"Não tenho dúvidas de que o turismo vai regressar com muita força. As pessoas vão querer sair e vão viajar cada vez mais” - Carlos Costa.

2021-02-26 08:41

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Carlos Costa manifesta preocupação pela forma como o setor do turismo está a ser "omitido" dos planos estruturantes para a retoma.

O Diretor do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro, especialista em turismo, lembra que o setor duplicou o número de hóspedes e de dormidas em Portugal entre 2010 e 219 tornando-se o amortecedor da crise mas não está a ter o tratamento devido nos planos para a retoma como alavanca de crescimento.

Moderador de um webinar sobre turismo industrial, o investigador deixou registada a sua preocupação (com áudio)

Turismo Centro de Portugal e o Turismo de Portugal, integrados no Grupo Dinamizador da Rede Portuguesa de Turismo Industrial, organizaram a 3.ª Webinar "Turismo Industrial em Portugal".

A iniciativa, que decorreu de forma digital, contou com cerca de 600 participantes.

Carlos Costa acentuou a evolução do turismo na década como marca de um país aberto ao mundo.

“Entre 2010 e 2019, o número de hóspedes em Portugal duplicou de 13 milhões para 27 milhões e o número de dormidas de 37 milhões para 70 milhões. As receitas cresceram de 7 mil milhões de euros para 18,4 mil milhões. Foi o turismo que nos tirou da grave crise económica que Portugal estava a passar nessa altura. Veio a pandemia em 2020 e a situação ficou catastrófica. Mas não tenho dúvidas de que o turismo vai regressar com muita força. As pessoas vão querer sair e vão viajar cada vez mais”, frisou.

O objetivo da sessão foi dar a conhecer a oferta de Turismo Industrial, em particular no Centro de Portugal, além de partilhar experiências nacionais e internacionais e estimular o desenvolvimento de programas turísticos passíveis de promoção.A sessão de abertura contou com a participação da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.

Na sua intervenção, a governante destacou “a importância de se colocar o turismo industrial como prioridade”.

“Nós que trabalhamos no turismo acreditamos que esta atividade irá ressurgir, tenhamos nós as condições sanitárias estabilizadas. Mas também sabemos que o perfil do turista e o conceito de viagem serão diferentes. Provavelmente, serão turistas mais preocupados com questões como a sustentabilidade, mais ligados ao digital, que procuram destinos de menor concentração. O turismo industrial é uma resposta a estes desafios”, sublinhou Rita Marques (com áudio).

“Queremos integrar nesta Rede Portuguesa de Turismo Industrial novas experiências, novos players, que possam evidenciar e mostrar processos industriais. O Centro de Portugal tem um grande potencial nesta área, com o vidro e cerâmica, a indústria de lanifícios, a metalomecânica, os plásticos, a indústria das duas rodas ou a indústria da extração mineral”, acrescentou.

Ainda na sessão de abertura, Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, realçou que “a urgência da recuperação económica” é um dos grandes desafios atuais que temos pela frente. Um desafio que é “particularmente decisivo para o Centro de Portugal e para territórios de características idênticas, em que o desafio do crescimento e da coesão estão sempre presentes”.

“O turismo industrial é uma grande resposta ao desafio da diversificação turística e do crescimento”, disse (com áudio).A alemã Christiane Baum, secretária-geral da ERIH - European Route of Industrial Heritage, fez uma apresentação desta associação.

Esta Rota Europeia do Património Industrial é uma rede de informação turística do património industrial da Europa, com mais de 300 membros em 28 países e certificada como “Rota Cultural do Conselho da Europa”.

Nesta altura existem 14 Rotas Temáticas Europeias, que representam ramos da indústria e mostram a variedade e as interligações da história industrial europeia e as suas raízes comuns.

Numa apresentação sobre o Turismo Industrial no seu município, Cidália Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, salientou que “a essência da Marinha Grande nasce do vidro e este nasce das areias que nos rodeiam”.

“Tudo isso fez com que sejamos gente empreendedora a partir da indústria do vidro. Quem nos visita pode observar não só a produção de vidro artesanal como também uma mostra permanente, com artesãos a trabalhar junto do nosso museu. Ver o fabrico do vidro é uma coisa extraordinária que guardamos pela vida fora”, sublinhou.

Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão, abordou o Projeto Rio, que tem como âmbito a reabilitação de um antigo couto mineiro nas Minas da Panasqueira.

“As Minas da Panasqueira são as minas portuguesas mais conhecidas internacionalmente. É um património mineiro com uma riqueza extraordinária e que tem muito a ganhar num projeto colaborativo em rede, como este. Para termos um produto mais capaz de atração a nível do turismo industrial, é necessário ganhar escala e iniciativas como a de hoje são muito importantes para que tal aconteça”, considerou.Outro exemplo de turismo industrial apresentado foi o “New Hand Lab”, antiga fábrica de lanifícios na Covilhã transformada em associação cultural.

O proprietário, Francisco Afonso, e a promotora cultural, Guida Rolo, explicaram que “o projeto agrega uma série de características que o tornam invulgar”.

“O New Hand Lab potencia a interação entre artistas e criadores das mais diversas áreas, promovendo o património e a arte e formando e capacitando os jovens artistas e artesãos”, sublinharam.

Por parte do Turismo de Portugal, a diretora Teresa Ferreira apresentou o Guia de Boas Práticas do Turismo Industrial, que está disponível a partir de hoje no portal do Turismo de Portugal.

Trata-se da “primeira versão” de um guia que pretende juntar de forma transversal todos os parceiros e estabilizar conceitos relacionados com o turismo industrial, identificando o que pode constituir a oferta a este nível.

Já na sessão de encerramento, Pedro Machado elogiou este encontro, que “marca claramente mais uma página nova no Centro de Portugal, em matéria de estruturação de produtos”.

“A primeira prioridade é estruturar o produto e alavancá-lo numa relação interpares com todos os parceiros, nomeadamente a comunidade científica mas também os operadores e as comunidades. É muito importante que as comunidades onde estão exemplos de turismo industrial sintam que há valor acrescentado para elas pelo facto de termos estruturado o produto”.

A finalizar, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, considerou que o turismo industrial “é um tema muito caro ao Turismo de Portugal, porque toca aquilo que nós sempre dissemos: um destino turístico só é sustentável se tiver turismo o ano inteiro, ao longo de todo o território e com capacidade de sinergia com outras áreas, como neste caso a indústria. Assistimos hoje ao que é essencial para o sucesso deste tipo de produtos. Temos aqui uma oportunidade de ouro, os tempos que vivemos provam que o novo turista procura novos mercados, novas experiências e novos interesses e se há lugar ou região em que isto pode acontecer é na região Centro de Portugal”, concluiu.