Já estudou grilos na Finlândia, macacos-barrigudos na Amazónia, golfinhos no Rio de Janeiro e baleias no Atlântico. Chama-se Bárbara Cartagena Matos, é estudante de Biologia da Universidade de Aveiro (UA) e mal pode esperar por 2016 para embarcar rumo ao Alasca pela mão da Bolsa Fulbright que recentemente conquistou. Financiada pelo Estado norte-americano, a Bárbara vai estudar os hábitos alimentares das lontras-marinhas na zona de Sitka. De abril a setembro do próximo ano a bióloga estará no mais “maravilhoso e único laboratório natural" que o planeta tem à disposição dos cientistas na Natureza.
“As minhas experiências anteriores confirmam a minha capacidade e vontade de trabalhar com pessoas de diferentes culturas, e também de viver em áreas remotas”, aponta Bárbara Cartagena. Por isso, a estudante, a concluir o Mestrado em Ecologia Aplicada, acredita que o próximo passo para a sua carreira como bióloga de campo passe por trabalhar nos Estados Unidos, nomeadamente, no estado do Alasca, onde vai poder aprofundar o conhecimento na área de Ecologia Comportamental. “As aulas teóricas do mestrado em Ecologia Aplicada permitiram-me estabelecer boas bases para a tese que se segue em Ecologia Comportamental e, o facto de estar sob a orientação da Professora Heidi C. Pearson da University of Alaska Southeast [instituição de acolhimento da bolseira] e co-orientação do Professor Carlos Fonseca incrementa as minhas expectativas neste processo da tese e na análise dos dados”, explica a estudante.
As lontras-marinhas alimentam-se de pequenos invertebrados, como por exemplo, ouriços-do-mar e, como tal, controlam a sua abundância. Caso contrário, estes pequenos organismos poderiam dizimar as florestas de kelp, densos aglomerados de algas que crescem debaixo de água e providenciam alimento e abrigo para uma variedade enorme de animais. Por causa do impacto que têm nos ecossistemas em que vivem, as lontras-marinhas são consideradas ‘espécies-chave’.
“Eu irei tentar descobrir se as lontras selecionam as suas presas de acordo com o seu conteúdo nutricional e se isto varia com a idade e sexo dos indivíduos. Este é um conceito importante a ser compreendido para determinar a viabilidade de uma população e até como uma espécie responde a mudanças no ecossistema”, explica Bárbara Cartagena.
Trabalhar no Alasca é um sonho tornado realidade? “Viver e trabalhar com mamíferos no Alasca era a minha cereja em cima do bolo e não pensava atingir este patamar tão cedo. Mas achei que estava pronta e decidi arriscar”, congratula-se.
Já há algum tempo que a Bárbara pesquisava sobre as bolsas existentes em Portugal para estudar nos Estados Unidos e a Fulbright foi o “encaixe perfeito”. “Os seus ideais conjugam-se com os meus ao privilegiarem a comunicação entre diferentes culturas, partilhando experiências e galardoando pesquisas de interesse internacional”, lembra. Como a candidatura exigia um projeto já formulado, a Bárbara decidiu contatar a investigadora Heidi C. Pearson que segue a mesma linha de pesquisa da estudante da UA e que se prontificou a orientá-la. Assim, depois de elaborado o projeto, candidatou-se à bolsa de investigação Fulbright. “Após um rigoroso processo de seleção, posso dizer, com muito orgulho, que sou uma Fulbrighter pronta para viver no Alasca no meio de ursos e montanhas, e claro, lontras! Não podia estar mais feliz”.
A Bárbara cresceu a observar as maravilhas da Natureza através dos documentários que passavam na televisão, hábito “que influenciou a escolha de uma carreira em Biologia”. “Logo após o meu ingresso na UA senti-me cativada com todo o ambiente que envolve a Ciência, mais especificamente a área que diz respeito ao comportamento animal”, lembra a estudante. Desde então, a crescente curiosidade e espírito aventureiro têm comandado as suas escolhas de vida e também profissionais. “Durante a licenciatura, tive oportunidade de estudar e viver na Finlândia, durante 6 meses ao abrigo do programa ERASMUS, onde também participei como voluntária num projeto que pretendia estudar o comportamento de grilos. Como pesquisa de final de curso estudei a área de uso, dieta e comportamento social de macacos-barrigudos, pelo período de 7 meses na Amazónia”, recorda. Esta pesquisa levou mesmo à escrita e posterior publicação do seu primeiro artigo científico. No final da licenciatura a Bárbara achou que seria uma mais-valia, a pensar no seu interesse relacionado com o comportamento animal, estudar o comportamento de mamíferos marinhos. Realizou, então, um estágio de 6 meses, no Instituto Boto Cinza, localizado no Rio de Janeiro. “Durante este período, estudei o comportamento e acústica dos botos-cinza [uma espécie de golfinho da América latina] entre outras atividades em que participei de incentivo à educação ambiental. Durante este estágio estabeleci contatos que me levaram a fazer um voluntariado, desta vez em Portugal, no CIIMAR [Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental]”. Assim, durante um mês, monitorizou baleias e golfinhos, a bordo de um navio de carga realizando rotas entre Portugal Continental e a Ilha da Madeira. Atualmente, prepara-se para voltar a participar neste projeto, por 40 dias, desta vez rumo a Cabo Verde.
A Bárbara Cartagena é um dos dez cientistas portugueses que, durante o ano letivo 2015/2016, vão ser financiados pelo Estado norte-americano para prosseguir os seus projetos de investigação nalgumas das mais prestigiadas universidades e centros de investigação dos Estados Unidos, ao abrigo do programa de bolsas atribuídas anualmente pela Comissão Fulbright.
No valor máximo de 8 mil euros e com uma duração que pode ir de quatro a nove meses, as bolsas destinam-se a investigadores de todas as áreas do conhecimento, desde que sejam licenciados, tenham bons conhecimentos de inglês e um projeto aceite por parte da instituição de acolhimento.