Ana Rita Simões, antiga aluna de Biologia na Universidade de Aveiro (UA), agora a trabalhar nos Jardins de Kew, Reino Unido, lidera estudo de 40 autores, de 17 nacionalidades, publicado no prestigiado periódico científico Taxon que defende a conservação do nome científico da batata-doce cultivada: “Ipomoea batatas L.”.
A mudança de nome causaria grandes transtornos e despesas ao sector agroalimentar.
Em causa estaria a eventual mudança de género (grupo taxonómico) desta espécie, o que obrigaria a outra nomenclatura científica.
A batata doce cultivada, mais conhecida e consumida, de nome científico Ipomoea batatas, pertence ao género Ipomoea, onde se incluem 900 espécies de plantas, sendo uma delas a conhecida planta ornamental bons-dias, invasora em Portugal.
Ora, verificou-se, recentemente, que a espécie tipo que era usada para caracterizar o género Ipomoea é muito afastada da batata doce, o que colocaria em causa a continuação da espécie neste género.
Assim, no estudo agora publicado, os 40 investigadores propõem escolher outra espécie-tipo para a definição do género Ipomoea, nomeadamente Ipomoea triloba L., uma espécie que é parente próximo da batata doce, assegurando o mesmo nome científico para a espécie cultivada e permitindo a mudança de nome/género de alguns grupos de espécies mais afastados que estão agora incluídas no género Ipomoea.
Sem esta proposta de mudança de espécie-tipo de Ipomoea, a mudança de nome científico da batata doce poderia ocorrer brevemente, o que resultaria em inúmeras alterações e atualizações administrativas, na legislação e nas orientações de segurança e saúde, em alterações no empacotamento e marketing que comercializam esta espécie ou os seus sub-produtos.
A antiga aluna da UA, que fez o doutoramento no Museu de História Natural em Londres e agora trabalha nos Jardins Botânicos Reais de Kew, espera que o estudo também contribua para a mudança de nome científico das espécies selvagens que são parentes mais afastados da batata doce (por exemplo do género Argyreia, que recentemente foi transferido para o grupo da batata doce por outros autores) e que de momento são associadas a esta espécie cultivada por compartilharem o nome do seu género – Ipomoea.
Os autores esperam conseguir também, além da proteção e estabilidade do nome científico da batata doce, uma maior atenção da comunidade científica e do público em geral para a conservação destas espécies que, por serem ainda associadas à batata doce, tornaram-se menos prioritárias em termos de conservação das espécies.
Mestrado resulta em descoberta de nova espécie
Uma destas espécies é Argyreia paivae A. R. Simões & P. Silveira, endémica de Timor, e descoberta em 2011 pela antiga aluna da UA e pelos orientadores, Paulo Silveira e Helena Silva (professores do Departamento de Biologia), durante o Mestrado em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecosistemas na Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/pt/noticias/9/9550). Esta espécie tem propriedades medicinais e foi apontada como possivelmente ameaçada, pela sua raridade.
O seu nome havia sido, também, recentemente mudado para Ipomoea paivae (A. R. Simões & P. Silveira) J.R.I.Wood & Scotland. A mudança da espécie-tipo de Ipomoea permitirá, assim, também, recuperar o nome original desta espécie ameaçada e contribuir para uma comunicação mais eficiente da sua necessidade de conservação. Nos Jardins Botânicos Reais de Kew está também a trabalhar outra antiga aluna da UA, Sara Bárrios (https://www.ua.pt/pt/noticias/12/45007).
Texto e foto: UA