Estudo pioneiro diagnostica níveis de competência digital dos docentes portugueses e mostra baixos níveis de proficiência.
O estudo foi solicitado pela Direção-Geral da Educação (DGE) e envolveu 99 760 docentes, o que corresponde a 92 por cento dos docentes portugueses.
Este número “demonstra o interesse e importância que os docentes portugueses atribuíram a esta oportunidade”, refere Margarida Lucas (na foto), investigadora do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF), uma das unidades de investigação da UA.
Os resultados do estudo “apontam para um nível de proficiência médio global correspondente ao nível intermédio B1, que se pode considerar baixo”, aponta Margarida Lucas.
“Cerca de metade dos docentes que participaram no estudo não ultrapassa o nível básico A2 de proficiência em áreas específicas de competência, como a integração de tecnologias para diversificar estratégias de avaliação, promover metodologias ativas de ensino e aprendizagem ou promover a competência digital dos alunos”.
Margarida Lucas aponta que os resultados “estão em linha com resultados apurados noutros países europeus” sendo que, em alguns casos e em relação a áreas específicas de competência, são até melhores.
“Há vários fatores que podem ajudar a explicar os resultados, sendo um deles o facto de termos um corpo docente envelhecido que não foi preparado para esta realidade e que pode não ter optado, ao longo da sua carreira, por investir nesta área”, explica. Por isso, sublinha, “os resultados devem ser encarados de forma positiva, pois significam oportunidades de desenvolvimento e de transformação que se podem concretizar de diferentes formas”.
A participação de 92 por cento dos docentes portugueses só foi possível com o apoio da DGE e dos 91 Centros de Formação de Associação de Escolas (CFAE) portugueses.
A DGE delineou e articulou uma estratégia de comunicação e colaboração com os CFAE para conseguir chamar os docentes a participar. Esta estratégia faz parte do Plano de Capacitação Digital de Docentes, uma das dimensões do Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE), no âmbito do Plano de Ação para a Transição Digital, aprovado pelo Governo em abril de 2020.
Com base nos resultados alcançados foi possível disponibilizar aos docentes um conjunto de oficinas de formação que pretendem responder às necessidades identificadas e aos seus perfis individuais. “É uma iniciativa de grande escala, envolvendo diferentes focos de ação e que, por enquanto, não se encontra a ser desenvolvida em mais nenhum país europeu”, diz a Investigadora.
Para melhorar as competências digitais dos docentes, aponta Margarida Lucas, “é preciso, acima de tudo, que os professores invistam na sua aprendizagem profissional numa perspetiva de constante atualização. É preciso que os docentes se apropriem do digital e percebam o seu potencial para transformar práticas pedagógicas. O grande desafio está nesta transformação”.
É preciso igualmente “que as instituições responsáveis pela formação inicial de docentes incluam esta componente nas suas ofertas formativas de forma transversal e que os docentes dessas instituições sejam, também, digitalmente competentes e sejam, eles próprios, exemplos de inovação e mudança”.
Para além das oficinas de formação disponibilizadas no âmbito do Plano de Capacitação, que iniciou em abril deste ano e durará até julho de 2023, “há outras oportunidades de desenvolvimento que os docentes podem aproveitar e que muitos já aproveitam. Cabe também ao docente ser agente ativo na procura e seleção das modalidades de formação que melhor respondem às suas necessidades de aprendizagem”.