Wagd Ajeeb, Kamar Aljundi e Mohannad Jooriah vieram da Síria para estudar na Universidade de Aveiro (UA). Chegaram há três semanas e para trás deixaram um cenário fratricida que, entre visões inenarráveis de medo e de morte, quase lhes matava o sonho de completarem os estudos. Recebidos no âmbito da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios (PGAAEES), os três estudantes juntaram-se aos quatro jovens compatriotas que, desde 2014, a academia já acolheu. Recebidos de braços abertos pela UA, aqui poderão concretizar todos os sonhos que trouxeram na bagagem.
Concebida pelo antigo Presidente da República Jorge Sampaio, a PGAAEES é um programa de bolsas de estudo de emergência para o Ensino Superior, por forma a permitir que os jovens sírios apanhados pela guerra possam concluir a sua formação académica e assim preparar a geração futura a quem caberá reconstruir o país.
Desde 2014, e tendo como parceiros a Liga Árabe, o Conselho da Europa, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, o Instituto Norte-Americano para a Educação Internacional, vários governos nacionais e um painel de personalidades que funcionam como embaixadores da iniciativa, a Plataforma já entregou bolsas a centenas de estudantes sírios que estão atualmente a estudar em várias universidades nacionais. A UA abriu-lhes os braços desde a primeira hora.
Na Síria deixaram a família, os amigos e os estudos interrompidos abruptamente. Na bagagem trouxeram os sonhos e uma vontade férrea de estudar para vencerem. Como exemplo mais próximo, o percurso exemplar dos quatro estudantes sírios já acolhidos pela UA e que lhes dizem que sim, que a língua portuguesa não é assim tão difícil de ser aprendida em pouco tempo, que o ambiente da academia é perfeito a integrar e que o sucesso académico está ‘apenas’ ao alcance da força de vontade.
Tem 26 anos, é natural da cidade de Hama e estava a estudar Engenharia Mecânica na Tishreen university. “Decidi vir para a UA para completar os meus estudos em condições mais favoráveis”, conta Wagd Ajeeb, o mais recente estudante de Doutoramento em Sistemas Energéticos e Alterações Climáticas da academia de Aveiro.
Para Aveiro, Wagd Ajeeb trouxe da Síria um sonho: “Completar os meus estudos e encontrar um bom trabalho”.
Kamar Aljundi, natural da cidade de Salamiah, estudava Engenharia Civil na Damascus University. Tem 25 anos e chegou à UA para continuar os estudos na mesma área.
“Deixei a Síria para vir para a UA porque quero muito completar a minha graduação em Engenharia Civil e melhorar as minhas habilitações e competências nessa área para que possa trabalhar em qualquer parte do mundo, tornar-me num bom profissional e ajudar a minha família e o meu país”, conta o estudante. Para o futuro, Kamar Aljundi anseia por um dia poder ajudar o seu país a ultrapassar esta crise. A chave para tal passa por alcançar sucesso na sua área de forma a que possa “trabalhar com empresas reputadas que possam investir em projetos de construção na Síria”.
Três semanas em Portugal, e em particular na UA, foram já suficientes para Kamar Aljundi se encantar. “Não imaginava que os portugueses fossem tão hospitaleiros e que Portugal tivesse tanto charme”, reconhece.
Mohannad Jooriah veio para a UA estudar Engenharia Electrónica e Telecomunicações. Para trás deixou a Damascus University e o 5.º ano daquele curso. Na academia de Aveiro quer não só concluir o mestrado mas também o doutoramento. “Aqui tenho uma grande oportunidade de ter uma educação melhor de forma a alcançar os meus objetivos”, diz.
Dos dias passados na UA, Mohannad Jooriah não tem dúvidas: “Professores, estudantes e todos os funcionários desta universidade são muito simpáticos e estão-me a ajudar a ultrapassar rapidamente as minhas dificuldades”.
“A UA e a sua comunidade não podiam ficar alheias a esta iniciativa de cariz humanitário promovida pelo Dr. Jorge Sampaio, tão meritória e urgente, em particular por se tratar de garantir aos jovens sírios atingidos pela grave situação do seu país o acesso ao ensino superior e o convívio fraterno com uma comunidade internacional de quase 80 nacionalidades, que lhes permita continuar a sonhar e a construir, com dedicação e empenho exigentes, um futuro otimista”, afirmou Manuel António Assunção, Reitor da Universidade de Aveiro, na hora de receber, no início de 2014, os primeiros estudantes.
O acolhimento dos jovens estudantes sírios constitui, acrescentou o responsável pela academia, “uma oportunidade para nós e para Aveiro, na medida em que podemos compreender melhor outra cultura e, de forma ativa, participar na construção de pontes para um mundo melhor”.