O setor da mobilidade sustentável "está vivo" e pronto para responder aos desafios de futuro.
Num tempo de transição acelerada, em que a mobilidade sustentável deixou de ser apenas tendência para se tornar necessidade estratégica, a cidade de Águeda assumiu-se, a 28 de maio de 2025, como palco central de uma conversa urgente e estruturante sobre o futuro do setor das duas rodas.
A Conferência Internacional “Setor das Duas Rodas na Europa: Presente e Futuro”, promovida pelo BIKiNNOV (Centro de Inovação de Valor para a Bicicleta), em conjunto com a ABIMOTA e a CONEBI, afirmou um setor “vivo, atento e mobilizado”.
Vital Almeida, presidente da ABIMOTA, sublinha a urgência de adaptação num contexto de incerteza global.
“Vivemos num mundo cada vez mais instável. Esta conferência é mais do que uma simples conferência. É uma plataforma de ação.”
O posicionamento de Portugal como um dos principais players europeus no setor das bicicletas foi sublinhado ao longo de todo o dia.
O BIKiNNOV, sediado em Águeda, não é apenas um centro tecnológico.
Assume-se como “reflexo de um ecossistema” que se tem afirmado pela capacidade produtiva, cooperação institucional e ambição empresarial.
Gil Nadais, diretor executivo do BIKiNNOV e secretário-geral da ABIMOTA, destaca esse compromisso.
“Queremos ser um motor de inovação. O BIKiNNOV existe para apoiar empresas portuguesas e internacionais, e ajudar o setor a responder aos desafios tecnológicos com soluções práticas e eficazes.”
Da parte das instituições nacionais, Fernando Alfaiate, presidente da Estrutura de Missão Recuperar Portugal, frisou a importância do PRR como catalisador da inovação.
“O PRR é fundamental para a inovação no setor da mobilidade. E esta transformação só é possível com centros como o BIKiNNOV.”
Já Jorge Brandão, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, enalteceu a relevância estratégica da cidade anfitriã.
“O sucesso da Região Centro está ligado à capacidade produtiva de Águeda e ao trabalho que tem vindo a ser feito neste território.”
A dimensão europeia da conferência esteve presente.
Representantes de países como Alemanha, Itália, Reino Unido e Espanha partilharam diagnósticos, estratégias e visões, mostrando um setor que, embora diverso, enfrenta desafios comuns, da transição energética à digitalização, da regulação técnica à atração de talento.
Manuel Marsilio, diretor da CONEBI, antevê “futuro brilhante” para o setor das duas rodas.
“Sustentabilidade, inovação e representação institucional são as nossas prioridades.”
O Painel Internacional apresentou um retrato abrangente da indústria das duas rodas em várias geografias.
Maximilian Schrapel, investigador da Universidade de Karlsruhe, destacou os avanços tecnológicos em curso.
“Um dos focos principais tem sido a integração do Cruise Control em bicicletas, com o objetivo de tornar a mobilidade mais segura, eficiente e adaptada às exigências do utilizador.”
Daniela Leveratto, da CONEBI, valorizou a ligação entre os desenvolvimentos técnicos e o trabalho de regulação europeia.
“É um processo exigente, mas essencial para garantir um crescimento harmonizado na Europa. Fiquei muito satisfeita ao chegar ao BIKiNNOV e perceber que aqui se acompanha de perto o nosso trabalho — é sinal de que Portugal está verdadeiramente alinhado com a evolução do setor.”
Com um tom mais crítico, Phillip Darnton, presidente da Bicycle Association of Great Britain, lamentou o impacto do Brexit no setor britânico.
“Cometemos um erro ao sair da União Europeia — isso afetou profundamente a nossa capacidade de crescer e coordenar esforços. Estou verdadeiramente impressionado com a dedicação e motivação que Portugal está a demonstrar.”
De Espanha, Jesús Freire Valderrama, da AMBE, apontou sinergias ibéricas promissoras.
“O setor das duas rodas em Portugal é uma verdadeira inspiração para Espanha. A colaboração entre os nossos países pode reforçar a posição do setor a nível europeu.” Piero Nigrelli, da ANCMA (Itália), elogiou a liderança portuguesa.
“A ABIMOTA e o BIKiNNOV estão a fazer um excelente trabalho. É esse tipo de iniciativa que queremos replicar em Itália.”
Por fim, Burkhard Stork, CEO da ZIV (Alemanha), sublinhou a necessidade de uma abordagem sistémica.
“É fundamental compreender que o ciclismo, a indústria do ciclismo e os negócios associados fazem parte de um ecossistema.”
No painel nacional, empresas como SRAMPORT, Triangles, RODI e Polisport partilharam casos concretos de como a proximidade ao BIKiNNOV está a acelerar o desenvolvimento de novos produtos, validar soluções técnicas e qualificar as suas equipas.
Isabel Gomes, da SRAMPORT, destaca a validação de podutos.
“Sempre que há novos desenvolvimentos, o centro está presente para validar os nossos produtos com testes laboratoriais. Inovar é fundamental.”
Pedro Araújo, CEO da Polisport, sintetizou o momento crítico que o setor vive.
“A bicicleta está a competir com outras formas de mobilidade. É com a junção de sinergias, entre empresas, centros tecnológicos e infraestruturas, que conseguiremos vencer essa competição. O BIKiNNOV é o elo que falta para garantir essa vitória.”
Luís Pedro, da Triangles, destacou a proximidade entre parceiros.
“O BIKiNNOV é um parceiro português e próximo com uma elevada capacidade técnica. Acompanhamos quase diariamente o centro.”
Armando Levi, da Rodi, foi claro quanto ao impacto da criação do centro.
“A criação do BIKiNNOV marcou um ponto de viragem no setor.”
Amílcar Ramalho, da Universidade de Coimbra, sintetizou a visão da academia.
“Estamos totalmente disponíveis para desenvolver projetos conjuntos. A ponte entre ciência e indústria é essencial, e o BIKiNNOV é esse ponto de ligação.”
A agenda AM2R, apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência e pelos fundos NextGenerationEU, serviu de pano de fundo para o evento.
Segundo Ana Reis, presidente do comité técnico-científico da AM2R, a criação do BIKiNNOV foi consequência direta da estratégia delineada na AM2R.
“Esta agenda ajudou a estruturar o setor e a orientar o investimento em I&D com resultados visíveis.”
César Coutinho, diretor tecnológico do BIKiNNOV, antecipa novos avanços.
“Estamos cada vez mais preparados para dar resposta aos desafios do setor. Novos equipamentos estão a caminho para reforçar ainda mais a nossa capacidade.”
A jornada culminou com uma visita técnica ao BIKiNNOV, onde os participantes puderam conhecer de perto os projetos, metodologias e tecnologias em curso.
Entretanto, o BIKiNNOV (Bike Value Innovation Center) e o Instituto Politécnico de Tomar (IPT) celebraram, no dia 28 de maio de 2025, um protocolo de cooperação que visa reforçar a articulação entre o ensino, a investigação aplicada e o desenvolvimento tecnológico.
O acordo tem como objetivo promover a aproximação entre o ensino profissional e superior, através de modalidades presenciais e a distância, incentivando o contacto dos alunos com investigação de ponta, atividades em laboratório, oficinas e trabalho de campo, bem como com oportunidades de formação especializada.