Cisão no PSD de Ílhavo. Depois do apoio à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa, Eduardo Conde renunciou, agora, ao cargo de membro da Assembleia Municipal de Ílhavo. A próxima sessão, já no início de Novembro, deixa de contar com um dos históricos do partido e que cumpriu mandatos como presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação.
O deputado municipal alega “razões do foro pessoal” mas não esconde desconforto pelo rumo seguido Partido Social Democrata.
“Fiz em cada momento o melhor que sabia e podia sempre em beneficio da causa pública, só que hoje o desencanto, evidente a todos os que comigo se vão cruzando no dia a dia, superou as expectativas que criei quando assumi este mandato na defesa dos valores da social democracia em que acredito e pelos quais pugno”, disse o antigo autarca em nota publicada no facebook.
Eduardo Conde diz que se afasta por sentir que a sua voz não foi ouvida num caminho de abertura do Partido e de aconselhamento junto do Executivo Municipal.
“Não é alheio algum desencanto. A Assembleia serve para acompanhar e fiscalizar a atividade da Câmara mas sempre foi meu entendimento que cada grupo deve estar organizado por atividades temáticas para não chegarmos e emitirmos umas opiniões pessoais de maior ou menor acordo. Educação, ação social e desenvolvimento económico são áreas que requerem que as pessoas se encontrem e tenham opinião própria e sejam mais-valia para a Câmara”.
Tornar o processo de governação mais participado pela bancada do PSD na Assembleia, reduzir o clima de crispação entre maioria e oposição e a criação de novos modelos com apostas diferentes nos campos da educação e da intervenção social são ideias que diz não ter conseguido efetivar (com áudio).
“O desafio no início tinha a ver com dirimir a conflitualidade na Assembleia Municipal. Todos gostamos do concelho. Há um excesso de conflitualidade que não ajuda o concelho. Queremos fazer deste concelho o nosso lugar ao sol. Entendi a presença na política como extensão da atividade cívica. O desafio foi feito e pensei que poderia ser mais-valia. Nesta altura, acho que devo repensar e afastar-me. Não sinto que a minha voz seja mais-valia”.
Pela primeira vez depois da mudança de ciclo com a saída de Ribau Esteves da política ativa do Município, há uma dissidência assumida em público e Eduardo Conde considera que está por fazer o verdadeiro debate interno na vida do Partido Social Democrata. “Mais do que olhar para os adversários temos que olhar para nós. O nosso adversário é o imobilismo ou acomodar-nos. Somos resistentes à mudança”.
A concelhia Social Democrata reserva reações para os próximos dias. Afirma tratar-se de um tema sensível que exige ponderação num “partido de liberdade” onde só está quem quer estar de “forma voluntária”. A poucas semanas de um ato eleitoral para os órgãos da concelhia, é mais um tema que se junta ao processo de elaboração de listas e de programas.