África…Terra Nova - XCI
Mais uma edição de África…Terra Nova" com o professor António Batel Anjo.
Vacinas para que vos quero!
Covid-19: África planeia uma revolução nas vacinas
Muitos países em África cumpriram com as medidas de prevenção, mas agora não têm como inocular a população.
No meio de um surto alarmante escasseiam as vacinas contra o coronavírus em África. Alguns países africanos planeiam, agora, produzir as próprias vacinas. Será que os projetos têm possibilidade de sucesso?
Neste momento, grande parte do continente africano está a ser assolado pela terceira vaga de infeções de coronavírus. Os especialistas temem que esta pode ser a pandemia mais grave até agora. Isto porque, neste momento, se espalha rapidamente a variante delta do SRA-CoV-2, que é a mais contagiosa e já causou enormes danos. Em África, o mutante depara-se com uma população maioritariamente não vacinada.
De acordo com os Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), pouco mais de 1% das pessoas em todo o continente já foram vacinadas com as duas doses necessárias para a prevenção completa. Cerca de 2,5% receberam a primeira dose. Em comparação, em toda a União Europeia (UE), pelo menos 50% das pessoas já receberam a primeira dose, de acordo com a página online Our World in Data. Um terço está duplamente vacinado.
África "à espera de ser salva por outros”
Esta disparidade no fornecimento de vacinas Covid-19 está a causar frustração e incompreensão a muitos políticos africanos. "O egoísmo neste mundo é mau", disse, na semana passada, o Presidente ugandês Yoweri Museveni, na Cimeira Mundial da Saúde na capital do seu país, Kampala. Dirigindo-se aos seus homólogos africanos, Museveni constatou em tom crítico: "É uma pena que o continente africano esteja a dormir e à espera de ser salvo por outros".
Muitos países africanos querem deixar de ser dependentes da importação de vacinas
Os países africanos dependem quase inteiramente da importação de vacinas da América do Norte, Europa e Ásia. O que não se aplica apenas à luta contra a COVID-19, mas também contra doenças como o sarampo, o tétano e a tuberculose. Só cerca de 1% das vacinas administradas em todo o continente são produzidas em África. Atualmente existem unidades de produção apenas na Tunísia, Argélia, África do Sul e Senegal.
Os responsáveis querem mudar esta situação. Vários países africanos esforçam-se por promover a produção local de vacinas. A União Africana quer produzir 60% das vacinas necessárias em África até 2040m com prioridade para a COVID-19.
Perguntas e respostas
Porque é que demorou este tempo todo até o continente africano começar a fazer esforços concretos no para produzir vacinas em África? A razão básica é que os obstáculos técnicos para a produção de vacinas são muito elevados. Ela exige não só a instalações especializadas e dispendiosas de produção e enchimento, mas também a formação e educação de pessoal qualificado. Mesmo em países altamente industrializados, como os EUA ou a Alemanha, o desenvolvimento e a produção de vacinas têm de ser subsidiados com investimentos públicos avultados.
Muitos governos africanos não podem dar-se a esse luxo. Não é, portanto, coincidência que as poucas instalações de produção existentes em África, tais como os Institutos Pasteur no Senegal, Tunísia, e Argélia, sejam financiadas sobretudo pela cooperação para o desenvolvimento. Projetos na Nigéria ou na Etiópia, que não beneficiam do mesmo tipo de assistência, ainda não conseguiram levar a produção de vacinas à maturidade, apesar de anos de esforço.
O que mudou em consequência da pandemia?
Desde o início da pandemia, mas especialmente desde o início das campanhas de vacinação nos países ricos, o reforço das capacidades de inoculação passou para o topo da agenda de muitos países africanos. Já estão em andamento numerosos projetos, que incluem o estabelecimento dos chamados centros regionais de vacinas, que envolvem vários países.
Estas iniciativas são financiadas e apoiadas pela UE, o Banco Mundial, e outros doadores internacionais. Durante uma visita à África do Sul em maio, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, anunciou uma ajuda de 50 milhões do seu país.
A maioria dos projetos anunciados destina-se à produção ou enchimento regional de vacinas já licenciadas em instalações de produção existentes. Uma vez que, para além das negociações de licenciamento, apenas as linhas de produção têm de ser adaptadas e as matérias-primas adquiridas, estes projetos podem ser realizados com relativa rapidez.
Igualmente complicado e moroso é o financiamento destes projetos. "Neste momento, todos falam em construir fábricas para a produção de vacinas Covid-19. Mas o que acontece depois da Covid?" pergunta Agwale. Segundo o empresário, tem de haver um plano concreto de como, por exemplo, as instalações de produção de mRNA necessárias para as vacinas Covid-19 da BioNTech ou Moderna, podem, mais tarde, ser usadas para outras vacinas. Na África do Sul está a ser construído um centro de transferência de tecnologia para vacinas do mRNA, que só deverá estar operacional no Verão de 2022.
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