todos os Estados-membros da União Europeia" iniciarão os seus programas de vacinação, praticamente em simultâneo, de acordo com os critérios definidos nas respetivas capitais. Em Portugal, a vacinação arrancará no dia 27, como confirmou esta segunda-feira a ministra da Saúde, Marta Temido.
A vacina da Pfizer foi desenvolvida pelos laboratórios BioNTech na Alemanha, com investigações de RNA mensageiro, a partir dos quais criaram a molécula BNT162b2, que contém as instruções genéticas, que dão origem aos característicos espinhos do novo coronavírus.
Durante a fase de análise a Agência Europeia do Medicamento concluiu que uma vez administrada a vacina num recetor, "as suas células leem as instruções genéticas e produzem a proteína "spike" (espinhos)".
"O sistema imunitário da pessoa irá então tratar essa proteína como estranha e produzir defesas naturais (...). Se, posteriormente, a pessoa vacinada entrar em contacto com o SARS-CoV-2, o sistema imunitário reconhecerá o vírus e estará preparado para atacá-lo", descreve a Agência Europeia do Medicamento, sobre a vacina, que a entidade está a avaliar desde o início de novembro.
A reunião do comité de especialistas do regulador europeu estava inicialmente marcada para o dia 29 de dezembro e o arranque das campanhas de vacinação previsto para o início de 2021. Mas, na semana passada, o governo alemão colocou pressão sobre a agência sediada em Amesterdão.
O ministro alemão da Saúde, Jens Spahn considerou até que se tratava de uma situação "especialmente irritante", já que a vacina desenvolvida pelo laboratório alemão BioNTech, estava autorizada no Reino Unido e no Canadá, mas não podia ser utilizada na União Europeia, e por conseguinte, na Alemanha.
"O nosso objetivo é que haja uma aprovação antes do Natal para que ainda possamos começar a vacinar neste ano", defendeu o ministro alemão, dias depois de uma cimeira europeia, em Bruxelas, em que o tema também foi abordado.
Entretanto, o regulador europeu decidiu também antecipar para 6 de janeiro de 2021, a reunião de que pode resultar a aprovação da vacina desenvolvida pelo consórcio norte-americano Moderna, que criou uma molécula também desenvolvida a partir da tecnologia inovadora de RNA mensageiro, e de acordo com a empresa "demonstrou uma eficácia de 94,5% de imunidade contra o Sars-Cov2", durante o período de ensaios clínicos.
A Comissão Europeia lançou em junho uma estratégia europeia para "acelerar o desenvolvimento, o fabrico e a disponibilização de vacinas eficazes e seguras" contra a covid-19. Bruxelas financiou uma "parte dos custos iniciais dos produtores de vacinas, sob a forma de acordos prévios de aquisição".
"O financiamento concedido é considerado um adiantamento para o pagamento das vacinas que serão efetivamente adquiridas pelos Estados-Membros com base em acordos prévios de aquisição", anunciou a Comissão Europeia, que entretanto também realizou contratos antecipados para aquisição de milhões de doses das candidatas a vacinas produzidas por outros laboratórios como a AstraZeneca, Sanofi-GSK, Janssen Pharmaceutica NV, e com a CureVac.
A Comissão Europeia tem, porém, vindo a assumir uma postura prudente em relação à eficácia das vacinas no combate à covid-19, defendendo uma "comunicação clara", para não alimentar falsas expectativas.
A comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakidis veio consecutivamente a alertar que a vacina "não será a Bala de Prata" contra o coronavirus. E, até haver imunidade na população, terá de ser combinada com outras medidas sanitárias.
"Precisamos de perceber que, mesmo quando tivermos uma vacina segura e eficaz, isto não será "a Bala de Prata", que mudará e que fará a covid-19 desaparecer do dia para a noite", foi um dos alertas da comissária, embora reconheça que os avanços ao nível das vacinas dão "sinais de esperança".
Fonte: Lusa