A direção da União das Mutualidades Portuguesas quer mais mulheres em cargos de administração e incentiva os dirigentes a procurarem inverter um quadro que vem do do tempo do Estado Novo.
Dados apontam para mais de 93 por cento de homens em cargos dirigentes de topo nas mutualidades e apenas 6,7 por cento do género feminino.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (Inquérito ao Setor da Economia Social, 2018), no que diz respeito aos colaboradores ao serviço das Associações Mutualistas, 61 por cento são mulheres.
Na abertura de um debate que decorreu, esta manhã, na Universidade de Aveiro, o Presidente da União das Mutualidades Portuguesas, reconheceu o défice e apontou a carga do passado como causa do atraso.
Luís Alberto Silva apela ao envolvimento das mulheres e diz que tal não se consegue apenas com a chamada a processos eleitorais (com áudio)
Debate no III Encontro Nacional de Mulheres Mutualistas na Universidade de Aveiro.
A iniciativa reuniu investigadores e duas deputadas (Cláudia Santos do PS e Carla Madureira do PSD), ambas eleitas pelo distrito de Aveiro, os presidentes mutualistas Carlos Jorge Silva (A Beneficência Familiar do Porto) e Isabel Silva (Glória Portuguesa, Porto) e a investigadora da Universidade Nova de Lisboa Virgínia Baptista, que tem estudado o papel das mulheres no movimento mutualista português.
A deputada Carla Madureira fez a defesa da Lei da Paridade como elemento que não sendo consensual tem permitir equilibrar os pratos da balança (com áudio)
Num painel moderado pela investigadora da Universidade de Aveiro, Teresa Carvalho, as deputadas Carla Madureira (PSD) e Cláudia Santos (PS) sublinharam as dificuldades sentidas num Parlamento maioritariamente constituído por homens e onde impera uma "certa masculinidade" no discurso.
Admitindo uma discordância em tese com a Lei da Paridade numa sociedade do século XXI, não deixam de considerar que será um mal necessário para reduzir a sub-representação da mulher nos órgãos políticos.
Salientaram ainda que, mesmo com a maior exigência introduzida naquela lei, a representação das mulheres no próximo parlamento será inferior à legislatura anterior.
A Presidente da Glória Portuguesa, Isabel Silva, assumiu recentemente a liderança da instituição, explicando que aceitou o desafio por ter uma família que lhe permite conciliar o emprego com a atividade associativa, e razões sentimentais, uma vez que o seu progenitor fora também líder da associação.
O Presidente d’A Beneficência Familiar, Carlos Jorge Silva, sublinhou a necessidade de mudanças na sociedade que permitam à mulher ter disponibilidade para exercer cargos associativos e políticos.
Reconhecendo que a participação das mulheres faz falta na gestão das mutualidades, até admitiria, caso fosse possível, estabelecer "uma lei da paridade para as mutualidades", assim como acontece em determinados órgãos do poder político.
Aliás, a história do mutualismo, como lembrou a investigadora da Universidade Nova de Lisboa, Virgínia Baptista, também é feita, nomeadamente no século XIX, de movimentos de afirmação da mulher, que criaram associações mutualistas exclusivamente femininas para responder às suas necessidades específicas, às quais as associações apenas constituídas por homens não atendiam.
Numa emotiva intervenção que marcou a sessão de encerramento, Carla Silva, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da União das Mutualidades Portuguesas, lembrou o drama que atinge as mulheres ucranianas, na proteção dos filhos e das famílias