Investigadores da unidade de investigação GeoBioTec, do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro (UA), tentam identificar vestígios de vida em Marte.
Slavka Carvalho Andrejkovičová, a investigadora responsável pelos estudos laboratoriais que decorrem no Departamento de Geociências, esteve mais de três anos a trabalhar no NASA Goddard Space Flight Center, nos Estados Unidos, na equipa do rover Curiosity a operar em Marte.
Presentemente é Cientista Externa Especial da equipa do rover Curiosity e também membro do novo centro de astrobiologia da NASA, criado em 2020 (https://astrobiology.gsfc.nasa.gov/gca.html ) .
Na UA, prossegue a sua investigação envolvendo argilas e aminoácidos, tentando reproduzir os resultados obtidos pelos equipamentos a bordo do rover Curiosity em Marte.
Estes equipamentos de prospeção do Curiosity escavaram argilas numa bacia sedimentar no planeta vermelho, que foram depois aquecidas a altas temperaturas e das quais resultaram algumas moléculas orgânicas simples. Agora, pretende-se perceber que moléculas mais complexas poderão estar na origem destas, através de trabalho laboratorial feito em Terra.
O trabalho laboratorial na UA envolve a análise de argilas similares às escavadas em Marte, mas limpas de qualquer influência orgânica terrestre, que depois são associadas a determinado tipo de aminoácidos e manipuladas com réplicas dos equipamentos instalados a bordo do Curiosity.
Se os resultados obtidos no laboratório coincidirem com os obtidos em Marte pelo Curiosity, tal comprovará a existência de aminoácidos em Marte.
“Seria uma descoberta incrível, já que os aminoácidos são um dos ingredientes principais dos seres vivos; esta descoberta poderá comprovar a hipótese de que terá existido vida em Marte no passado”, afirma Slavka Carvalho Andrejkovičová.
A investigadora considera que os resultados têm sido “muito promissores”.
“Uma das descobertas mais importantes que obtivemos foi a libertação de CO2 , quando estas argilas com aminoácidos preparadas em laboratório foram aquecidas a temperaturas muito semelhantes às medidas pelo Curiosity numa das amostras recolhidas em Marte: fantástico!”, salienta com entusiasmo.
No entanto, sublinha ainda que este é um trabalho moroso e muito delicado, longe, muito longe de um trabalho laboratorial simples, sendo necessárias muitas tentativas para se chegar a conclusões sólidas.
A maior dificuldade está na garantia de que as moléculas orgânicas terrestres não afetam as amostras, não estarão nos instrumentos, nem no restante material usado. Só a passagem por diversos solventes e, no caso das amostras, cerca de cinco semanas de preparação, poderão dar essa garantia.