A Rede de Intervenção na Violência Doméstica (RIVD) de Sever do Vouga debateu a problemática dos agressores no II Encontro realizado esta semana e que reuniu diferentes especialistas da área. A iniciativa decorreu, no dia 24 de novembro, no Centro das Artes e do Espectáculo de Sever do Vouga.
Depois de, em 2015, ter abordado o tema da violência doméstica e de, no ano passado, ter tratado a violência contra os idosos, a RIVD manteve a aposta na informação aos profissionais, não só da rede, mas todos os que trabalham na área.
“Queremos alertar que é necessário olhar para os agressores de outra forma. A rede, nas suas reuniões alargadas, já lançou o desafio às estruturas locais para que se capacitem no sentido de criar estruturas de apoio também para os agressores”, explica Ilda Martins, assistente social da Câmara Municipal de Sever do Vouga.
Coube ao edil severense, António Coutinho, abrir o encontro, dando as boas-vindas aos participantes e fazendo votos de que o encontro trouxesse contributos para que o Município continue com o seu trabalho de prevenção na comunidade.
Seguiram-se as intervenções dos parceiros da RIVD de Sever do Vouga: o presidente da Cáritas Diocesana de Aveiro, Diácono José Alves, sublinhou a importância do trabalho em equipa, e o Diretor Executivo do ACeS Baixo Vouga, Pedro Almeida, referiu o trabalho feito em prol do bem-estar e qualidade de vida das comunidades. Interveio também o Diretor da Escola Profissional de Aveiro (EPA), Jorge Castro, que alertou para a importância da prevenção através da educação, e dirigindo-se aos alunos da EPA presentes no auditório, acrescentou que se tratava de uma oportunidade para que deitassem por terra alguns adágios populares como “entre marido e mulher, não se mete a colher”.
No primeiro painel, Jorge Fraga, da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, falou sobre a intervenção com agressores e alertou que é preciso vê-los para além dos seus atos.
“São pessoas com dificuldade em comunicar, transmitir o que sentem e afirmarem-se sem recorrer à violência”, disse, dando conta da taxa de sucesso do Programa de Agressores de Violência Doméstica.
Por sua vez, o Procurador Domingos Santos, do Departamento de Investigação e Ação Penal de Aveiro, abordou as medidas judiciais aplicadas aos agressores e recordou que a violência doméstica não se restringe à agressão física, “sendo também exemplos o ciúme, as piadas que ferem, a mentira e os gestos que roubam a paz do outro”.
Já António Medina, da Polícia Judiciária de Aveiro, interveio sobre os homicídios nas relações de intimidade e recordou que a sociedade deve mobilizar-se e denunciar as situações de violência doméstica, uma vez que se trata de um crime público.
Na parte da tarde, Rui Abrunhosa, do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, falou sobre a intervenção com agressores e abordou os psicopatas, um grupo muito reduzido dentro dos agressores.
Seguiu-se Celina Manita, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, que interveio sobre a intervenção psicológica e prevenção da violência doméstica, sublinhando a necessidade de desconstruir mitos, bem como trabalhar com os agressores as emoções, a noção do direito de liberdade do outro, levando os agressores a responsabilizarem-se pelos seus atos e consequências dos mesmos.
Pinto da Costa, Medicina Legal e de Psicologia Judiciária do Departamento de Direito da Universidade Portucalense Infante D. Henrique e Diretor do Centro Médico Legal, encerrou as intervenções. Depois de traçar o perfil dos agressores, deixou a reflexão: “O que podemos fazer de mais útil é obrigar-nos a pensar e a falar sobre existência real da violência doméstica”, concluiu.
Recorde-se que o Município de Sever do Vouga, consciente da gravidade da problemática da violência doméstica, e em colaboração com o Centro de Saúde de Sever do Vouga, criou a Rede de Intervenção na Violência Doméstica (RIVD) de Sever do Vouga, a 25 de novembro de 2013, data que assinala o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Informar e colaborar com as entidades competentes no levantamento das carências e identificação e mobilização dos recursos necessários à promoção dos direitos das vítimas; sensibilizar a comunidade; acompanhar a vítima e desenvolver um plano de segurança de acordo com as suas necessidades, incluindo o acompanhamento psicossocial e psicológico, e ainda colaborar com as entidades competentes no estudo e na elaboração de projetos no domínio da prevenção primária dos fatores de risco, são alguns dos objetivos da rede.
O encontro do próximo ano será sobre “a dinâmica conjugal das relações agressivas”.